São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008

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Crédito segue escasso, diz Mantega

Ele diz que financiamento não deve voltar a níveis anteriores e que medidas levam tempo para surtir efeito

Ministro diz que acordo para rombo na Aracruz está próximo, mas que governo não socorrerá empresas que fizeram apostas de alto risco

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo com o esforço do governo federal em abrir as torneiras do compulsório, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem em São Paulo que o sistema de crédito ainda não foi normalizado na economia brasileira.
Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirellles, se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem pela manhã em São Paulo para darem um panorama da crise no Brasil e no mundo, como a dificuldade de fluidez do crédito no país e a situação da economia internacional.
Mantega afirmou que há problemas na concessão de crédito a exportadores, para financiar capital de giro de empresas, no setor agrícola e para o consumo de bens duráveis e imóveis. O ministro da Fazenda disse que a situação é preocupante, mas em seguida afirmou que o Banco Central tem adotado medidas de flexibilização do compulsório para "irrigar" o mercado de crédito.
"O impacto [da crise internacional] sobre Brasil continua o mesmo. Temos uma escassez de crédito para operações de ACC [Adiantamento de Contrato de Câmbio]", disse o ministro após o encontro.
Somadas as medidas, Mantega disse que o afrouxamento do compulsório já colocou no mercado R$ 50 bilhões. Ele afirmou que, se isso ainda não ajudou a destravar o crédito, a justificativa está no fato de que algumas decisões "demoram um pouco" para surtir efeito.
Sobre o crédito aos consumidores, o ministro da Fazenda afirmou que o "travamento" inicial já foi atacado. "Houve uma redução momentânea do crédito, o que está sendo sanado pelo governo. Sabemos que houve uma redução drástica, um travamento, mas há uma recomposição desse crédito. Os bancos estão operando com 70% a 80% dos créditos de que dispunham antes", afirmou o ministro.
Ele lembrou que a oferta de financiamentos havia se expandido com força nos últimos anos e que o sistema não retornará àqueles patamares. "O crédito tinha crescido de forma grande, então havia uma gordura. A tendência é a da recomposição [do crédito] para o setor agrícola, imobiliário, para capital de giro e ACCs", disse.

Socorro a empresas
Mantega negou ontem que o governo tenha algum plano para ajudar empresas como Aracruz, Sadia e Votorantim, que anunciaram prejuízos com operações cambiais de alto risco. Ele voltou a criticar as empresas por terem "ousado no mercado financeiro" e que todas vão arcar com os prejuízos.
Sobre a Aracruz, o ministro disse que uma solução para o caso da papeleira deve ser anunciado nos próximos dias.
Dito isso, o ministro afirmou que o governo tem a preocupação de garantir o fluxo de financiamento para que essas empresas tenham acesso a capital necessário à liquidação dessas operações. "O governo tem a obrigação de dar crédito e liquidez a valores de mercado. Não haverá nenhum subsídio, não haverá nenhum concessão especial. Nós não vamos absorver nenhum prejuízo dessas empresas", afirmou.
Mantega disse que o governo ainda não sabe o tamanho da exposição das empresas em derivativos cambiais. Citou projeções de mercado de até US$ 20 bilhões e salientou que, se for nesse patamar, pode ser absorvido pela economia brasileira.


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