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Inflação preocupa os EUA
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
As maiores preocupações do
governo dos EUA em relação
ao Brasil são o possível retorno
de altas taxas de inflação e a
eventual erosão do apoio político ao governo.
A linha de ação que ele provavelmente seguirá para ajudar a
evitar que seus temores se concretizem será pressionar o Fundo Monetário Internacional
(FMI) para manter o cronograma de seu programa com o país
e até antecipar a liberação de alguns desembolsos.
O pior cenário imaginável para os norte-americanos é uma
moratória da dívida pública
brasileira.
O secretário-assistente do Tesouro dos EUA, Ted Truman,
passou a semana em Brasília e
São Paulo. Conversou com vários economistas, empresários,
políticos. Ouviu muito mais do
que falou.
Suas impressões do Brasil estão balizando as discussões que
o secretário do Tesouro, Robert Rubin, tem mantido com o
presidente Bill Clinton. E que o
subscretário Larry Summers
tem tido com o Congresso norte-americano.
Muitos dos interlocutores de
Truman enfatizaram a necessidade de o FMI não juntar mais
incerteza ao ambiente já tão volátil.
Embora a alteração da política de câmbio do Brasil tenha irritado técnicos do Fundo e ferido politicamente seus principais dirigentes, Michel Camdessus e Stanley Fischer, o FMI
vai ser pressionado a manter a
melhor disposição possível em
relação ao país.
Na cúpula das organizações
econômicas multilaterais, há
consenso: qualquer sacrifício
vale para evitar a moratória
brasileira.
Se o Brasil se mantiver dentro
de um programa com o Fundo,
eventuais atrasos, descumprimentos de metas e contramarchas serão aceitos com muita
tolerância. Mas a moratória será inaceitável.
O secretário Rubin já deu, em
outubro do ano passado, o mote para a política do governo
Clinton diante da crise econômica brasileira: "O Brasil é
grande demais para se permitir
que ele não dê certo".
A permanência de Pedro Malan no Ministério da Fazenda é
considerada pelos líderes da
chamada "comunidade financeira internacional" uma importante prova de estabilidade
e de que o Brasil caminha na direção desejada.
Se as condições políticas não
permitirem que ele prossiga no
comando da economia, a indicação de seu substituto será
aguardada com muita ansiedade.
Se for alguém respeitado pela
comunidade (Marcílio Marques Moreira, Affonso Celso
Pastore ou André Lara Rezende), as coisas continuarão mais
ou menos iguais. Se for alguém
desconhecido ou visto com
desconfiança por ela, os receios
aumentarão e a disposição de
ajudar diminuirá.
A avaliação geral dos norte-americanos e das entidades
multilaterais é a de que as políticas propostas na área fiscal
pelo governo brasileiro são
adequadas à situação.
Truman ouviu de vários brasileiros com quem se encontrou que o processo democrático às vezes é mais lento do que
se desejaria, mas que não há alternativas para ele.
Ele também escutou várias
vezes o argumento de que muito depende de seu próprio governo para que as coisas não
evoluam na direção que ele
mesmo não deseja.
Vários de seus interlocutores
ficaram com a impressão de
que Truman está consciente
dessa responsabilidade e, apesar de tenso, confiante de que
as coisas acabarão por se ajeitar
a contento.
Ou seja: que, apesar de oscilações, possíveis tropeços e alguns sustos, o governo brasileiro será capaz de manter a coerência, acalmar os mercados,
ver o dólar se estabilizar em
margens razoáveis, enfrentar
uma inflação moderada em
1999 e começar a virar o jogo no
terceiro trimestre deste ano.
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