São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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Crédito cresce 20% no ano, e juros caem pelo nono mês seguido

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O aumento na concessão de crédito no país injetou R$ 148,2 bilhões na economia entre janeiro e outubro deste ano, segundo dados do Banco Central. O saldo dos empréstimos concedidos pelo sistema financeiro chegou a R$ 880,8 bilhões no mês passado, alta de 20,2% em relação ao final de 2006.
Com o resultado, o volume de crédito disponível no país já equivale a 34% do PIB, nível mais alto registrado pelo BC nos últimos 12 anos.
A maior oferta de financiamentos foi puxada pelos empréstimos feitos com recursos livres, ou seja, cujas taxas de juros não são controladas pelo governo. As operações de leasing, por exemplo, cresceram 66,7% neste ano e totalizavam R$ 57,5 bilhões no mês passado. Essa modalidade de financiamento é muito usada por empresas na compra de máquinas e por pessoas físicas na aquisição de automóveis.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, espera que a oferta de crédito siga em alta em 2008. "Com esse nível de atividade, é de esperar que o crédito continue crescendo a taxas de 20% ao ano por algum tempo."
Mesmo com a expansão recente, a relação entre crédito e PIB no Brasil ainda é baixa. Segundo levantamento feito pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) a partir de dados do Banco Mundial, essa relação chega a 82% no Chile, 114% na China e 195% nos EUA.
Para Marcelo Moura, professor do Ibmec São Paulo, a oferta de empréstimos no Brasil pode dobrar nos próximos dez anos. "O crédito é fundamental para o crescimento. É como a gasolina no motor do carro."
Moura ressalta ainda que, apesar da rápida expansão do crédito, não há sinais de esgotamento da capacidade de endividamento. "As pessoas estão se endividando mais. Mas, se isso fosse um problema, a inadimplência estaria subindo", diz. No mês passado, atrasos de mais de 90 dias no pagamento de dívidas atingiam 7,0% dos financiamentos de pessoas físicas e 2,3% dos de empresas. Em dezembro de 2006, eram 7,6% e 2,7%, respectivamente.
O economista Philip Wagner, do Unibanco, diz que o aumento da massa salarial é um dos fatores que sustentam essa maior procura. Para Wagner, a queda nos juros bancários ocorrida e o cenário mais favorável ao crescimento também ajudam.
Um dos setores beneficiados pela maior acesso a empréstimos é o varejo, que já prevê bons resultados neste Natal. Segundo Emerson Kapaz, do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo), as vendas deste ano devem ser as maiores em dez anos, e o resultado só não é melhor porque as taxas ainda são altas. "O crédito aumenta apesar do juro alto."
Apesar de altos, eles vêm caindo. Os juros nos empréstimos a pessoas físicas recuaram pelo nono mês seguido e chegaram ao nível mais baixo desde 1994, diz o BC. Entre setembro e outubro, a taxa caiu de 46,3% ao ano para 45,8%.
O recuo refletiu uma redução no chamado "spread" bancário (diferença entre os juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e a taxa cobrada aos clientes). No caso das pessoas físicas, esse "spread", que era de 35,0 pontos percentuais em setembro, caiu para 34,5 pontos no mês passado.
Para as empresas, porém, a situação foi inversa. Os juros nos financiamentos a pessoas jurídicas subiram de 23,1% ao ano para 23,4%. Nesse caso, a alta foi conseqüência do aumento no custo de captação dos recursos que os bancos usam nessas linhas. Para esse segmento, o "spread" sofreu pouca alteração, de 12,6 pontos percentuais para 12,7 pontos.
Para Moura, do Ibmec, uma queda mais forte nos juros depende de maior concorrência. "Banco não é diferente da mercearia da esquina: só vai abrir mão da margem [de lucro] se tiver um competidor na frente vendendo mais barato", afirma.
Lopes, do BC, diz que medidas tomadas recentemente pelo governo -como a conta-salário e a portabilidade de crédito- devem ajudar a aumentar a concorrência entre os bancos.


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