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Crédito cresce 20% no ano, e juros caem pelo nono mês seguido
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O aumento na concessão de
crédito no país injetou R$ 148,2
bilhões na economia entre janeiro e outubro deste ano, segundo dados do Banco Central.
O saldo dos empréstimos concedidos pelo sistema financeiro
chegou a R$ 880,8 bilhões no
mês passado, alta de 20,2% em
relação ao final de 2006.
Com o resultado, o volume de
crédito disponível no país já
equivale a 34% do PIB, nível
mais alto registrado pelo BC
nos últimos 12 anos.
A maior oferta de financiamentos foi puxada pelos empréstimos feitos com recursos
livres, ou seja, cujas taxas de juros não são controladas pelo
governo. As operações de leasing, por exemplo, cresceram
66,7% neste ano e totalizavam
R$ 57,5 bilhões no mês passado. Essa modalidade de financiamento é muito usada por
empresas na compra de máquinas e por pessoas físicas na
aquisição de automóveis.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, espera que a oferta de crédito siga em alta em 2008.
"Com esse nível de atividade, é
de esperar que o crédito continue crescendo a taxas de 20%
ao ano por algum tempo."
Mesmo com a expansão recente, a relação entre crédito e
PIB no Brasil ainda é baixa. Segundo levantamento feito pela
Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) a partir de dados
do Banco Mundial, essa relação
chega a 82% no Chile, 114% na
China e 195% nos EUA.
Para Marcelo Moura, professor do Ibmec São Paulo, a oferta de empréstimos no Brasil
pode dobrar nos próximos dez
anos. "O crédito é fundamental
para o crescimento. É como a
gasolina no motor do carro."
Moura ressalta ainda que,
apesar da rápida expansão do
crédito, não há sinais de esgotamento da capacidade de endividamento. "As pessoas estão se
endividando mais. Mas, se isso
fosse um problema, a inadimplência estaria subindo", diz.
No mês passado, atrasos de
mais de 90 dias no pagamento
de dívidas atingiam 7,0% dos financiamentos de pessoas físicas e 2,3% dos de empresas. Em
dezembro de 2006, eram 7,6%
e 2,7%, respectivamente.
O economista Philip Wagner,
do Unibanco, diz que o aumento da massa salarial é um dos fatores que sustentam essa maior
procura. Para Wagner, a queda
nos juros bancários ocorrida e o
cenário mais favorável ao crescimento também ajudam.
Um dos setores beneficiados
pela maior acesso a empréstimos é o varejo, que já prevê
bons resultados neste Natal.
Segundo Emerson Kapaz, do
IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo), as vendas deste ano devem ser as
maiores em dez anos, e o resultado só não é melhor porque as
taxas ainda são altas. "O crédito
aumenta apesar do juro alto."
Apesar de altos, eles vêm
caindo. Os juros nos empréstimos a pessoas físicas recuaram
pelo nono mês seguido e chegaram ao nível mais baixo desde
1994, diz o BC. Entre setembro
e outubro, a taxa caiu de 46,3%
ao ano para 45,8%.
O recuo refletiu uma redução
no chamado "spread" bancário
(diferença entre os juros que os
bancos pagam para captar dinheiro no mercado e a taxa cobrada aos clientes). No caso das
pessoas físicas, esse "spread",
que era de 35,0 pontos percentuais em setembro, caiu para
34,5 pontos no mês passado.
Para as empresas, porém, a
situação foi inversa. Os juros
nos financiamentos a pessoas
jurídicas subiram de 23,1% ao
ano para 23,4%. Nesse caso, a
alta foi conseqüência do aumento no custo de captação dos
recursos que os bancos usam
nessas linhas. Para esse segmento, o "spread" sofreu pouca
alteração, de 12,6 pontos percentuais para 12,7 pontos.
Para Moura, do Ibmec, uma
queda mais forte nos juros depende de maior concorrência.
"Banco não é diferente da mercearia da esquina: só vai abrir
mão da margem [de lucro] se tiver um competidor na frente
vendendo mais barato", afirma.
Lopes, do BC, diz que medidas tomadas recentemente pelo governo -como a conta-salário e a portabilidade de crédito- devem ajudar a aumentar a
concorrência entre os bancos.
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