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sociais&cias.
Cigarro e bebida investem em ação social
Fabricantes de produtos nocivos à saúde intensificam programas de responsabilidade social para melhorar imagem
Souza Cruz se candidata ao índice de sustentabilidade da Bovespa pela segunda vez; nova carteira será divulgada na quinta-feira
JULIANA GARÇON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Acusadas de tentar ganhar a
aprovação da população com
ações sociais, fabricantes de
produtos tidos como nocivos ao
consumidor, principalmente as
fabricantes de cigarros e de bebidas alcoólicas, vêm tentando
construir a imagem de socialmente responsáveis. Em busca
desse reconhecimento, a Souza
Cruz vai ao mercado: pela segunda vez, a tabaqueira tenta
fazer com que suas ações entrem na composição do ISE, o
Índice de Sustentabilidade
Empresarial da Bovespa (Bolsa
de Valores de São Paulo), que
reúne papéis de companhias
mais bem avaliadas em quesitos de responsabilidade social.
A composição do índice deve
ser anunciada na próxima
quinta. A Philips Morris, que,
junto com a Souza Cruz, domina o mercado brasileiro de cigarros, não tem capital aberto.
Das cervejeiras, só a AmBev,
dona das marcas Antarctica,
Brahma e Skol, está listada na
Bolsa. Em 2005, a companhia
não respondeu o questionário
da Bovespa por não concordar
com os critérios nele usados.
Voltou a declinar neste ano, informando que "alguns dados
que seriam usados no índice
ainda não são auditados".
A criação do índice envolveu
uma acalorada discussão sobre
os critérios para definir quem
pode pleitear o título de "socialmente responsável". Em
abril, o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), organizador do Prêmio Balanço Social, retirou-se
do conselho que preparava o
ISE depois que a maioria decidiu pela não-exclusão prévia de
empresas de armas, tabaco e
bebidas alcoólicas. "Houve três
votações e nas duas primeiras a
exclusão prévia venceu. Mas
três empresas visitaram os institutos participantes e, depois
disso, houve a terceira votação", conta o cientista político
Ciro Torres, coordenador de
responsabilidade social e ética
nas organizações do Ibase.
Entre os que votaram pela
não-exclusão prévia estava o
Instituto Ethos de Responsabilidade Social. "Prevaleceu a
idéia de que elas podem disputar porque têm licença para
operar, dada pela sociedade. Há
perguntas que geram pontuação negativa para as produtoras
de itens nocivos", diz o presidente Ricardo Young.
Para ele, a celeuma sobre a
exclusão prévia abre campo para o debate "tolo" sobre quais
são os setores mais danosos. Na
versão deste ano, o questionário ampliou as questões de pontuação negativa para produção
de itens nocivos.
Parâmetros
As indústrias de tabaco admitem os males que o hábito de
fumar causa ou pode causar,
mas se defendem frisando a liberdade de escolha dos consumidores. Elas destacam suas
ações com o objetivo de desestimular a iniciação de jovens no
hábito de fumar. E entendem
que a classificação de "socialmente responsável" está vinculada a parâmetros mais amplos
do que os itens produzidos.
"Adultos não precisam ser
tutelados, mas informados e
orientados quanto aos riscos
associados ao ato de fumar", diz
Glauco Humai, gerente de responsabilidade social da Souza
Cruz. A socióloga Paula Johns,
coordenadora da ACT (Aliança
de Controle do Tabagismo),
discorda. "Na psicologia e na
psiquiatria, não há livre arbítrio quando há vício."
Para ela, os programas voltados a jovens, focados na conscientização de varejistas para
que não vendam cigarros a menores de idade, são "engodo".
"As pesquisas mostram que essas ações fazem efeito contrário porque legitimam os cigarros como produtos para o mundo adulto -que é o discurso das
tabaqueiras. Isso cria um "ritual
de passagem". E, mesmo com as
restrições, a publicidade está
em todos os lugares."
Para pleitear o título de socialmente responsáveis, diz ela,
elas teriam "de parar de brigar
contra medidas que reduzem o
consumo, como aumento de
preço -o cigarro brasileiro é o
sexto mais barato do mundo-
e de fazer lobby para combater
a proibição de fumar em ambientes fechados".
Consumo responsável
A Souza Cruz informa que
apóia 20 projetos de preservação do ambiente, desenvolvimento local e educação e investiu cerca de R$ 190 milhões
neste ano em "ações de responsabilidade social". A Philips
Morris também financia uma
série de projetos, mas não informa os aportes.
A AmBev se considera socialmente responsável e se apóia
na convicção de que nocivo não
é o álcool, mas seu uso abusivo.
Por isso, investe em campanhas com objetivos de estimular o "consumo responsável" e
de evitar o consumo pelos menores de idade. A companhia
também incentiva seus funcionários a abordar o assunto em
conversas com os filhos. A
Femsa, dona da Sol, Tekate e
Dos Equis, adota estratégia parecida. Nenhuma delas informa quanto investe nas ações.
A Schin, fabricante da Schincariol, foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou sobre o assunto.
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