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FINANÇAS
Além de amenizar regras para a entrada de dólares obtidos com vendas ao exterior, projeto prevê reforma ampla do mercado
Exportadores formatam nova lei cambial
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A recorrente idéia de reformar a
legislação cambial brasileira voltou ao cenário econômico, desta
vez pelas mãos dos exportadores.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a
Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior) prepararam um anteprojeto de lei
propondo o fim de qualquer restrição à entrada e à saída de moeda estrangeira no país.
O projeto ganhou apoio do ministro do Desenvolvimento, Luiz
Fernando Furlan, e do presidente
da Câmara, Aldo Rebelo (PC do
B-SP), que indicará um parlamentar para formalizar o início
da tramitação no Congresso.
O principal objetivo é eliminar
custos financeiros da exportação
e dar liberdade para que os exportadores internalizem (tragam para o Brasil) as divisas que recebem
por suas vendas quando a taxa de
câmbio for favorável. Atualmente, o prazo para internalizar o dinheiro é de até 210 dias.
Apesar de o foco de interesse ser
a exportação, o projeto é bem
mais amplo. Exemplo: redefine as
regras para operações de câmbio
e fala em "eliminar restrições de
quaisquer natureza" ao movimento de capital estrangeiro.
Na prática, porém, as propostas
significam mais uma alteração jurídica, já que hoje não há restrições à movimentação de capitais.
Mesmo assim, a mudança, se
aprovada, será importante porque torna lei, portanto mais estável, regras que o governo pode
mudar a qualquer momento. O
Conselho Monetário Nacional
pode, por exemplo, contigenciar
venda de moeda estrangeira ou fixar prazos, se necessário.
"É uma revisão estrutural do
mercado cambial. Um projeto de
livre conversibilidade da moeda",
explica Alessandro Teixeira, presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), que avalia o anteprojeto.
Segundo o consultor da Funcex
Emílio Garofalo, ex-diretor do BC
e um dos autores do projeto, com
as regras atuais, um exportador
não pode pagar dívidas em moedas estrangeiras sem internalizar
o dinheiro das exportações.
Segundo ele, a proposta é que o
dinheiro possa ficar em uma conta e ser utilizado para pagar compromissos externos. O exportador não poderia, porém, usar essa
conta de moedas estrangeiras para pagar dívidas em moedas nacionais. "Do jeito que está, há perdas por causa da diferença de preços na compra e na venda das
moedas e ainda é preciso pagar
CPMF na entrada e na saída do dinheiro. A mudança resultaria em
uma economia de 3% a 4%", diz.
Os defensores da conversibilidade argumentam que a estabilidade das regras para entrada e saída de capital reduz o prêmio de
risco cobrado nos empréstimos
feitos ao Brasil no exterior. Portanto, isso teria efeito também sobre a taxa básica de juros da economia, a Selic, que não precisaria
ser tão alta para atrair capital.
"É um bom momento para fazer uma reforma e abandonar esse sistema anacrônico. O melhor
momento é quando há abundância de capitais", afirma o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central.
Os críticos dizem que tamanha
liberdade deixaria o país vulnerável a choques externos. O governo
perderia o controle sobre a fuga
de capitais, já que teria sua margem para interferir no câmbio.
"Uma legislação mais permissiva não torna a moeda conversível.
O problema da moeda é de qualidade e o real vai continuar uma
moeda de terceira ou quarta categoria. O real é uma moeda inconversível. A conversibilidade será
boa em momentos de liquidez,
como atualmente, e péssima
quando há reversões desses ciclos", afirma o pesquisador do
Centro de Conjuntura da Unicamp, Ricardo Carneiro.
Ele também critica o fim dos
prazos para internalizar as receitas com exportação. "Isso torna o
fluxo comercial brasileiro um fluxo financeiro, portanto, volátil",
afirma Carneiro.
Colaborou Fernando Itokazu,
da Sucursal de Brasília
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