São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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Greenspan criou aura enigmática

DE NOVA YORK

Os óculos grandes de armação escura, a testa franzida e a frieza são marcas registradas de Alan Greenspan, 79. Os 18 anos dele à frente do Federal Reserve lhe renderam o apelido de "maestro" e personificaram a política monetária americana e a própria instituição da qual se despede nesta terça-feira, dia 31.
Ele foi escolhido como presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos) pelo ex-presidente Ronald Reagan em agosto de 1987 e atravessou as gestões de George Bush, Bill Clinton e George W. Bush.
Enfrentou duas recessões, as crises mexicana e asiática, o estouro da bolha tecnológica, as fraudes corporativas e o 11 de Setembro e sairá celebrado por manter o rumo da economia.
Seu batismo de fogo aconteceu pouco mais de dois meses depois de assumir o cargo, na chamada "Segunda-Feira Negra" (19 de outubro de 1987), quando a Bolsa afundou, ameaçando um colapso total do sistema financeiro.
Com comunicado de uma linha, Greenspan garantiu liquidez ao mercado e sinalizou que não haveria pânico nem interferência direta na Bolsa.
Formado pela New York University e discípulo da filósofa libertária Ayn Rand, o economista sempre resistiu a modelos rígidos e grandes teses de pensamento econômico.

"Ambigüidade construtiva"
Ele cultivou ao longo dos anos uma aura enigmática, mas conquistou respeito dos mercados com o rigor técnico na previsão da inflação e fortes rédeas na especulação. Em público, manteve falas obscuras , que batizou de "ambigüidade construtiva".
Também cunhou termos como "exuberância irracional", ao falar da bolha no mercado acionário em 1996. Sua "aposentadoria" agora é recebida com calma pelos mercados, que reagiram inicialmente bem à nomeação de Ben Bernanke.
E sua carreira privada é ansiosamente aguardada. Completa 80 anos em março e deve se dedicar a um circuito de alto nível, recebendo até US$ 150 mil por palestra agenciada pelo Washington Speaker's Bureau. Depois de quase duas décadas, falará sem as restrições do cargo sobre um dos processos decisórios mais importantes da economia mundial.


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