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ARTIGO
É hora de um "Palocci do Desenvolvimento"
FRANCISCO PESSOA FARIA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) no
quarto trimestre do ano passado
veio abaixo do que esperava a média dos analistas, mas a decepção
deveu-se em parte a questões metodológicas, e não a uma surpresa
negativa em relação à evolução da
atividade. Questões metodológicas também tornam injusta a afirmação de que a queda do PIB observada em 2003 é a primeira desde 1992.
Há alguns meses o IBGE modificou o cálculo da variação de importantes subsetores de atividade,
e essas mudanças tiveram um impacto negativo no cálculo do valor
da produção nacional no ano passado. Assim, é importante não se
ater às taxas em si, mas procurar,
pelo resultado do PIB, avaliar os
movimentos gerais da produção e
a partir daí tentar vislumbrar o
que teremos pela frente.
Isso posto, pode-se afirmar que,
obviamente, o ano passado foi
muito ruim para a atividade econômica. Independentemente da
taxa de variação (que pode até ser
alterada para um pequeno valor
positivo quando os dados definitivos forem divulgados) ou de
uma definição técnica (tivemos
ou não uma recessão?), o que se
observou durante 2003 foi uma
forte contração do consumo e do
investimento, causada pela adoção de rígidas políticas fiscal e
monetária. Por outro lado, também se pode dizer que o pior já
passou.
O fundo do poço foi o período
entre março e setembro, observando-se a partir de então uma
recuperação capitaneada pelos
bens de consumo duráveis e bens
de capital, graças a melhores condições de crédito, redução do IPI
sobre automóveis, aumento da
confiança e bom desempenho da
economia mundial.
E a partir de agora? Como será
2004? Em primeiro lugar, será
mais positivo do que 2003. A recuperação das vendas de bens de
consumo durável citada acima,
aliada ao bom desempenho das
exportações, começou a ter impactos positivos sobre o nível de
produção, contribuindo para fornecer um dos componentes mais
essenciais de qualquer retomada
da atividade econômica: a confiança de consumidores e empresários. Trata-se, na verdade, de
um círculo virtuoso, pois, à medida que as vendas crescem, o mercado de trabalho começa a se fortalecer, o nível de confiança sobe,
os consumidores compram mais,
estimulando os empresários a investir, gerando renda e consumo
adicionais.
Amarras
Na atual conjuntura da economia brasileira, a confiança acaba
reforçada pela queda da inflação,
que vem proporcionando a recuperação, ainda que lenta, do rendimento real. Simultaneamente, o
ambiente externo também deverá
ser melhor neste ano do que no
ano passado: a economia mundial
crescerá mais, o que significa que
as exportações também deverão
dar a sua contribuição para a economia nacional.
Ou seja, salvo algum grande imprevisto, teremos uma expansão
do PIB em 2004. E de quanto será
essa expansão?
Bem, até o começo da semana
passada os analistas esperavam
uma taxa de 3,7%, mas as projeções estão sendo revistas para baixo, devido à divulgação da ata da
última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que sinalizou uma diminuição no ritmo
de queda da taxa de juros. Assim,
provavelmente as projeções do
PIB serão rebaixadas para um patamar mais próximo de 3,5%.
É um bom resultado considerando a média do período 2001-2003 (1%), mas, considerando o
quanto precisamos crescer para
gerar os postos de trabalho necessários para reduzir o desemprego,
é um número que deixa a desejar.
Isso, por sua vez, deveria nos levar a pensar em como estabelecer
as bases de um crescimento que
possibilitasse o tão aguardado
resgate social. O resultado do PIB
no ao passado e o recente balde de
água fria do Banco Central servem para lembrar mais uma vez
que um país que tem, como nós,
sérios problemas nos fundamentos macroeconômicos e com um
regime de metas de inflação sempre corre o risco de ter que segurar o crescimento abruptamente.
Teremos que viver com isso.
Mas talvez seja a hora de termos
um "Palocci do Desenvolvimento". Alguém que pertença ao chamado "núcleo duro do poder",
com raio de ação comparável ao
titular da Fazenda e que, sem resvalar no populismo ou na irresponsabilidade fiscal, consiga ao
menos articular e colocar em prática as medidas de incentivo ao
emprego e ao desenvolvimento.
Francisco Pessoa Faria é economista
sênior da LCA Consultores.
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