São Paulo, sexta, 29 de janeiro de 1999

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Inflação preocupa os EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

As maiores preocupações do governo dos EUA em relação ao Brasil são o possível retorno de altas taxas de inflação e a eventual erosão do apoio político ao governo.
A linha de ação que ele provavelmente seguirá para ajudar a evitar que seus temores se concretizem será pressionar o Fundo Monetário Internacional (FMI) para manter o cronograma de seu programa com o país e até antecipar a liberação de alguns desembolsos.
O pior cenário imaginável para os norte-americanos é uma moratória da dívida pública brasileira.
O secretário-assistente do Tesouro dos EUA, Ted Truman, passou a semana em Brasília e São Paulo. Conversou com vários economistas, empresários, políticos. Ouviu muito mais do que falou.
Suas impressões do Brasil estão balizando as discussões que o secretário do Tesouro, Robert Rubin, tem mantido com o presidente Bill Clinton. E que o subscretário Larry Summers tem tido com o Congresso norte-americano.
Muitos dos interlocutores de Truman enfatizaram a necessidade de o FMI não juntar mais incerteza ao ambiente já tão volátil.
Embora a alteração da política de câmbio do Brasil tenha irritado técnicos do Fundo e ferido politicamente seus principais dirigentes, Michel Camdessus e Stanley Fischer, o FMI vai ser pressionado a manter a melhor disposição possível em relação ao país.
Na cúpula das organizações econômicas multilaterais, há consenso: qualquer sacrifício vale para evitar a moratória brasileira.
Se o Brasil se mantiver dentro de um programa com o Fundo, eventuais atrasos, descumprimentos de metas e contramarchas serão aceitos com muita tolerância. Mas a moratória será inaceitável.
O secretário Rubin já deu, em outubro do ano passado, o mote para a política do governo Clinton diante da crise econômica brasileira: "O Brasil é grande demais para se permitir que ele não dê certo".
A permanência de Pedro Malan no Ministério da Fazenda é considerada pelos líderes da chamada "comunidade financeira internacional" uma importante prova de estabilidade e de que o Brasil caminha na direção desejada.
Se as condições políticas não permitirem que ele prossiga no comando da economia, a indicação de seu substituto será aguardada com muita ansiedade.
Se for alguém respeitado pela comunidade (Marcílio Marques Moreira, Affonso Celso Pastore ou André Lara Rezende), as coisas continuarão mais ou menos iguais. Se for alguém desconhecido ou visto com desconfiança por ela, os receios aumentarão e a disposição de ajudar diminuirá.
A avaliação geral dos norte-americanos e das entidades multilaterais é a de que as políticas propostas na área fiscal pelo governo brasileiro são adequadas à situação.
Truman ouviu de vários brasileiros com quem se encontrou que o processo democrático às vezes é mais lento do que se desejaria, mas que não há alternativas para ele.
Ele também escutou várias vezes o argumento de que muito depende de seu próprio governo para que as coisas não evoluam na direção que ele mesmo não deseja.
Vários de seus interlocutores ficaram com a impressão de que Truman está consciente dessa responsabilidade e, apesar de tenso, confiante de que as coisas acabarão por se ajeitar a contento.
Ou seja: que, apesar de oscilações, possíveis tropeços e alguns sustos, o governo brasileiro será capaz de manter a coerência, acalmar os mercados, ver o dólar se estabilizar em margens razoáveis, enfrentar uma inflação moderada em 1999 e começar a virar o jogo no terceiro trimestre deste ano.



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