São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2008

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Banco francês foi alertado, diz promotoria

Segundo investigadores, Bolsa havia avisado o Société Générale no ano passado sobre caso que lhe causou prejuízo de 4,9 bi

Corretor acusado de fraude disse em interrogatório que outros operadores agiram da mesma forma, mas "em uma escala inferior"

DO "FINANCIAL TIMES"
DA FRANCE PRESSE

A reputação já abalada do Société Générale sofreu ainda mais danos ontem, quando investigadores franceses alegaram que a principal Bolsa européia de derivativos já havia alertado no ano passado quanto a transações de Jérôme Kerviel, o homem acusado de comandar a maior fraude da história do setor bancário. Investigadores franceses que interrogaram Kerviel anunciaram que a Eurex havia começado a se preocupar com as posições que ele estava assumindo já em novembro de 2007.
A promotoria pública francesa não quis revelar quem exatamente havia sido alertado pela Eurex, e a Bolsa se recusou a comentar, limitando-se a informar que seus "controles haviam funcionado devidamente". Quando questionado, Kerviel supostamente produziu documentos falsos para justificar as posições expostas que havia criado, disse Jean-Claude Marin, da promotoria pública francesa em Paris.
Enquanto isso, o "Financial Times" descobriu que o Société Générale havia descoberto a fraude quando o montante das falsas transações com um suposto parceiro, o Deutsche Bank, levou executivos a consultar o banco alemão em 18 de janeiro. Ao que consta, o Deutsche teria respondido que não reconhecia a transação em questão, o que gerou uma investigação frenética. O Deutsche se recusou a comentar.
A notícia torna ainda mais insegura a posição de Daniel Bouton, presidente do conselho do banco. Nicolas Sarkozy, o presidente francês, disse ontem que não gosta de "fazer julgamentos sobre as pessoas, especialmente quando elas estão enfrentando dificuldades".
Mas, afirmou Sarkozy, "em um sistema que oferece recompensas generosas, o que pode ser justificado, ninguém deveria escapar à responsabilidade quando surge um problema".
Um dos integrantes do conselho do banco afirmou ontem que Bouton havia sido mantido no posto depois da revelação, na semana passada, de uma fraude que custou 4,9 bilhões à instituição, apenas para "superar a crise, e depois ele será substituído". Bouton disse que, caso o conselho assim solicite, ele deixará o cargo.
Bancos franceses -especialmente o Crédit Agricole e o BNP Paribas- têm o Société Générale na mira, mas é provável que qualquer tentativa de tomada de controle demore alguns meses a ser realizada.
O Société Générale revelou que Kerviel há mais de um ano vinha assumindo posições não autorizadas nos mercados futuros europeus, que geraram exposição no valor de 50 bilhões, potencialmente fatal para o banco. O Société Générale informou que ele havia ocultado os traços dos delitos por meio de operações falsas de hedge que os controles internos da empresa não detectaram. Kerviel se diz inocente.

Interrogatório
Kerviel foi acusado ontem de "abuso de confiança" e, em seguida, posto em liberdade sob controle judicial, disse a sua advogada, Elisabeth Meyer. O corretor também foi acusado de "falsificação" e "introdução de dados informatizados em um sistema de tratamento automatizado", acrescentou ela.
No entanto, os juízes de instrução encarregados do dossiê não mantiveram as acusações de "abuso de confiança agravada" e "tentativa de fraude", que foram pedidas pelo Ministério Público, que também havia solicitado a prisão de Kerviel.
Ele afirmou durante interrogatório que não era o único a realizar operações de risco na instituição e que outros operadores agiram da mesma forma, apesar "de em uma escala inferior", informou o procurador Marin. "Ele admite os fatos e afirmou que, apesar de sua posição ser mais importante que outras, houve operadores que atuaram em um nível inferior."
De acordo com o procurador, Kerviel sentia que "se beneficiava de certa tolerância" por parte do banco.

Recomendação
Malcolm Knight, presidente do BIS (Bank of International Settlements) disse à Folha que não é recomendável que pessoas que trabalham na área em que são feitas as operações do banco tenham conhecimento das práticas do "back-office", onde ficam registrados dados e procedimentos da instituição, como teria ocorrido no Société Générale, segundo o banco.
Knight, que participou do Fórum Econômico Mundial, encerrado no domingo, foi reticente ao responder se o autor presumido da fraude que causou perdas de 4,9 bilhões ao Société Générale, Jérôme Kerviel, poderia ou não ter agido sozinho, como afirma o banco.
Dois diretores de bancos, que não quiseram se identificar, disseram que o Société pode ter tornado as coisas piores ao agir sem divulgar o problema.
"As perdas poderiam ter sido menores", disse um deles.


Tradução de PAULO MIGLIACCI Colaborou MARIA CRISTINA FRIAS , enviada especial a Davos


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