São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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BNDES planeja financiar álcool na África

Projeto é para financiamento de exportação de tecnologia de usinas e faz parte da campanha para tornar produto uma commodity

Para economista do BNDES, Europa tem que financiar a infra-estrutura necessária para criar um mercado de álcool nos países da África

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) faz planos para financiar exportações de tecnologia de usinas de álcool para a África.
O economista Antonio Barros de Castro, assessor especial do banco, viajou na semana passada para proferir uma palestra em evento da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) sobre cooperação para o desenvolvimento africano.
A exportação de tecnologia de usinas de álcool para a África é estratégica para o Brasil. O país está em campanha para tornar o produto uma commodity, com negociação padronizada, e a África tem condições climáticas favoráveis para o plantio da cana-de-açúcar.
"Se há uma coisa que interessa ao Brasil nesse campo, é a formação de um mercado internacional de álcool, porque o mundo está enfática e até histericamente consciente do problema da segurança [no suprimento de energia]."
"Raramente um país tem chance de se afirmar no cenário internacional defendendo o seu próprio interesse e legitimamente discursando a favor dos outros também."
Na avaliação do economista, o Brasil está disputando que o álcool represente de 7% a 10% dos combustíveis para veículos leves no mundo. Segundo ele, o cenário não o é de um "mundo do álcool", mas a conquista de mercado abre espaço para que o país invista em outros produtos, como biorrefinarias e fármacos. "A revolução industrial dos bioprodutos levaria o país a outro patamar."
O interesse do BNDES é financiar a exportação de tecnologia, equipamentos e produtos para países africanos. A aproximação começou com um conjunto de financiamentos de US$ 750 milhões em exportações para Angola.
Países como Moçambique, África do Sul, Benin e Zimbábue entraram em contato com o banco interessados em álcool e no financiamento de exportações. "Estamos criando uma nova demanda", declarou.
Os problemas para a viabilidade do projeto incluem a criação de um mercado na África. Ao contrário do Brasil, que tem bombas de álcool em 95% dos postos, a distribuição do produto ainda é um entrave no continente africano.
Na palestra na OCDE, Castro defendeu que a Europa se encarregue de financiar a infra-estrutura. Cálculos do banco sobre a viabilidade do álcool na África estimam que, com 100 milhões de toneladas de cana, 1,7 milhão de hectares e de 40 a 50 destilarias, é possível gerar 8,5 bilhões de litros, 260 mil empregos diretos e indiretos e uma renda de US$ 5 bilhões.
Os investimentos necessários são da ordem de US$ 150 milhões por refinaria. "O que eles propõem para a África melhor do que isso?", disse.
Ele contestou as críticas de que o investimento em álcool se traduziria em pressão sobre os preços dos alimentos. Castro comparou a situação de Ohio, nos EUA, com a de Angola.
"Em Ohio, quando se produz mais milho para o álcool, está se subtraindo milho de outros usos porque se utilizam basicamente as mesmas terras e mão-de-obra. Em Angola, existem 88 milhões de hectares aráveis, mas apenas 3,6 milhões de hectares são usados, além de existir um exército de desocupados gigantesco. Chega a ser um escárnio dizer que Angola poderia ter problema semelhante."
Ele ressalta ainda o fator China como um dos responsáveis pela alta dos alimentos, com um aumento histórico do consumo de massa.


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