São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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PÚBLICO E PRIVADO

Ministro diz que o governo não admitirá aumentos e que empresários são responsáveis pelo crescimento do país

Reajuste de preço não será aceito, diz Dirceu

Jorge Araújo/Folha Imagem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso no encerramento de seminário na Índia


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na mesma linha dura adotada no dia anterior pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o empresariado nacional, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem que o governo não vai "aceitar" que o setor promova uma onda de reajustes de preços para "aumentar os lucros".
"As condições para o crescimento estão dadas. Agora, o que a gente não pode aceitar e não pode acontecer é começar a ter remarcação de preço, começar a ter uma corrida para aumentar os lucros, o que é uma visão de curto prazo", afirmou.
Dirceu aproveitou ainda para lavar as mãos do Poder Executivo quando o assunto é o prometido e anunciado, até pelo governo, crescimento econômico em 2004. A responsabilidade, segundo o ministro, está com os empresários brasileiros.
"O país precisa de investimento, temos de perseguir o aumento do emprego e da renda, e o governo está fazendo a sua parte", afirmou, no Palácio do Planalto, após a cerimônia de posse de Aldo Rebelo (PC do B) na Secretaria de Coordenação Política e Assuntos e Institucionais.
Também presente à cerimônia, o presidente nacional da CNI (Confederação Nacional da Indústria), deputado Armando Monteiro (PTB-PE), declarou, ao ser informado pela Folha sobre as declarações de Dirceu, que não "haverá pressões de custos que possam pôr em risco o controle da inflação".
"Não há um movimento generalizado nem preocupante de remarcação de preços. Há alguns ajustes setoriais que decorrem de aumento do preço de insumos, como o de aço no ano passado, e também em alguns setores como um reflexo da nova Cofins [Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social]", disse o presidente da CNI.
Anteontem, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse que a mudança na Cofins, cuja alíquota aumenta em fevereiro (passando de 3% para 7,6%), não poderia ser usada como argumento para reajuste de preços.
Segundo ele, a mudança na cobrança atende uma reivindicação empresarial, que historicamente pedia o fim da cumulatividade na cobrança da contribuição.
A pressão dos empresários por reajustes de preços é tida como um dos motivos que influenciaram a decisão do Banco Central de manter, na semana passada, a taxa básica de juros em 16,5% ao ano. O próprio presidente Lula, que anteontem pediu "menos choro" aos empresários, avalizou a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária). Hoje será divulgada a ata da reunião da semana passada com mais detalhes sobre a decisão do BC.

Cortes
Dirceu, assim como Palocci já havia feito anteontem, sugeriu que o Orçamento de 2004 poderá sofrer cortes. E aproveitou a deixa para mais uma vez cutucar o setor privado.
"Não está definido o contingenciamento (...) Independentemente da discussão se vai ou não contingenciar, ainda temos condições de crescer, e o poder público vai fazer o seu papel. Agora cabe ao investimento privado o papel mais importante do desenvolvimento do país, que são os investimentos externos, que estão crescendo." Dirceu fez tais declarações ao ser questionado se um eventual corte no Orçamento poderia servir de contra-exemplo para os empresários.
Enaltecendo sua satisfação com a atual taxa de juros e as contas externas, ele afirmou que os investimentos do governo federal neste ano irão superar em pelo menos três vezes os de 2003.
"O governo vai investir neste ano três vezes mais do que em 2003. Está garantido no Orçamento e no acordo com o Fundo Monetário Internacional", disse. Segundo ele, serão aprovados neste ano as novas regras do setor elétrico, o projeto da PPP (Parceria Público-Privada) e a nova legislação das agências reguladoras.


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