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Banco francês foi alertado, diz promotoria
Segundo investigadores, Bolsa havia avisado o Société Générale no ano passado sobre caso que lhe causou prejuízo de 4,9 bi
Corretor acusado de fraude disse em interrogatório que outros operadores agiram da mesma forma, mas
"em uma escala inferior"
DO "FINANCIAL TIMES"
DA FRANCE PRESSE
A reputação já abalada do Société Générale sofreu ainda
mais danos ontem, quando investigadores franceses alegaram que a principal Bolsa européia de derivativos já havia alertado no ano passado quanto a transações de Jérôme Kerviel, o homem acusado de comandar a maior fraude da história do setor bancário.
Investigadores franceses que
interrogaram Kerviel anunciaram que a Eurex havia começado a se preocupar com as posições que ele estava assumindo já em novembro de 2007.
A promotoria pública francesa não quis revelar quem exatamente havia sido alertado pela
Eurex, e a Bolsa se recusou a comentar, limitando-se a informar que seus "controles haviam funcionado devidamente". Quando questionado, Kerviel supostamente produziu
documentos falsos para justificar as posições expostas que
havia criado, disse Jean-Claude
Marin, da promotoria pública
francesa em Paris.
Enquanto isso, o "Financial
Times" descobriu que o Société
Générale havia descoberto a
fraude quando o montante das
falsas transações com um suposto parceiro, o Deutsche
Bank, levou executivos a consultar o banco alemão em 18 de
janeiro. Ao que consta, o Deutsche teria respondido que não
reconhecia a transação em
questão, o que gerou uma investigação frenética. O Deutsche se recusou a comentar.
A notícia torna ainda mais insegura a posição de Daniel Bouton, presidente do conselho do
banco. Nicolas Sarkozy, o presidente francês, disse ontem que
não gosta de "fazer julgamentos sobre as pessoas, especialmente quando elas estão enfrentando dificuldades".
Mas, afirmou Sarkozy, "em
um sistema que oferece recompensas generosas, o que pode
ser justificado, ninguém deveria escapar à responsabilidade
quando surge um problema".
Um dos integrantes do conselho do banco afirmou ontem
que Bouton havia sido mantido
no posto depois da revelação,
na semana passada, de uma
fraude que custou 4,9 bilhões
à instituição, apenas para "superar a crise, e depois ele será
substituído". Bouton disse que,
caso o conselho assim solicite,
ele deixará o cargo.
Bancos franceses -especialmente o Crédit Agricole e o
BNP Paribas- têm o Société
Générale na mira, mas é provável que qualquer tentativa de
tomada de controle demore alguns meses a ser realizada.
O Société Générale revelou
que Kerviel há mais de um ano
vinha assumindo posições não
autorizadas nos mercados futuros europeus, que geraram
exposição no valor de 50 bilhões, potencialmente fatal para o banco. O Société Générale
informou que ele havia ocultado os traços dos delitos por
meio de operações falsas de
hedge que os controles internos da empresa não detectaram. Kerviel se diz inocente.
Interrogatório
Kerviel foi acusado ontem de
"abuso de confiança" e, em seguida, posto em liberdade sob
controle judicial, disse a sua advogada, Elisabeth Meyer. O
corretor também foi acusado
de "falsificação" e "introdução
de dados informatizados em
um sistema de tratamento automatizado", acrescentou ela.
No entanto, os juízes de instrução encarregados do dossiê
não mantiveram as acusações
de "abuso de confiança agravada" e "tentativa de fraude", que
foram pedidas pelo Ministério
Público, que também havia solicitado a prisão de Kerviel.
Ele afirmou durante interrogatório que não era o único a
realizar operações de risco na
instituição e que outros operadores agiram da mesma forma,
apesar "de em uma escala inferior", informou o procurador
Marin. "Ele admite os fatos e
afirmou que, apesar de sua posição ser mais importante que
outras, houve operadores que
atuaram em um nível inferior."
De acordo com o procurador,
Kerviel sentia que "se beneficiava de certa tolerância" por
parte do banco.
Recomendação
Malcolm Knight, presidente
do BIS (Bank of International
Settlements) disse à Folha que
não é recomendável que pessoas que trabalham na área em
que são feitas as operações do
banco tenham conhecimento
das práticas do "back-office",
onde ficam registrados dados e
procedimentos da instituição,
como teria ocorrido no Société
Générale, segundo o banco.
Knight, que participou do
Fórum Econômico Mundial,
encerrado no domingo, foi reticente ao responder se o autor
presumido da fraude que causou perdas de 4,9 bilhões ao
Société Générale, Jérôme Kerviel, poderia ou não ter agido
sozinho, como afirma o banco.
Dois diretores de bancos, que
não quiseram se identificar,
disseram que o Société pode
ter tornado as coisas piores ao
agir sem divulgar o problema.
"As perdas poderiam ter sido
menores", disse um deles.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Colaborou MARIA CRISTINA FRIAS , enviada
especial a Davos
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