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Câmara dos EUA aprova pacote de US$ 819 bilhões
Plano inclui exigência de que aço a ser usado em obras seja norte-americano
Pacote, que ainda vai passar pelo Senado, prevê US$ 300 bi em cortes de impostos e
pode salvar até 3 milhões
de empregos, diz Obama
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos (equivalente à Câmara dos Deputados) aprovou no início da noite
de ontem um pacote de estímulo para a economia norte-americana de US$ 819 bilhões, um
pouco mais que o PIB holandês,
a 16ª maior economia mundial.
Foram 224 votos dos democratas a favor contra 177 da totalidade dos adversários do
presidente Barack Obama no
Partido Republicano na Câmara. Entre os democratas, houve
ainda 11 votos contrários.
Inicialmente vendido à opinião pública com uma cifra de
US$ 825 bilhões, o plano contabilizado pelo Comitê de Orçamento da Câmara chegou ao
valor de US$ 816 bilhões. Na última hora, mais US$ 3 bilhões
foram incluídos para investimentos no setor de transportes
de massa. O plano figura entre
os maiores pacotes de estímulo
da história dos EUA.
O plano, com prazo de dois
anos, ainda deve passar pelo
Senado, onde Obama e os democratas têm a maioria. Mas
eles ainda precisam de dois votos (chegando a 60) para impedir que os republicanos provoquem atrasos regimentais na
tramitação do projeto.
O plano aprovado é praticamente idêntico ao que já havia
sido vazado pelas lideranças
democratas nos últimos dias,
mas trouxe, em especial, uma
grande surpresa protecionista:
nas obras e nas novas construções que serão financiadas com
os recursos do pacote, há a exigência formal de que o aço utilizado seja produzido nos EUA.
"A não ser que inexista a disponibilidade do produto na ocasião", diz o documento.
O Brasil já teve vários contenciosos com os EUA no setor
de aço, com a imposição de sobretaxas pelos norte-americanos para a entrada de produtos
brasileiros no país. Em 2007, o
Brasil exportou US$ 1,296 bilhão em produtos siderúrgicos
para os EUA, o que representou
19,6% das vendas externas do
setor naquele ano, segundo o
Ministério de Minas e Energia.
De forma mais prosaica, o
plano também proíbe o uso de
seus fundos para qualquer tipo
de transferência para "cassinos, aquários, zoológicos, campos de golfe e piscinas".
O pacote reserva ainda US$
14 milhões para um site e remuneração de uma comissão
de "notáveis" que deverá fiscalizar e prestar contas sobre a
utilização dos recursos.
Antes da votação do plano do
presidente Obama, a Câmara
rejeitou pacote de estímulo
apresentado pelos republicanos que incluía volume bem
maior de cortes de impostos.
O plano de Obama prevê quase US$ 300 bilhões em cortes
de impostos para os americanos. Mas muitos analistas acreditam que uma parcela pequena desse total acabará de fato
estimulando a economia. Com
dívidas recordes e diante da
ameaça do desemprego, a tendência é que o dinheiro seja
poupado ou usado para o pagamento de débitos em atraso.
O pacote prevê US$ 40 bilhões para estender o seguro-desemprego e o treinamento de
mão-de-obra e US$ 39 bilhões
para que os demitidos possam
pagar por seguro-saúde. Para
os mais pobres, o pacote pretende destinar US$ 20 bilhões
para a compra de alimentos.
Após a aprovação na Câmara,
Obama voltou a dizer que o plano poderá salvar até 3 milhões
de empregos nos próximos
anos. "No ano passado, os EUA
perderam 2,6 milhões de empregos. Só na segunda, nossas
maiores empresas cortaram
outras 55 mil vagas. Esse foi um
alerta para Washington de que
o povo norte-americano quer
que tomemos ações imediatas."
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