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Brasil deve rever para baixo a previsão de crescer 4% em 2009
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O governo brasileiro vai rever, em março, a previsão de
crescimento para o ano de
2009, cravada ainda em 4% pelo Ministério da Fazenda, disse
ontem o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles.
Meirelles, como é natural,
não quis antecipar se a revisão
será para baixo, mas todas as
indicações são nesse sentido.
Começa pelo fato de que, ontem, quando a Folha pediu ao
presidente do BC que comentasse a previsão de que o Brasil
cresceria magérrimo 0,8%, feita por seus ex-colegas do IIF
(Instituto de Finança Internacional, o conglomerado dos
bancos privados globais), Meirelles rebateu de pronto:
"Mas o BIS ainda prevê
2,8%", aludindo aos números
do Banco de Compensações Internacionais, espécie de banco
central dos bancos centrais.
Além disso, o próprio BC, no
seu relatório trimestral mais
recente, previa crescimento de
3,2%, inferior portanto aos 4%
em que a Fazenda insiste.
Por fim, ontem saiu mais um
palpite internacional, desta vez
do FMI, que fala em 1,8%.
Insistir em um número no
qual não acredita nenhuma
instituição internacional relevante seria pura teimosia que
nem mesmo teria efeito político-psicológico interno.
De todo modo, o Brasil está
se saindo razoavelmente bem
na fotografia do momento econômico internacional, ao menos da maneira como o vê a elite global que se reúne todo janeiro em Davos.
É sintomático que até Stephen Roach, presidente para a
Ásia da Morgan Stanley e que
aceita o título de "Cassandra"
por seu crônico pessimismo,
diga que, em relação ao Brasil, é
"moderadamente otimista",
apesar de afirmar o óbvio: "O
Brasil não goza de uma dispensa especial da crise global".
Nouriel Roubini, outro catastrofista que ganhou fama ao
prever, quase sozinho, a crise
que começou em 2007, também diz que é impossível para o
Brasil escapar da recessão "globalmente sincronizada".
Mas acha que o país ainda
pode ter crescimento de até 1%,
embora ache zero um número
mais provável. Emenda, no entanto, coerente com seu pessimismo: "Para o Brasil, qualquer crescimento perto de 3%
equivale a aterrissagem forçada", devido ao problema da pobreza e da desigualdade.
O Brasil só não ficou bem na
palestra que o megainvestidor
George Soros fez aos jornalistas, como abertura para a mídia
do encontro-2009. Soros exagerou ao dizer que há "uma crise financeira no Brasil", quando nenhum banco, até agora,
apresentou os problemas que
abalaram instituições de países
ricos. Disse também que houve
"uma série de falências", por
apostas em derivativos.
Deve ser alusão aos episódios
envolvendo a Sadia e a Aracruz,
que apostaram contra o dólar,
que se valorizou, perderam dinheiro, mas não quebraram.
Soros, como todos os analistas, aponta as três situações
que causaram os problemas para o Brasil (e para outros emergentes), quando ia "bastante
bem" até há pouco: "Dificuldade em rolar as dívidas que estão
vencendo"; queda nas exportações, por falta de demanda do
mundo rico; e o estouro da "notável" bolha das commodities.
Bill Rhodes, o presidente do
Citigroup, até concorda com a
análise, mas é otimista: "O Brasil sairá dessa melhor do que a
maioria dos outros países".
(CR)
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