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MERCADO DA EDUCAÇÃO
Receita de faculdades e universidades particulares supera R$ 4 bilhões; setor atrai novos investidores
Ensino privado tem gestão empresarial
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local
Poucos setores da economia estão passando por transformações
tão expressivas quanto o formado
pelas faculdades e universidades
privadas.
Seu faturamento cresceu como
poucos segmentos econômicos;
muitas escolas estão deixando de
ser administradas por famílias e se
profissionalizando; aumentou
muito o investimento das universidades em marketing; a criação de
novos cursos ou definição do número de vagas passou a ser determinada por pesquisas de mercado.
É que está ocorrendo nas universidades particulares um processo
semelhante de reestruturação ao
que ocorreu com empresas de outras áreas econômicas.
"Muitas universidades ou faculdades continuam sendo controladas pelos mesmos grupos familiares, mas é evidente o processo de
profissionalização", afirma o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, ele mesmo ligado a esse processo ao dirigir o Ibmec (Instituto
Brasileiro de Mercado de Capitais), que há quatro anos mantém
uma faculdade do Rio e está se expandindo para São Paulo.
Essa tendência de mudança no
perfil das universidades particulares enquanto empresas deve continuar, viabilizada pelas transformações nas regras do ensino superior adotadas pelo Ministério da
Educação e do Desporto.
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Fim do vestibular
Entre as mudanças mais importantes dos últimos anos estão a virtual extinção do vestibular tradicional e a permissão para que sejam criados cursos superiores de
curta duração -os chamados cursos sequenciais.
"Faz parte da estratégia do governo aumentar o número de pessoas cursando faculdades no país,
onde só 10% dos jovens entre 18 e
25 anos estão matriculados em
cursos universitários.
Como o governo não tem recursos para aumentar as vagas nas
universidades públicas, há campo
para o setor privado", afirma Gabriel Rodrigues, presidente do Semesp (reúne as instituições de ensino superior de São Paulo).
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Faturando alto
Neste ano, as universidades e faculdades privadas movimentaram
mais de R$ 4 bilhões (computando-se apenas o valor das mensalidades dos alunos de graduação,
sem contar os pagamentos dos
cursos de pós-graduação e de extensão), segundo o Semesp.
É quase o mesmo volume que a
indústria de cigarros fatura no
mercado brasileiro, segundo o Instituto Nielsen.
Hoje, existem cerca de 1,2 milhão
de alunos matriculados em faculdades particulares -cerca de 61%
do total de universitários do país.
No Estado de São Paulo, os matriculados em faculdades privadas
são 85% do total e pagam em média de R$ 350,00 a R$ 400,00 por
mês, de acordo com Gabriel Mário
Rodrigues, presidente do Semesp.
No Brasil, o valor médio das
mensalidades é um pouco menor,
ficando em torno de R$ 340,00.
Mesmo assim, é um valor expressivo, já que as universidades contam
com uma vantagem ambicionada
por qualquer empresa fornecedora
de produtos ou serviços: a "fidelidade" dos alunos por quatro ou
cinco anos.
Tanto a evasão de alunos quanto
a inadimplência cresceram bastante nos últimos anos, mas os custos
com essas perdas de receitas já estariam incorporados às mensalidades em muitas escolas. A desistência nas faculdades particulares
é de cerca de 15%, diz Rodrigues.
"Muitas escolas estão investindo
para tentar manter o aluno até o final do curso, melhorando a qualidade e oferecendo mais serviços,
com programas culturais", diz ele.
²
Novo perfil
A constatação de que ser dono de
uma faculdade ou universidade
pode ser um bom negócio, apesar
do aumento da inadimplência,
atraiu novos investidores no setor,
empresários de outras áreas da
economia que estão apostando no
negócio da educação.
Na maioria dos casos, o retorno
financeiro não é o único atrativo,
mas um fator importante na tomada de decisão.
O caso mais ilustrativo é o de
Eduardo da Rocha Azevedo, ex-presidente da Bolsa de Valores de
São Paulo, que deixou o mercado
financeiro e se tornou sócio de
uma faculdade de economia e administração em Campinas (SP).
Cláudio Haddad, ex-sócio do
Banco Garantia, que foi vendido
para uma instituição estrangeira
neste ano, também estuda a possibilidade de investir em educação.
Levantamento informal feito por
um consultor da área mostra que
nas duas últimas décadas teriam
sido fechadas em São Paulo apenas
duas instituições de ensino superior privadas.
Outro candidato a dono de faculdade constatou que os lucros do
setor já foram melhores antes que
o governo começasse a mudar as
regras sobre o pagamento de impostos e contribuições.
Novas mudanças na legislação
poderão ser anunciadas.
"O negócio da educação é bom
para quem for profissional e souber investir em qualidade", afirma
Rodrigues. Segundo o Semesp, entre 10% e 15% das instituições de
ensino superior de São Paulo já optaram por ter um regime jurídico
de empresa que quer ter lucro.
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