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Recuperadas, teles via satélite disputam mercado brasileiro
Iridium e Globalstar, que quase quebraram nos anos 90, lutam
para conquistar usuários como petrolíferas e mineradoras
Além de focar em telefonia
para áreas remotas, elas
passaram a oferecer acesso à
internet em alta velocidade
e transmissão de dados
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
As companhias Iridium e
Globalstar, ambas de origem
norte-americana, entraram para a história, no final da década
passada, como o maior desastre
registrado no setor de telecomunicações. As duas empresas
deram a volta por cima e agora
voltam a se enfrentar, no Brasil,
na disputa pelos usuários de telecomunicações via satélite:
companhias pesqueiras, petrolíferas, mineradoras, Ministério da Defesa, aviação civil e
agronegócio.
A Iridium anunciou neste
mês a sua reentrada no mercado brasileiro, em parceria com
a Tesacom, empresa argentina,
com atuação no Chile, no Paraguai, no Peru e no Uruguai.
E chegou cutucando a Globalstar, única fornecedora de
telefonia móvel via satélite no
país até então. Anunciou que
pagará R$ 1.000 por telefone
aos clientes da Globalstar que
quiserem trocar de operadora.
""A competição vai esquentar",
afirmou o presidente da Globalstar do Brasil, Fernando
Ceylão Filho.
Para o presidente da Tesacom, Jose Sanchez Elia, a extensão territorial e a existência
de riqueza em áreas remotas
-onde não chega a telefonia
convencional fixa ou móvel-
fazem do Brasil um dos melhores mercados do mundo para a
venda de serviços de telecomunicações via satélite.
Passado turbulento
Iridium e Globalstar são redes de satélites de baixa altitude, projetadas nos anos 80, para oferecer o telefone global,
sem fio, capaz de funcionar tanto nas cidades quanto nos lugares mais remotos do planeta.
Consumiram bilhões de dólares em investimentos e foram
atropelados pela explosão dos
telefones celulares, no final dos
anos 90.
Criado pela Motorola, a Iridium tem 66 satélites e custou
US$ 5 bilhões. Foi inaugurada
em 1997 e dois anos depois entrou em concordata nos Estados Unidos. A Motorola cogitou
destruir, um por um, todos os
satélites, para evitar que provocassem acidentes no espaço.
Mas a Justiça norte-americana
decidiu vendê-los a quem se
comprometesse a manter o serviço. Um grupo de investidores
pessoas físicas comprou os satélites (sem as dívidas) por US$
25 milhões.
Efeitos no Brasil
A crise da Iridium deixou seqüelas no Brasil, que era a base
das operações para a América
do Sul. Para Cleofas Uchoa, ex-presidente da Iridium Sudamerica, o projeto naufragou nos
anos 90 porque chegou tarde
no tempo. Ele foi projetado nos
anos 80, quando não existia o
celular, mas a produção e lançamento dos satélites levaram
mais de dez anos para serem
completadas, afirmou o executivo.
O mesmo aconteceu à Globalstar, rede de 48 satélites
criada pela indústria de satélites norte-americana Loral, ao
custo de US$ 3 bilhões.
Assim como a Iridium, a Globalstar entrou em concordata
logo após a inauguração, em
1999, e também foi adquirida
por um grupo de investidores.
Segundo Ceylão Filho, quando a Iridium parou suas atividades no Brasil, em 2001, a
Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) patrocinou
um acordo entre as duas empresas, para que os clientes da
Iridium migrassem para a Globalstar.
Novo perfil
As companhias mudaram o
foco de atuação, depois que as
operadoras de telefonia celular
ofereceram atendimento internacional e ampliaram a cobertura no interior.
O alvo migrou para as empresas baseadas em áreas remotas,
não atendidas pelos sistemas
de telecomunicações convencionais. Além de telefonia, elas
passaram a oferecer acesso à
internet em alta velocidade e
transmissão de dados.
""Enquanto as companhias
telefônicas caçam patos na lagoa, caçamos lebres nas florestas. Não adianta querermos
competir com as teles", afirma
o presidente da Tesacom, Jose
Elia.
As empresas têm hoje cerca
de 200 mil assinantes, cada
uma, em nível mundial. De
acordo com o vice-presidente
da Iridium para as Américas,
John O"Brien, a companhia alcançou 203 mil assinantes em
julho último e é lucrativa desde
2004.
Investimento
As duas concorrentes já encomendaram novos satélites
que substituirão os atuais,
quando eles chegarem ao final
da vida útil. Segundo O'Brien, a
substituição dos satélites começa em 2013 e custará entre
US$ 1,8 bilhão e US$ 2,5 bilhões. O custo da renovação dos
satélites da Globalstar é calculado em 900 milhões.
De acordo com o presidente
da Globalstar no Brasil, existem quatro sistemas de telecomunicações via satélite no
mundo. Somente a Globalstar e
a Iridium oferecem telefonia
móvel e há diferenças entre esses dois sistemas. A Iridium
tem cobertura em qualquer
ponto do planeta, enquanto a
Globalstar tem área de cobertura, no Brasil, limitada a até
500 milhas da costa.
Há ainda o sistema Inmarsat
(que ainda não oferece telefone
móvel no Brasil) e o Orbcomm,
que é exclusivo para transmissão de dados.
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