São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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TROCA DA GUARDA

Vozes discordantes dentro de comitê e pressão política por taxas de juros mais baixas são obstáculos

Bernanke deve ter começo difícil no Fed

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

Na terça-feira, o legendário Alan Greenspan preside sua última reunião no Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) e abre as portas para seu sucessor, o economista Ben Bernanke, 52, indicado do presidente George W. Bush, que chega ao cargo com a promessa de continuidade e mais transparência à instituição que regula os juros da maior economia do mundo.
A transição é acompanhada meticulosamente por analistas, bancos e investidores, que antecipam quase uníssonos um ou dois novos aumentos na taxa de juros -hoje em 4,25% após escaladas de 0,25 ponto percentual desde junho de 2004. E os mercados celebram a anunciada intenção de Bernanke de instalar gradualmente um sistema de metas explícitas de inflação, indicando ao mercado os patamares considerados adequados e, portanto, sinalizando melhor a movimentação da taxa de juros.
Alguns especialistas, porém, consideram que Bernanke -que será o 14º presidente do Fed- terá dificuldades para lidar com a primeira troca na presidência do Fed em quase duas décadas, devido ao forte escrutínio midiático, às vozes discordantes dentro do comitê do Fed e a um franco aumento da pressão político-eleitoral por taxas mais baixas -para promover a criação de empregos e o crescimento econômico.
Para Kevin Hassett, do American Enterprise Institute e ex-economista sênior do Fed, uma das prioridades de Bernanke será justamente provar que ele não vai sucumbir às pressões políticas e soltar as rédeas da inflação. "Sem a armadura que o Greenspan tinha, ele vai assumir o cargo pronto para levar tiros e ser muito mais duro do que o mercado espera", disse, referindo-se às expectativas de academicismo de Bernanke -professor de Princeton formado em Harvard e MIT. "Fevereiro e março serão dois meses de provação como nunca vistos nas últimas duas décadas", completou.

Consenso
A primeiro reunião do conselho presidida por Bernanke só vai ocorrer em 28 de março e analistas avaliam que, até lá, haverá intensificação das especulações sobre a posição do Fed.
"Qualquer declaração será magnificada. Bernanke vai ter de impor disciplina e sua credibilidade será estabelecida com um endurecimento", avalia Lawrence Lindsey, ex-conselheiro do Fed.
Fundado em 1913, o conselho do Fed tem sete "governors" nomeados pelo presidente e confirmados pelo Senado, cada um com mandato de 14 anos. Com outros cinco membros dos 12 bancos centrais regionais dos EUA, compõem o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês), que estabelece os juros. São os integrantes "não-federais" que têm tradição mais forte de independência, e essa vertente pode despontar sem a preponderância de Greenspan. O comitê se reúne a cada seis semanas.
"Será cataclísmico para o mercado achar que o Fed não está agindo de forma unificada, sob consenso do novo presidente", disse Lindsey, cogitando que a transparência pode ser prejudicial no início, uma vez que as diferenças de opiniões serão extrapoladas a partir da divulgação das minutas das reuniões, ainda que os votos sejam por consenso.
A expectativa, no entanto, é de que Bernanke conquiste os mercados no primeiro semestre e resista às pressões. Bernanke também vai contar com a equipe de cerca de 200 doutores em economia no corpo técnico do Fed.
"Ele terá as melhores respostas para qualquer pergunta econômica. A economia se manterá no rumo, a não ser que ocorra grande desvio. Teremos alguma incerteza nos primeiros dois meses, mas o que os mercados podem não estar esperando é que ele tenha que empurrar os juros até 4,75% para mostrar isso", disse Hassett.


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