São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Valor de mercado do Bradesco atinge US$ 36 bilhões

DO COLUNISTA DA FOLHA

O Bradesco deverá apresentar o maior lucro da história do sistema financeiro no país ao fechar os dados de 2005. Até setembro, acumulava lucro de R$ 4,05 bilhões. Esse resultado explica, em parte, o fato de o banco ter sido o recordista em valorização de ações em boa parte do planeta em 2005.
Segundo o presidente do Bradesco e da Febraban, Márcio Cypriano, esse resultado não se deve aos juros altos, e sim à busca de eficiência. Para ele, é um equívoco se pensar que os bancos ganham com juros elevados. "Os bancos ganham com empréstimos", afirma. (GB)
 

Folha - O que explica a alta valorização das ações dos bancos brasileiros em relação às outras instituições no mundo?
Márcio Cypriano -
Os bancos brasileiros, de um modo geral, apresentaram grande valorização no ano passado. Isso reflete o fato de o sistema financeiro no Brasil estar sólido e saudável. No Bradesco, o investidor reconheceu o trabalho que foi feito nos últimos anos. Nós segmentamos o banco em diversas áreas, o que fez com que aumentasse a rentabilidade.
Dividimos o banco em área private, corporate, criamos o prime, para atender aos clientes de alta renda. Para a pessoa jurídica, criamos a área corporate para atender às empresas com faturamento superior a R$ 180 milhões ao ano. Além disso, nos últimos dez anos fizemos cerca de 15 aquisições de outras instituições, e sempre mantendo a mesma marca.
Com isso, conseguimos uma economia de escala importante. Os investidores nacionais e estrangeiros perceberam todas essas mudanças. O índice de eficiência [despesas sobre receitas] do banco caiu para 48%, nível internacional dos grandes bancos. O mercado viu que o banco estava precificado de forma errada.

Folha - É isso que justifica a lucratividade recorde do banco?
Cypriano -
Claro. Só para dar uma idéia, o valor de mercado do Bradesco na sexta atingiu US$ 36 bilhões, uma valorização significativa. Em setembro de 2002, o banco valia US$ 2,5 bilhões. É verdade que o dólar ajudou. Em 2002, o dólar estava bem valorizado e, agora, acontece o contrário. Mas, mesmo assim, em reais, o valor do banco subiu de R$ 15,9 bilhões em setembro de 2002 para R$ 66 bilhões agora. As ações ordinárias subiram 110% em 2005.

Folha - Esse cenário pode mudar com a queda dos juros?
Cypriano -
Nós queremos que os juros caiam, e vão continuar em queda. Quanto menor for a taxa, mais operações de crédito serão feitas. Os juros precisam cair para as empresas aumentarem seus investimentos. Os bancos ganham mais nos empréstimos. É um equívoco pensar que os bancos ganham com os juros elevados.

Folha - Mas, no ano passado, o crédito já aumentou bastante.
Cypriano -
O crédito cresceu, mas principalmente para pessoas físicas. É importante também que o crédito cresça para pessoas jurídicas. O crédito está muito ligado à evolução da economia. No ano passado, o PIB não cresceu o esperado e, por isso, as empresas não investiram bastante. Se o PIB crescer cerca de 3,6% a 3,8% em 2006, o crédito deve ter um crescimento de 25% a 26%.

Folha - Por que os "spreads" no Brasil são os maiores do mundo?
Cypriano -
Os "spreads" estão caindo, em razão das medidas tomadas, como a lei de falências e de recuperação do crédito. São medidas que fatalmente trarão segurança jurídica maior às instituições, e, com isso, os "spreads" também vão cair. Mas é preciso deixar claro que os "spreads" são altos porque sobre eles incidem várias cunhas fiscais, como CPMF, IOF, PIS/Cofins e IR. A tributação sobre o "spread" é alta. Os impostos respondem por 30% do "spread". É isso que encarece o "spread" no Brasil. É importante ressaltar que o "spread" da pessoa física é de 8% a 10% ao ano, enquanto o da jurídica, de 3,5%. O problema é que quando se fala em "spread" só se toma como referência as taxas cobradas no cheque especial e no cartão de crédito, que são linhas especiais. Se forem levadas em conta as taxas cobradas para financiamentos imobiliário e de automóveis, os juros caem para menos de 1% ao mês. Mas essas taxas não são contabilizadas no cálculo do "spread".


Texto Anterior: Exuberância nacional: Ação de banco do país lidera altas nas Américas
Próximo Texto: Troca da guarda: Bernanke deve ter começo difícil no Fed
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.