São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

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Lula diz que veta mínimo acima de R$ 380

Presidente afirma que vetou com "o maior prazer" reajuste de 16,6% para aposentados e que pode fazê-lo de novo

Em evento no Planalto, Lula pede o apoio de líderes sindicais para aprovar as reformas trabalhista, da Previdência e outras

PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que vai vetar qualquer tentativa de aumentar o salário mínimo além dos R$ 380 já definidos pelo seu governo para o próximo ano, como já fez, "com o maior prazer", ao vetar reajuste aos aposentados maior que o defendido pelo governo.
"A gente não está livre de pegar alguém que queira chegar ao mês de maio e fazer uma apresentação [de um valor maior]. Mas não se preocupem que eu veto. Se alguém tentar extrapolar o limite do que foi acordado, não tenham dúvida que eu veto, como vetei, antes das eleições, a demagogia daquele aumento que quiseram dar", disse ele, no Planalto.
No início de julho, quando a campanha eleitoral já tinha sido deflagrada, Lula teve de vetar um reajuste de 16,67% para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo -hoje de R$ 350. O presidente defendia um aumento 16,67% para quem ganhasse até um mínimo e de 5% para quem recebesse mais que isso.
Na época, Lula ficou acuado por ter de tomar uma medida impopular às vésperas da eleição e classificou o aumento maior, proposto pelo Congresso, de "politiqueiro" e "irresponsável". Ontem, afirmou que vetou "com o maior prazer".
Ao exaltar o que considera feitos de seu governo, o presidente acabou por admitir que no passado seus discursos não tinham ligação com a realidade política. "Na verdade, o salário mínimo era uma peça de ficção para discurso nosso no dia 1º de Maio. Isso valia para o Marinho [Luiz, atual ministro do Trabalho], quando era presidente da CUT, para mim, quando eu era presidente sindical no ABC, e para todos vocês. A gente fazia um discurso no 1º de Maio, até porque a maioria das nossas categorias não representa o trabalhador de salário mínimo", disse Lula, numa sala repleta de sindicalistas.
Depois de uma apresentação de Marinho, sobre os ganhos reais do salário mínimo em seu governo, Lula proferiu várias frases de efeito - "R$ 30 é pouco para quem tem muito, mas é muito para quem tem pouco"- e chegou a se emocionar em alguns momentos. "Por falta de uma moedinha de 50 centavos, eu andava a pé 12 quilômetros", contou, sobre quando ainda estudava para ser metalúrgico.
"Eu pegava o ônibus no ponto, e a minha mulher pegava em um ponto antes de mim -minha mulher não, minha noiva, depois virou minha mulher- e eu tinha que sair a pé. E toda hora que vinha um ônibus eu corria para o meio do campo para que a minha noiva não visse que eu estava andando a pé com a minha marmitinha, por causa de uma moedinha", disse, com os olhos marejados.

Reformas
Na cerimônia, para assinar acordo com sindicalistas para o reajuste do salário mínimo, o presidente fez uma defesa das "reformas", inclusive da Previdência, de modo indireto. "Nós vamos ter de discutir reformas. [...] Vamos discutir, depois de um diagnóstico muito correto, quais são as soluções que cada um de nós quer deixar para os nossos filhos no mundo do trabalho, da Previdência Social, e em tantas outras áreas."
Lula pediu ajuda dos sindicalistas para vencer resistências às reformas. "Para desburocratizar o país, às vezes a gente mexe com a estrutura corporativa, o que vai precisar da compreensão de vocês, porque senão, no mundo, a história nos ensina que é mais fácil ficar como está do que tentar fazer qualquer mudança", disse.
"E, afinal de contas, para que vocês entraram no sindicato? Para que eu virei presidente da República? Para virar a mesmice? A mesmice não precisava de nós", afirmou Lula.


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