São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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PÚBLICO E PRIVADO

Presidente do grupo Votorantim diz que as críticas de Lula não deveriam atingir toda a classe empresarial

"Dê nome aos bois", pede Antônio Ermírio

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O empresário Antônio Ermírio de Moraes, 75, presidente do grupo Votorantim, acha que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deveria atingir a classe empresarial como um todo ao afirmar que os empresários deveriam chorar menos e vender mais. Para Ermírio de Moraes, Lula deveria citar nominalmente os empresários "chorões". "Dê nome aos bois", afirmou.

Folha - O que o sr. achou da declaração do presidente Lula de que os empresários deveriam vender mais e chorar menos?
Antônio Ermírio de Moraes -
Deve ter alguma razão para o Lula ter dado esse recado, mas não deveria atingir a classe empresarial como um todo. Se ele tem alguma dor de cotovelo com certos empresários, que ele os cite nominalmente. Dê o nome aos bois. Senão fica a impressão que os industriais são uns bananas, o que não é bem verdade. Isso eu não aceito de jeito nenhum. A mim não atinge nem ao grupo Votorantim. Havia muitas dúvidas sobre o governo do PT, mas mesmo assim nós hoje estamos investindo mais do que investimos no governo Fernando Henrique [95-2002].

Folha - O sr. já fez alguma reclamação ao presidente Lula?
Ermírio de Moraes -
Ele está há um ano no governo e eu nunca fui reclamar nada com ele. Eu sou um empresário de um certo destaque e eu nunca pedi uma audiência a ele. Eu o convidei para vir à inauguração da nova fábrica de papel e celulose, que ele veio, e o convidei para vir à inauguração da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), que ele não veio porque foi receber uma homenagem na Espanha, depois de ter confirmado que viria.

Folha - O sr. acha que o empresário é mesmo chorão?
Ermírio de Moraes -
Eu não sei. Eu não convivo com eles. Vivo a minha vida aqui. Não sou pai dos empresários. Não sou presidente de federação nenhuma, mas lamento que tenha ocorrido essa declaração do Lula dessa maneira. Talvez ele tenha ficado nervoso por algum motivo e, por isso, tenha chamado os empresários de chorões. Não é o nosso caso. Eu nunca chorei coisa nenhuma com ele, muito menos com gente do governo dele. Esse recado para todo mundo eu não aceito.

Folha - A lua-de-mel com o governo acabou?
Ermírio de Moraes -
Nunca houve lua-de-mel comigo. Lua-de-respeito, sim, mas, lua-de-mel, não. Eles me respeitam assim como nós os respeitamos.

Folha - Há insatisfação dos empresários?
Ermírio de Moraes -
O que mais atrapalha são os juros. O aumento da alíquota da Cofins atinge principalmente a pequena empresa prestadora de serviço. Esse pessoal está desesperado.

Folha - Qual é sua avaliação do governo?
Ermírio de Moraes -
Eu nunca critiquei governo nenhum. Só peço a Deus que dê juízo a ele para que possamos continuar na linha de crescimento. O Lula sabe que eu nunca votei nele.

Folha - A declaração do Lula pode desestimular os investimentos?
Ermírio de Moraes -
Isso acaba contaminando a todos. No resto do mundo, eles têm respeito com quem trabalha. Nos outros países, a lei é braba. Se o sujeito se comportou mal, ele vai falir mesmo. O Lula tem que dar o nome aos bois. Se ele não sabe, então pergunta aos ministros. Não é por falta de ministérios. São 35 ministérios.

Folha -O que o sr. acha das viagens de Lula?
Ermírio de Moraes -
Se eu fosse o Lula, eu convidaria mais esses homens para vir ao Brasil. Acho que teria muito mais efeito convidar todos esses países, como a Rússia, a China e a Índia, para virem visitar o Brasil e ver o nosso dinamismo.

Folha - Quanto o grupo Votorantim está investindo? O governo pode afetar as decisões de investimento?
Ermírio de Moraes -
O governo pode falar o que quiser, mas nós vamos continuar investindo. Nós jamais investimos tanto na nossa vida como agora. E em todos os setores: alumínio, níquel, zinco, aço e papel e celulose. No setor de cimento, não pode investir tanto porque a capacidade ociosa é muito grande. O mercado de cimento caiu 10% no ano passado. Acabaram as grandes obras, e o formiguinha, que construía as casas no fim de semana, parou de construir. Por isso, nós temos capacidade ociosa grande, mas nós temos fábrica de cimento no Brasil inteiro. Falam que a gente tem 40% do setor de cimento no país, mas isso porque nós confiamos no Brasil, investimos no país, em vez de aplicarmos o dinheiro em papel financeiro. Se o mercado reagir, será melhor para nós.

Folha - O sr. acredita numa reação do mercado?
Ermírio de Moares -
O mercado tem que reagir. O Brasil não pode continuar parado. O Brasil tem que aumentar o seu PIB. O Brasil está andando para trás. Em 1984, o Brasil tinha 1,34% do PIB do mundo; hoje, tem 1%. O que é isso? É o excesso de juros que estão sendo pagos. No status econômico que estamos vivendo hoje seria melhor, para mim, trabalhar apenas meia hora e fazer as melhores aplicações financeiras. O duro é sair do zero e continuar acreditando nas empresas, fazendo o máximo possível com recursos próprios.


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