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Argentina reage e diz que restrição do Brasil é "inaceitável"
DE BUENOS AIRES
O governo argentino classificou como "inaceitável" a atitude do Brasil de impor restrições
às exportações do país vizinho,
a partir deste mês. A reclamaçao foi transmitida, ontem, em
Buenos Aires, pelo Secretário
de Comércio Internacional, Alfredo Chiaradía, ao embaixador
do Brasil na Argentina, Mauro
Vieira, convocado pelo governo
Cristina Kirchner para uma
reunião na chancelaria. O encontro durou uma hora.
Desde o início deste mês, vários itens produzidos na Argentina não têm autorização automática para entrar no Brasil. A
liberação dessas compras, agora, depende de uma avaliação
prévia do governo brasileiro,
que pode levar até 60 dias. A
medida inclui itens como farinha de trigo, uva passa, azeitona, azeite de oliva, vinho, doces
e geleias, peixes e pneus.
Vieira disse que iria transmitir a reclamação a Brasília, mas
lembrou que o Brasil sofre restrições por parte da Argentina,
que aplica o sistema de licenças
não-automáticas a diversos
produtos brasileiros, totalizando 14% das exportações para o
vizinho. Os setores afetados
afirmam sofrer perdas, geradas
pela demora no desembarque
dos produtos e pela fixação de
limites aos volumes de venda.
Vieira citou ainda a suspeita
de desvio de comércio no Mercosul -no caso de produtos cujas importações argentinas originadas do Brasil diminuíram,
com concomitante aumento
das procedentes da China.
A Argentina justifica a aplicação de licenças não-automáticas como uma medida de proteção à indústria nacional, no
marco de uma política de substituição das importaçoes.
A irritação argentina com a
retaliação é sobretudo pelo fato
de a aplicação de licenças não
automáticas a itens sensíveis
de sua pauta exportadora ter sido feita "sem aviso prévio".
O governo argentino julga
que a decisão brasileira é "asimétrica", uma vez que as licenças impostas pela Argentina
têm prévio conhecimento dos
setores afetados. Chiaradía manifestou preocupação com o
provável perecimento de produtos embarcados em caminhões, que, surpreendidos pela
reação brasileira, estão retidos
nas fronteiras.
A reclamação formal do governo argentino acentua uma
já tensa relação comercial bilateral. O superávit brasileiro na
balança comercial com a Argentina vem sendo reduzido e
chegou a haver déficit em março passado. As exportações brasileiras para a Argentina caíram 43% no primeiro semestre
deste ano.
(SILVANA ARANTES)
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