São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

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Câmara dos EUA aprova pacote de US$ 819 bilhões

Plano inclui exigência de que aço a ser usado em obras seja norte-americano

Pacote, que ainda vai passar pelo Senado, prevê US$ 300 bi em cortes de impostos e pode salvar até 3 milhões de empregos, diz Obama


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos (equivalente à Câmara dos Deputados) aprovou no início da noite de ontem um pacote de estímulo para a economia norte-americana de US$ 819 bilhões, um pouco mais que o PIB holandês, a 16ª maior economia mundial.
Foram 224 votos dos democratas a favor contra 177 da totalidade dos adversários do presidente Barack Obama no Partido Republicano na Câmara. Entre os democratas, houve ainda 11 votos contrários.
Inicialmente vendido à opinião pública com uma cifra de US$ 825 bilhões, o plano contabilizado pelo Comitê de Orçamento da Câmara chegou ao valor de US$ 816 bilhões. Na última hora, mais US$ 3 bilhões foram incluídos para investimentos no setor de transportes de massa. O plano figura entre os maiores pacotes de estímulo da história dos EUA.
O plano, com prazo de dois anos, ainda deve passar pelo Senado, onde Obama e os democratas têm a maioria. Mas eles ainda precisam de dois votos (chegando a 60) para impedir que os republicanos provoquem atrasos regimentais na tramitação do projeto.
O plano aprovado é praticamente idêntico ao que já havia sido vazado pelas lideranças democratas nos últimos dias, mas trouxe, em especial, uma grande surpresa protecionista: nas obras e nas novas construções que serão financiadas com os recursos do pacote, há a exigência formal de que o aço utilizado seja produzido nos EUA. "A não ser que inexista a disponibilidade do produto na ocasião", diz o documento.
O Brasil já teve vários contenciosos com os EUA no setor de aço, com a imposição de sobretaxas pelos norte-americanos para a entrada de produtos brasileiros no país. Em 2007, o Brasil exportou US$ 1,296 bilhão em produtos siderúrgicos para os EUA, o que representou 19,6% das vendas externas do setor naquele ano, segundo o Ministério de Minas e Energia.
De forma mais prosaica, o plano também proíbe o uso de seus fundos para qualquer tipo de transferência para "cassinos, aquários, zoológicos, campos de golfe e piscinas".
O pacote reserva ainda US$ 14 milhões para um site e remuneração de uma comissão de "notáveis" que deverá fiscalizar e prestar contas sobre a utilização dos recursos.
Antes da votação do plano do presidente Obama, a Câmara rejeitou pacote de estímulo apresentado pelos republicanos que incluía volume bem maior de cortes de impostos.
O plano de Obama prevê quase US$ 300 bilhões em cortes de impostos para os americanos. Mas muitos analistas acreditam que uma parcela pequena desse total acabará de fato estimulando a economia. Com dívidas recordes e diante da ameaça do desemprego, a tendência é que o dinheiro seja poupado ou usado para o pagamento de débitos em atraso.
O pacote prevê US$ 40 bilhões para estender o seguro-desemprego e o treinamento de mão-de-obra e US$ 39 bilhões para que os demitidos possam pagar por seguro-saúde. Para os mais pobres, o pacote pretende destinar US$ 20 bilhões para a compra de alimentos.
Após a aprovação na Câmara, Obama voltou a dizer que o plano poderá salvar até 3 milhões de empregos nos próximos anos. "No ano passado, os EUA perderam 2,6 milhões de empregos. Só na segunda, nossas maiores empresas cortaram outras 55 mil vagas. Esse foi um alerta para Washington de que o povo norte-americano quer que tomemos ações imediatas."


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