São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

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Brasil deve rever para baixo a previsão de crescer 4% em 2009

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O governo brasileiro vai rever, em março, a previsão de crescimento para o ano de 2009, cravada ainda em 4% pelo Ministério da Fazenda, disse ontem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Meirelles, como é natural, não quis antecipar se a revisão será para baixo, mas todas as indicações são nesse sentido. Começa pelo fato de que, ontem, quando a Folha pediu ao presidente do BC que comentasse a previsão de que o Brasil cresceria magérrimo 0,8%, feita por seus ex-colegas do IIF (Instituto de Finança Internacional, o conglomerado dos bancos privados globais), Meirelles rebateu de pronto:
"Mas o BIS ainda prevê 2,8%", aludindo aos números do Banco de Compensações Internacionais, espécie de banco central dos bancos centrais.
Além disso, o próprio BC, no seu relatório trimestral mais recente, previa crescimento de 3,2%, inferior portanto aos 4% em que a Fazenda insiste.
Por fim, ontem saiu mais um palpite internacional, desta vez do FMI, que fala em 1,8%.
Insistir em um número no qual não acredita nenhuma instituição internacional relevante seria pura teimosia que nem mesmo teria efeito político-psicológico interno.
De todo modo, o Brasil está se saindo razoavelmente bem na fotografia do momento econômico internacional, ao menos da maneira como o vê a elite global que se reúne todo janeiro em Davos.
É sintomático que até Stephen Roach, presidente para a Ásia da Morgan Stanley e que aceita o título de "Cassandra" por seu crônico pessimismo, diga que, em relação ao Brasil, é "moderadamente otimista", apesar de afirmar o óbvio: "O Brasil não goza de uma dispensa especial da crise global".
Nouriel Roubini, outro catastrofista que ganhou fama ao prever, quase sozinho, a crise que começou em 2007, também diz que é impossível para o Brasil escapar da recessão "globalmente sincronizada".
Mas acha que o país ainda pode ter crescimento de até 1%, embora ache zero um número mais provável. Emenda, no entanto, coerente com seu pessimismo: "Para o Brasil, qualquer crescimento perto de 3% equivale a aterrissagem forçada", devido ao problema da pobreza e da desigualdade.
O Brasil só não ficou bem na palestra que o megainvestidor George Soros fez aos jornalistas, como abertura para a mídia do encontro-2009. Soros exagerou ao dizer que há "uma crise financeira no Brasil", quando nenhum banco, até agora, apresentou os problemas que abalaram instituições de países ricos. Disse também que houve "uma série de falências", por apostas em derivativos.
Deve ser alusão aos episódios envolvendo a Sadia e a Aracruz, que apostaram contra o dólar, que se valorizou, perderam dinheiro, mas não quebraram.
Soros, como todos os analistas, aponta as três situações que causaram os problemas para o Brasil (e para outros emergentes), quando ia "bastante bem" até há pouco: "Dificuldade em rolar as dívidas que estão vencendo"; queda nas exportações, por falta de demanda do mundo rico; e o estouro da "notável" bolha das commodities.
Bill Rhodes, o presidente do Citigroup, até concorda com a análise, mas é otimista: "O Brasil sairá dessa melhor do que a maioria dos outros países". (CR)


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