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Lula pede, mas banco não eleva crédito
Presidente liga a banqueiros e ouve que momento é de erguer "muro de liquidez" contra crise financeira global
Bancos aumentam sua capitalização também de olho em possíveis aquisições e investem em papéis do governo atraídos por juro
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com grandes banqueiros na semana passada para pressioná-los a abrir
as torneiras do crédito. Ouviu
respostas desanimadoras.
Segundo a Folha apurou, os
grandes bancos disseram que a
prioridade, no momento, é
construir um "muro de liquidez" -ação preventiva e de sobrevivência no médio e longo
prazo em relação à crise econômica mundial, que estrangula o
crédito e as empresas.
Lula ficou contrariado, segundo relato de integrantes da
equipe econômica. Os grandes
bancos aumentaram muito o
grau de seletividade para concessão de crédito. A maior parte do dinheiro que entra via redução do compulsório após
medidas do Banco Central não
retorna ao mercado sob a forma de empréstimo.
Receosos em emprestar e
preocupados em manter sua
solidez num momento de grandes incertezas, os grandes bancos seguram em caixa os recursos e aplicam nos títulos do
próprio governo, atraídos por
uma taxa básica de juros (Selic)
de 13,75% ao ano.
A Folha apurou ainda que os
maiores bancos privados do
Brasil têm também procurado
se capitalizar para, caso apareça uma oportunidade de compra estratégica de carteiras ou
de instituição, terem recursos
em caixa para a operação.
Ou seja, a liberação condicionada de estimados R$ 50 bilhões do compulsório (parcela
dos depósitos que os bancos
são obrigados a recolher no
BC), deixando mais recursos livres para empréstimos, tem tido pouco efeito prático.
Os bancos acreditam que
neste momento de incerteza o
mais importante é manter o
caixa reforçado e não comprar
carteiras de crédito de instituições menores, que têm pouca
liquidez.
Na semana passada, Lula enviou alguns emissários para
conversas com empresários e
banqueiros. O presidente tem
ouvido opiniões de fora da
equipe econômica tradicional
-Fazenda, Planejamento e BC.
Esses emissários detectaram
um pessimismo maior do que
Lula imaginava. Os contatos diretos do presidente com banqueiros receosos reforçaram a
percepção do presidente de
que o efeito sobre o Brasil será
maior do que a "marola" prevista por ele anteriormente.
Para complicar, há a divisão
na equipe econômica e no próprio BC (Banco Central) em relação à taxa de juros. O presidente do BC, Henrique Meirelles, está no grupo mais ortodoxo. Ou seja, o que cogita até elevar juros para combater eventual efeito inflacionário em razão da alta do dólar.
Os críticos do presidente do
BC afirmam que é hora de seguir o movimento dos outros
bancos centrais, que reduziram
juros para tentar aquecer a
economia. O argumento é o seguinte: com os juros tão altos,
os bancos vão continuar a preferir a segurança dos títulos do
Tesouro do que a concessão de
crédito. Seria hora de priorizar
o crescimento e não a inflação,
apesar de a função oficial do BC
ser buscar a meta de inflação.
Essa debate reforça, na avaliação do Planalto, o cenário no
qual o BC deverá manter inalterada a Selic na reunião desta
semana.
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