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Comissão descarta capitalizar Petrobras com área do pré-sal
Mas grupo interministerial que encaminhará proposta à Presidência da República vai buscar "compensar" empresa
Ideia é dar para a companhia
parceria privilegiada com a
estatal que será criada para
administrar novas reservas;
múltis devem se contrapor
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Defendida pela Petrobras, a
capitalização da empresa por
meio do repasse de campos de
petróleo está praticamente
descartada pela comissão interministerial que estuda as
novas regras do setor.
Em contrapartida, o governo
analisa compensar a petroleira,
que pode se transformar na
parceira privilegiada da futura
estatal que irá administrar as
reservas do pré-sal no Brasil,
tema polêmico e que tem resistência das multinacionais.
A decisão caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os ministros responsáveis pelo
novo modelo de exploração de
petróleo não consideram "mais
necessária a capitalização" da
petroleira diante da crise econômica e da operação que garantiu os recursos para o plano
de investimento da Petrobras.
Por outro lado, o discurso de
todos é que a estatal "não será
abandonada". Aí entra a polêmica: criar, segundo um ministro, uma "certa liberdade" no
novo modelo de exploração de
petróleo dando poderes ao governo para escolher a Petrobras como parceira preferencial da estatal do pré-sal, sem
necessidade de licitação.
A proposta original da Petrobras era que o governo federal
aumentasse seu capital na empresa. O que se daria com a
transferência de campos de
óleo do pré-sal em poder da
União para a petroleira brasileira. Assim, ela teria como captar recursos no mercado para
desenvolver a exploração do
pré-sal e ainda ganharia novas
áreas para desenvolver.
Essa ideia "não tem mais
sentido" ou "já garantimos o dinheiro para ela investir" foram
alguns comentários ouvidos
pela reportagem de pelo menos
três ministros para justificar a
mudança de opinião do governo, que inicialmente acenou
positivamente à capitalização.
Um deles, porém, lembra que
o presidente Lula ainda não bateu o martelo, mas acrescenta
que a Petrobras não poderá reclamar se não levar o aumento
de capital com a incorporação
de novos campos do pré-sal.
"Ela não pode reclamar porque
não terá o que não era dela."
"Madrugadora"
Se todos concordam que a
Petrobras foi a "madrugadora"
do pré-sal e "não pode ser abandonada à margem do caminho", como diz um ministro,
criar a "certa liberdade" para
que ela seja escolhida como
parceira preferencial faz até
sentido estratégico, mas alguns
dos integrantes da comissão
alertam para os riscos. O governo estaria sujeito a críticas de
adotar um sistema sem transparência e poderia afugentar o
investidor estrangeiro do setor.
Um auxiliar do presidente
Lula, porém, não acredita em
dificuldades em defender a
"certa liberdade" do novo modelo. Segundo ele, essa regra
respaldaria os interesses do
país e da Petrobras.
O que está praticamente certo é que será adotado um modelo híbrido na exploração de
petróleo -convivendo um sistema de concessão e outro por
partilha de produção, com a
criação de uma estatal para gerir a riqueza do pré-sal.
Até agora, as linhas gerais indicam que o Conselho Nacional
de Política Energética será o
responsável pela definição de
como cada campo de petróleo
do pré-sal será explorado. O
conselho poderá decidir, por
exemplo, que um determinado
campo ficará nas mãos da estatal do pré-sal. Outro seria leiloado nos moldes atuais, com a
empresa vencedora ganhando
a concessão para aquela área.
Claro que, nos planos do governo, as áreas mais lucrativas
ficariam com a nova estatal. Ou
seja, boa parte ou a totalidade
do pré-sal, que envolve uma
área de 112 mil quilômetros
quadrados -dos quais 41 mil,
ou 38%, já estão leiloados. A escolha dos parceiros da estatal
poderia se dar por dois caminhos. Prevalecendo a tese da
"certa liberdade", o governo definiria os campos em que a Petrobras seria o sócio e o operador. Ou então a parceira da estatal seria escolhida por leilão,
modelo que agrada mais às
companhias internacionais.
Alguns ministros temem que
a escolha por leilão das áreas
que ficarão com a estatal possa
prejudicar a Petrobras, pois as
múltis entrariam pesado nas licitações. A petroleira brasileira
já tem várias áreas do pré-sal
(35 mil quilômetros quadrados
dos 41 mil licitados) e não teria
como bancar novos investimentos integralmente.
É por isso até que o governo
considera que não existe tanta
pressa assim para aprovar as
novas regras.
Primeiro, a recessão mundial
dá mais tempo para explorar o
pré-sal brasileiro e somente as
áreas já licitadas serão suficientes para dar uma certa vantagem ao país quando o mundo
voltar a crescer. Segundo, porque, pela escassez de crédito, a
Petrobras não teria onde obter
dinheiro para disputar com as
múltis outras licitações.
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