|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Alta do dólar reduz dívida pública pela primeira vez
Endividamento diminui em R$ 80,8 bi em 2008, sob influência da valorização das reservas internacionais
Em proporção ao PIB, dívida
pública cai de 42% para 36%;
governo cumpre meta de
aperto fiscal, mas crise deve reduzir superávit neste ano
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a ajuda da alta do dólar
ocorrida nos últimos meses, a
dívida do setor público brasileiro (governo federal, Estados,
municípios e estatais) ficou R$
80,8 bilhões menor no ano passado e chegou ao fim de 2008 a
R$ 1,070 trilhão, o que dá cerca
de R$ 5.900, em média, para cada brasileiro. Foi a primeira vez
que o endividamento, medido
em reais, caiu de um ano para
outro.
Na comparação com o PIB, a
queda foi mais acentuada. Em
dezembro de 2007, o endividamento público correspondia a
42% do total de riquezas que o
país produziu ao longo daquele
ano. No mês passado, a proporção caiu para 36%. E essa redução do endividamento foi consequência tanto do aperto fiscal
promovido pelo governo quanto da desvalorização do real.
O câmbio afeta o comportamento da dívida por causa das
reservas em moeda estrangeira
mantidas pelo BC. Nos anos
que antecederam a atual crise,
o Banco Central aproveitou a
situação mais tranquila do
mercado internacional para
comprar dólares e, assim, reforçar essas reservas.
Com a recente alta do dólar, o
valor dessa espécie de poupança, medido em reais, cresceu,
ajudando a reduzir a dívida pública. No ano passado, o câmbio
respondeu por uma redução de
R$ 98 bilhões nesse endividamento, segundo o BC.
Também contribuiu o aperto
fiscal feito pelo governo. No
ano passado, o superávit primário (economia feita para o
pagamento de juros) acumulado pelo setor público somou R$
118 bilhões, o que corresponde
a 4,07% do PIB.
O resultado ficou acima da
meta de 3,8% e só não foi maior
porque R$ 14,2 bilhões -cerca
de 0,5% do PIB- foram usados
pelo governo federal para formar o chamado fundo soberano, instrumento que vai permitir à União fazer investimentos
sem que isso seja contabilizado
como gasto -ou seja, reduza o
superávit primário deste ano.
Neste ano, porém, o superávit deve ser menor devido à desaceleração da economia brasileira, que já tem reduzido a arrecadação de impostos tanto do
governo federal quanto de Estados e municípios. Com menos receitas, o resultado primário tende a ser menor.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que, apesar da crise, as
metas traçadas pelo governo
devem ser cumpridas. "Sem
dúvida o nível de atividade
mais baixo acaba impactando
as receitas [do governo], mas
existe um forte comprometimento para o cumprimento da
meta, como vem acontecendo
há vários anos."
Nas contas de Silvio Campos
Neto, economista-chefe do
banco Schahin, em 2009 a economia do setor público para pagar juros deve ficar em 3,2% do
PIB. Ainda assim, ele afirma
que a queda em relação a 2008
"não é nada extremamente
preocupante", já que a dívida
pública tem se mantido em níveis baixos.
O economista-chefe do BNP
Paribas, Alexandre Lintz, estima que o superávit primário
deste ano deva ficar em 3,3% do
PIB, mas também afirma que o
recuo não deve trazer grandes
problemas para o país, pois a
economia brasileira não depende tanto de impulsos fiscais
para retomar o crescimento.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: O grande estelionato mercadista Próximo Texto: Gasto com juros chega a R$ 162 bilhões Índice
|