São Paulo, quarta-feira, 28 de outubro de 2009

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análise

Negócio marca reviravolta em saga familiar

VINICIUS MOTA
EDITOR DE OPINIÃO

De Francisco Junqueira a Maurilio Biagi. O roteiro, uma sequência de avenidas principais, não instrui apenas o viajante que, do centro de Ribeirão Preto, queira tomar a via Anhanguera de volta para a capital. Diz algo acerca da história de uma região e de sua gente.
As Usinas Junqueira, instaladas em Igarapava, no extremo nordeste do Estado, ajudaram a inaugurar o ciclo do açúcar naquela região no início do século 20. A atividade, já industrial, realocou e concentrou os imigrantes, em sua maioria italianos atraídos pela cafeicultura.
Esse contingente de pessoas e seus descendentes mais tarde constituiriam a classe média urbana de Ribeirão. Mas os Biagi estavam destinados a outro papel. Como na sequência das avenidas, ampliariam os caminhos deixados pelos Junqueira.
Consolidaram terras, aproveitando-se do declínio do café -as da Santa Elisa foram adquiridas em 1932. Converteram-nas para a cana e impulsionaram as usinas. Implantaram um braço de bens de capital -a Zanini, batizada em homenagem ao sócio Ettore, caldeireiro de Maurilio- voltado para a atividade usineira.
A avenida que prometia ligar os Biagi ao século 21 foi desbravada nos anos 1970, com o Proálcool. Cícero Junqueira Franco, fundador da Vale do Rosário, associou-se vigorosamente à empreitada do combustível verde, que acabou por renovar a vocação econômica da região.
Mas as regras e a escala do jogo mudaram. Uma nova rodada de consolidações se avizinhava no início deste século. Num lance dramático, Biagi e Junqueira Franco, com a fusão entre Vale e Santelisa, tentaram cavalgar mais essa onda. Endividados e atropelados pela crise, entregam o comando dos negócios a um gigante global, a Louis Dreyfus Commodities.
Léopold Louis-Dreyfus começou a negociar trigo de fazendeiros da conturbada Alsácia em 1851. Natale Biagi comprou seu primeiro sítio em Sertãozinho em 1899. Duas histórias familiares se cruzam nos canaviais de Ribeirão Preto. A avenida Maurilio Biagi vai desembocar em algo novo.


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