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PÚBLICO E PRIVADO
Presidente do grupo Votorantim diz que as críticas de Lula não deveriam atingir toda a classe empresarial
"Dê nome aos bois", pede Antônio Ermírio
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O empresário Antônio Ermírio
de Moraes, 75, presidente do grupo Votorantim, acha que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
não deveria atingir a classe empresarial como um todo ao afirmar que os empresários deveriam
chorar menos e vender mais. Para
Ermírio de Moraes, Lula deveria
citar nominalmente os empresários "chorões". "Dê nome aos
bois", afirmou.
Folha - O que o sr. achou da declaração do presidente Lula de que os
empresários deveriam vender mais
e chorar menos?
Antônio Ermírio de Moraes - Deve ter alguma razão para o Lula ter
dado esse recado, mas não deveria atingir a classe empresarial como um todo. Se ele tem alguma
dor de cotovelo com certos empresários, que ele os cite nominalmente. Dê o nome aos bois. Senão
fica a impressão que os industriais
são uns bananas, o que não é bem
verdade. Isso eu não aceito de jeito nenhum. A mim não atinge
nem ao grupo Votorantim. Havia
muitas dúvidas sobre o governo
do PT, mas mesmo assim nós hoje estamos investindo mais do que
investimos no governo Fernando
Henrique [95-2002].
Folha - O sr. já fez alguma reclamação ao presidente Lula?
Ermírio de Moraes - Ele está há
um ano no governo e eu nunca fui
reclamar nada com ele. Eu sou
um empresário de um certo destaque e eu nunca pedi uma audiência a ele. Eu o convidei para
vir à inauguração da nova fábrica
de papel e celulose, que ele veio, e
o convidei para vir à inauguração
da CBA (Companhia Brasileira de
Alumínio), que ele não veio porque foi receber uma homenagem
na Espanha, depois de ter confirmado que viria.
Folha - O sr. acha que o empresário é mesmo chorão?
Ermírio de Moraes - Eu não sei.
Eu não convivo com eles. Vivo a
minha vida aqui. Não sou pai dos
empresários. Não sou presidente
de federação nenhuma, mas lamento que tenha ocorrido essa
declaração do Lula dessa maneira. Talvez ele tenha ficado nervoso por algum motivo e, por isso,
tenha chamado os empresários de
chorões. Não é o nosso caso. Eu
nunca chorei coisa nenhuma com
ele, muito menos com gente do
governo dele. Esse recado para todo mundo eu não aceito.
Folha - A lua-de-mel com o governo acabou?
Ermírio de Moraes - Nunca houve lua-de-mel comigo. Lua-de-respeito, sim, mas, lua-de-mel,
não. Eles me respeitam assim como nós os respeitamos.
Folha - Há insatisfação dos empresários?
Ermírio de Moraes - O que mais
atrapalha são os juros. O aumento
da alíquota da Cofins atinge principalmente a pequena empresa
prestadora de serviço. Esse pessoal está desesperado.
Folha - Qual é sua avaliação do
governo?
Ermírio de Moraes - Eu nunca
critiquei governo nenhum. Só peço a Deus que dê juízo a ele para
que possamos continuar na linha
de crescimento. O Lula sabe que
eu nunca votei nele.
Folha - A declaração do Lula pode
desestimular os investimentos?
Ermírio de Moraes - Isso acaba
contaminando a todos. No resto
do mundo, eles têm respeito com
quem trabalha. Nos outros países,
a lei é braba. Se o sujeito se comportou mal, ele vai falir mesmo. O
Lula tem que dar o nome aos bois.
Se ele não sabe, então pergunta
aos ministros. Não é por falta de
ministérios. São 35 ministérios.
Folha -O que o sr. acha das viagens de Lula?
Ermírio de Moraes - Se eu fosse o
Lula, eu convidaria mais esses homens para vir ao Brasil. Acho que
teria muito mais efeito convidar
todos esses países, como a Rússia,
a China e a Índia, para virem visitar o Brasil e ver o nosso dinamismo.
Folha - Quanto o grupo Votorantim está investindo? O governo pode afetar as decisões de investimento?
Ermírio de Moraes - O governo
pode falar o que quiser, mas nós
vamos continuar investindo. Nós
jamais investimos tanto na nossa
vida como agora. E em todos os
setores: alumínio, níquel, zinco,
aço e papel e celulose. No setor de
cimento, não pode investir tanto
porque a capacidade ociosa é
muito grande. O mercado de cimento caiu 10% no ano passado.
Acabaram as grandes obras, e o
formiguinha, que construía as casas no fim de semana, parou de
construir. Por isso, nós temos capacidade ociosa grande, mas nós
temos fábrica de cimento no Brasil inteiro. Falam que a gente tem
40% do setor de cimento no país,
mas isso porque nós confiamos
no Brasil, investimos no país, em
vez de aplicarmos o dinheiro em
papel financeiro. Se o mercado
reagir, será melhor para nós.
Folha - O sr. acredita numa reação do mercado?
Ermírio de Moares - O mercado
tem que reagir. O Brasil não pode
continuar parado. O Brasil tem
que aumentar o seu PIB. O Brasil
está andando para trás. Em 1984,
o Brasil tinha 1,34% do PIB do
mundo; hoje, tem 1%. O que é isso? É o excesso de juros que estão
sendo pagos. No status econômico que estamos vivendo hoje seria
melhor, para mim, trabalhar apenas meia hora e fazer as melhores
aplicações financeiras. O duro é
sair do zero e continuar acreditando nas empresas, fazendo o
máximo possível com recursos
próprios.
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