São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Recuperadas, teles via satélite disputam mercado brasileiro

Iridium e Globalstar, que quase quebraram nos anos 90, lutam para conquistar usuários como petrolíferas e mineradoras

Além de focar em telefonia para áreas remotas, elas passaram a oferecer acesso à internet em alta velocidade e transmissão de dados

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

As companhias Iridium e Globalstar, ambas de origem norte-americana, entraram para a história, no final da década passada, como o maior desastre registrado no setor de telecomunicações. As duas empresas deram a volta por cima e agora voltam a se enfrentar, no Brasil, na disputa pelos usuários de telecomunicações via satélite: companhias pesqueiras, petrolíferas, mineradoras, Ministério da Defesa, aviação civil e agronegócio.
A Iridium anunciou neste mês a sua reentrada no mercado brasileiro, em parceria com a Tesacom, empresa argentina, com atuação no Chile, no Paraguai, no Peru e no Uruguai.
E chegou cutucando a Globalstar, única fornecedora de telefonia móvel via satélite no país até então. Anunciou que pagará R$ 1.000 por telefone aos clientes da Globalstar que quiserem trocar de operadora. ""A competição vai esquentar", afirmou o presidente da Globalstar do Brasil, Fernando Ceylão Filho.
Para o presidente da Tesacom, Jose Sanchez Elia, a extensão territorial e a existência de riqueza em áreas remotas -onde não chega a telefonia convencional fixa ou móvel- fazem do Brasil um dos melhores mercados do mundo para a venda de serviços de telecomunicações via satélite.

Passado turbulento
Iridium e Globalstar são redes de satélites de baixa altitude, projetadas nos anos 80, para oferecer o telefone global, sem fio, capaz de funcionar tanto nas cidades quanto nos lugares mais remotos do planeta. Consumiram bilhões de dólares em investimentos e foram atropelados pela explosão dos telefones celulares, no final dos anos 90.
Criado pela Motorola, a Iridium tem 66 satélites e custou US$ 5 bilhões. Foi inaugurada em 1997 e dois anos depois entrou em concordata nos Estados Unidos. A Motorola cogitou destruir, um por um, todos os satélites, para evitar que provocassem acidentes no espaço. Mas a Justiça norte-americana decidiu vendê-los a quem se comprometesse a manter o serviço. Um grupo de investidores pessoas físicas comprou os satélites (sem as dívidas) por US$ 25 milhões.

Efeitos no Brasil
A crise da Iridium deixou seqüelas no Brasil, que era a base das operações para a América do Sul. Para Cleofas Uchoa, ex-presidente da Iridium Sudamerica, o projeto naufragou nos anos 90 porque chegou tarde no tempo. Ele foi projetado nos anos 80, quando não existia o celular, mas a produção e lançamento dos satélites levaram mais de dez anos para serem completadas, afirmou o executivo.
O mesmo aconteceu à Globalstar, rede de 48 satélites criada pela indústria de satélites norte-americana Loral, ao custo de US$ 3 bilhões.
Assim como a Iridium, a Globalstar entrou em concordata logo após a inauguração, em 1999, e também foi adquirida por um grupo de investidores.
Segundo Ceylão Filho, quando a Iridium parou suas atividades no Brasil, em 2001, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) patrocinou um acordo entre as duas empresas, para que os clientes da Iridium migrassem para a Globalstar.

Novo perfil
As companhias mudaram o foco de atuação, depois que as operadoras de telefonia celular ofereceram atendimento internacional e ampliaram a cobertura no interior.
O alvo migrou para as empresas baseadas em áreas remotas, não atendidas pelos sistemas de telecomunicações convencionais. Além de telefonia, elas passaram a oferecer acesso à internet em alta velocidade e transmissão de dados.
""Enquanto as companhias telefônicas caçam patos na lagoa, caçamos lebres nas florestas. Não adianta querermos competir com as teles", afirma o presidente da Tesacom, Jose Elia.
As empresas têm hoje cerca de 200 mil assinantes, cada uma, em nível mundial. De acordo com o vice-presidente da Iridium para as Américas, John O"Brien, a companhia alcançou 203 mil assinantes em julho último e é lucrativa desde 2004.

Investimento
As duas concorrentes já encomendaram novos satélites que substituirão os atuais, quando eles chegarem ao final da vida útil. Segundo O'Brien, a substituição dos satélites começa em 2013 e custará entre US$ 1,8 bilhão e US$ 2,5 bilhões. O custo da renovação dos satélites da Globalstar é calculado em 900 milhões.
De acordo com o presidente da Globalstar no Brasil, existem quatro sistemas de telecomunicações via satélite no mundo. Somente a Globalstar e a Iridium oferecem telefonia móvel e há diferenças entre esses dois sistemas. A Iridium tem cobertura em qualquer ponto do planeta, enquanto a Globalstar tem área de cobertura, no Brasil, limitada a até 500 milhas da costa.
Há ainda o sistema Inmarsat (que ainda não oferece telefone móvel no Brasil) e o Orbcomm, que é exclusivo para transmissão de dados.


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