São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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MERCADO ABERTO

Indústria pressiona Mantega

O novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, irá passar amanhã pelo seu primeiro teste de fogo no timão da economia. Ele participa da reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) que vai fixar a nova TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que serve de referência para os empréstimos concedidos pelo BNDES.
Mantega sempre foi um defensor de baixar a TJLP para estimular os investimentos. Quando comandava o Ministério do Planejamento e também participava das reuniões do CMN, ele foi voto vencido por diversas vezes. O CMN é composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e ainda pelo presidente do Banco Central.
À frente do BNDES, Mantega defendeu várias vezes que a TJLP não tem impacto sobre a demanda e, conseqüentemente, sobre a inflação, já que ela atua sobre os investimentos. Mantega chegou a ter alguns atritos com Joaquim Levy, no ano passado, em razão dessa discussão.
Desde dezembro passado, a TJLP está em 9%, e a indústria quer que ela caia para até 7,5% ou 7%. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que também é membro do conselho de administração do BNDES, tem conversado muito com Mantega sobre o assunto. Nas reuniões do conselho, Mantega sempre apoiou a idéia de uma queda mais forte da TJLP para incentivar o investimento.
Na segunda, Skaf telefonou para Mantega e voltou a pedir para baixar a TJLP. Argumentou que seria um erro Mantega promover uma redução tímida da TJLP com o objetivo de mostrar que não iria mudar a política econômica. Para Skaf, com a queda da inflação e do risco-país, a TJLP poderia baixar para, no mínimo, 8%. "Mantega não tem de ter receio de baixar a TJLP", diz. Na semana passada, Skaf defendeu o mesmo ponto de vista num encontro com o presidente Lula.
Skaf considerou, no entanto, uma boa troca no comando da economia. Ele, que foi um crítico da política econômica de Antonio Palocci, acha que Mantega defende idéias mais próximas das da indústria.
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim, acha que Mantega deve dar prioridade aos investimentos em projetos básicos diretos. "O Brasil investe muito pouco, e nós precisamos de alguém com coragem para apostar na área produtiva", diz o empresário. "Já tem muito investidor em juros no país."
O presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, acha importante que, entre todos os elementos mais diretamente ligados ao Ministério da Fazenda, Mantega dê uma especial atenção à manutenção da política de 4,25% do PIB de superávit primário. "A questão central na Fazenda é segurar os gastos", diz Setubal. Já em relação aos juros, ele diz que se trata de uma questão do Banco Central. De qualquer forma, disse que "o juro já está numa trajetória descendente, e todo mundo está de acordo com isso".

FRASES

A questão central para Mantega na Fazenda é segurar os gastos


ROBERTO SETUBAL
presidente do banco Itaú


Guido Mantega não tem de ter receio de baixar a TJLP [Taxa de Juros de Longo Prazo]

PAULO SKAF
presidente da Fiesp


Nós precisamos de alguém com coragem para apostar na área produtiva

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
presidente do grupo Votorantim


NA PAUTA
Pascal Lamy, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), se reúne na sexta-feira com a diretoria da Fiesp, em SP, para discutir com um pequeno grupo de empresários as negociações comerciais do país no âmbito da Rodada Doha. A Fiesp também deve receber amanhã Peter Mandelson, comissário europeu do Comércio. Os dois desembarcam no Brasil para mais uma rodada de negociação com o governo. A TV digital será um dos temas da discussão.

MAIS CONSIGNADO
O Unibanco e a seguradora Mongeral acabam de fechar parceria para oferecer crédito consignado. As vendas começaram há um mês em Goiânia e em Brasília. Nos próximos meses, o MongeralCred deve ser oferecido em outras capitais. Com isso, a seguradora espera crescer a um ritmo de 10 mil contratos/mês e alcançar em dois anos uma carteira de R$ 500 milhões.

NOVA CONTA
A W/Brasil acaba de conquistar a conta de publicidade e a coordenação geral dos projetos de comunicação da Aracruz Celulose. Animado com a conquista, Washington Olivetto já pretende começar a trabalhar no projeto na próxima semana. Pertencente aos grupos Safra, Lorentzen e Votorantim, a Aracruz é líder mundial na produção de celulose de eucalipto para a indústria do papel. A empresa fatura US$ 1,5 bilhão por ano e responde por 10 mil empregos.

GARGALO AÉREO
Depois de pouco mais de três anos e de "avanços" no turismo -como parcerias com entidades privadas-, o governo Lula precisa agora "resolver" a questão das companhias aéreas. A avaliação é do presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), José Zuquim, que vê um setor aéreo fragilizado e concentrado como o próximo gargalo ao crescimento do turismo no país. O empresário defende que o governo ajude a Varig a sair da crise em que se encontra e que crie incentivos para a aparição de novas companhias aéreas, de forma a fortalecer o setor. Sobre ações conjuntas com o governo, Zuquim anuncia hoje, durante o 25º Encontro Comercial da entidade, em SP, a criação do "Vivências do Brasil", a versão nacional do programa que promove o contato de profissionais do país com destinos turísticos que sejam referência no exterior.

NOVA FÁBRICA
Desembarca hoje, em São Paulo, o presidente mundial da Basell, Ian Dunn, para inaugurar a primeira fábrica da companhia no Brasil, em Pindamonhangaba. Com investimento de US$ 20 milhões, a Basell focará o mercado automobilístico. A produção da fábrica paulista será totalmente direcionada para abastecer a demanda das montadoras no mercado doméstico.

DESEMBARQUE
A Berkley International, seguradora americana que atua também na Argentina e nas Filipinas, chega ao Brasil com um investimento inicial de R$ 10 milhões. "Devemos atuar principalmente na área de seguro-garantia em operações de construção, infra-estrutura, "agribusiness" e exportações", diz o presidente da Berkley Brasil, Horácio Oliveira d'Almeida e Silva.


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