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Grandes clientes da Cisco são investigados
Receita e PF convocarão compradores para avaliar se são "cúmplices" ou "beneficiários" da suposta fraude em importações
Entre as empresas a serem ouvidas, estão IBM e Promon, que negam qualquer envolvimento, e CPM Braxis, que não quis se pronunciar
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal e a Polícia
Federal vão chamar os principais clientes da Cisco no Brasil
para saber se estavam cientes
de que a empresa importava
produtos de forma irregular,
como revelou suposto esquema
identificado na Operação Persona para combater sonegação
fiscal no setor de TI (tecnologia
da informação). IBM, Promon
e CPM Braxis são alguns dos
clientes que devem ser ouvidos,
segundo a Folha apurou.
Com base em documentos
apreendidos a partir de 93
mandados de busca e apreensão nos Estados de São Paulo,
Rio de Janeiro e Bahia, auditores fiscais envolvidos na investigação querem saber se os
grandes clientes da Cisco são
"cúmplices" ou "simplesmente
beneficiários" dessa suposta
fraude, que teria resultado numa economia de impostos de
R$ 1,5 bilhão em cinco anos.
A lista de grandes clientes da
Cisco já está em poder de auditores fiscais. A Receita quer verificar se esses clientes podem
ser apontados como responsáveis solidários. Se eles também
são devedores do fisco, assim
como seriam a Cisco e a sua
distribuidora no país, a Mude.
"Todas as empresas que se
utilizaram de importação no
esquema evidenciado na Operação Persona terão seus processos de importação revistos
pela Receita e serão autuadas,
se ficar constatada a omissão
no pagamento de tributos", informou a Receita à Folha.
Pedidos de representação
fiscal para fins penais também
podem ser enviados ao Ministério Público Federal, segundo
informa ainda a Receita. "Se as
empresas se anteciparem e pagarem os tributos devidos antes do início do procedimento
fiscal, estarão livres da multa
de 150% sobre a dívida."
Relatório do fisco paulista
concluído há cerca de dois anos
e enviado à Receita Federal já
mostrava que clientes da Cisco
negociavam diretamente com a
Mude, responsável na operação por emitir as notas fiscais.
Com a suspeita de fraude nas
negociações -entre a Mude e a
Cisco- e nas importações, fiscais já consideravam a possibilidade de clientes da Cisco darem explicações ao fisco por serem considerados responsáveis solidários em suposta prática para não pagar impostos.
Responsáveis solidários são
aqueles que são responsabilizados com o contribuinte que
está sendo investigado, apesar
de não serem eles obrigados,
como regra, ao pagamento de
impostos. Em outras palavras:
ficam na mira do fisco, assim
como a empresa que está sendo
investigada.
No relatório do fisco paulista
encaminhado à Receita, a IBM,
parceira da Cisco, teria adquirido produtos da Mude. Chamou
a atenção dos fiscais, na ocasião, o fato de que a IBM não
mencionava o nome da Mude
como parceira em seu site -o
nome citado era só o da Cisco.
Os fiscais suspeitavam que o
nome da Mude era ocultado no
site da IBM e no da Cisco.
A IBM informa que, "como
os fatos estão sob investigação
e a IBM não está envolvida, a
empresa não tem nenhum pronunciamento a fazer". A Cisco
afirma que não comercializa
seus produtos no país e que a
venda é feita por meio de sua
distribuidora, a Mude.
Notas fiscais
Após a Receita receber as informações do fisco paulista, as
investigações avançaram. Os
auditores identificaram que
outras clientes da Cisco, como a
Promon e a CPM Braxis, também negociavam compra de
itens da Cisco e recebiam notas
fiscais emitidas pela Mude.
A Promon informa que não
"foi procurada pelas autoridades competentes e que não tem
nenhum envolvimento [com a
Operação Persona]". A CPM
Braxis não respondeu ao pedido para comentar o assunto.
IBM, Promon e CPM Braxis
são empresas chamadas de "integradoras" -integram (adaptam) os produtos da Cisco e de
outras fabricantes para as redes
de comunicação de seus clientes (bancos, empresas privadas
e órgãos do governo). Oferecem
serviços que vão desde projetos
até assistência técnica.
"Os vendedores são da Cisco,
os descontos são da Cisco, mas
quem passa a nota é uma distribuidora que se abastecia de
uma empresa de fachada", diz
um funcionário do alto escalão
da Receita Federal que está envolvido nas investigações.
O que os clientes terão de
responder ao fisco: 1) eles sabiam que a Mude era abastecida por importadoras "laranjas"?; 2) tinham conhecimento
de quem era o avalista da importação?; 3) sabiam que o produto era subfaturado?; 4) como
era paga a diferença para a Cisco ou para a Mude?; e 5) por que
os clientes, principalmente os
que têm matriz nos EUA, não
faziam negócios diretamente
com a Cisco norte-americana?
Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal, diz que
os clientes "importantes" da
Cisco têm de ser investigados.
"A PF tem de analisar todo o
material apreendido e verificar
se há provas de interposição
fraudulenta [quando uma empresa usa outras para ocultar
seu nome em transações de importação que têm como objetivo reduzir ou escapar do pagamento de impostos]", afirma.
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