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TROCA DA GUARDA
Vozes discordantes dentro de comitê e pressão política por taxas de juros mais baixas são obstáculos
Bernanke deve ter começo difícil no Fed
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
Na terça-feira, o legendário
Alan Greenspan preside sua última reunião no Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados
Unidos) e abre as portas para seu
sucessor, o economista Ben Bernanke, 52, indicado do presidente
George W. Bush, que chega ao
cargo com a promessa de continuidade e mais transparência à
instituição que regula os juros da
maior economia do mundo.
A transição é acompanhada
meticulosamente por analistas,
bancos e investidores, que antecipam quase uníssonos um ou dois
novos aumentos na taxa de juros
-hoje em 4,25% após escaladas
de 0,25 ponto percentual desde
junho de 2004. E os mercados celebram a anunciada intenção de
Bernanke de instalar gradualmente um sistema de metas explícitas de inflação, indicando ao
mercado os patamares considerados adequados e, portanto, sinalizando melhor a movimentação
da taxa de juros.
Alguns especialistas, porém,
consideram que Bernanke -que
será o 14º presidente do Fed- terá dificuldades para lidar com a
primeira troca na presidência do
Fed em quase duas décadas, devido ao forte escrutínio midiático,
às vozes discordantes dentro do
comitê do Fed e a um franco aumento da pressão político-eleitoral por taxas mais baixas -para
promover a criação de empregos
e o crescimento econômico.
Para Kevin Hassett, do American Enterprise Institute e ex-economista sênior do Fed, uma das
prioridades de Bernanke será justamente provar que ele não vai
sucumbir às pressões políticas e
soltar as rédeas da inflação. "Sem
a armadura que o Greenspan tinha, ele vai assumir o cargo pronto para levar tiros e ser muito mais
duro do que o mercado espera",
disse, referindo-se às expectativas
de academicismo de Bernanke
-professor de Princeton formado em Harvard e MIT. "Fevereiro
e março serão dois meses de provação como nunca vistos nas últimas duas décadas", completou.
Consenso
A primeiro reunião do conselho
presidida por Bernanke só vai
ocorrer em 28 de março e analistas avaliam que, até lá, haverá intensificação das especulações sobre a posição do Fed.
"Qualquer declaração será magnificada. Bernanke vai ter de impor disciplina e sua credibilidade
será estabelecida com um endurecimento", avalia Lawrence Lindsey, ex-conselheiro do Fed.
Fundado em 1913, o conselho
do Fed tem sete "governors" nomeados pelo presidente e confirmados pelo Senado, cada um com
mandato de 14 anos. Com outros
cinco membros dos 12 bancos
centrais regionais dos EUA, compõem o Fomc (Comitê Federal de
Mercado Aberto, na sigla em inglês), que estabelece os juros. São
os integrantes "não-federais" que
têm tradição mais forte de independência, e essa vertente pode
despontar sem a preponderância
de Greenspan. O comitê se reúne
a cada seis semanas.
"Será cataclísmico para o mercado achar que o Fed não está
agindo de forma unificada, sob
consenso do novo presidente",
disse Lindsey, cogitando que a
transparência pode ser prejudicial no início, uma vez que as diferenças de opiniões serão extrapoladas a partir da divulgação das
minutas das reuniões, ainda que
os votos sejam por consenso.
A expectativa, no entanto, é de
que Bernanke conquiste os mercados no primeiro semestre e resista às pressões. Bernanke também vai contar com a equipe de
cerca de 200 doutores em economia no corpo técnico do Fed.
"Ele terá as melhores respostas
para qualquer pergunta econômica. A economia se manterá no rumo, a não ser que ocorra grande
desvio. Teremos alguma incerteza
nos primeiros dois meses, mas o
que os mercados podem não estar
esperando é que ele tenha que
empurrar os juros até 4,75% para
mostrar isso", disse Hassett.
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