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TRABALHO
Trabalhadores desistem de reposição automática e aceitam abono em troca de resolver impasse na GM de São José
Governo intervém e grevista "esquece" gatilho
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois da intervenção do governo nas negociações salariais
entre representantes dos trabalhadores e da GM, o Sindicato dos
Metalúrgicos de São José dos
Campos recuou e retirou a exigência de gatilho salarial de 3%.
A reivindicação fazia parte da
campanha da categoria para repor perdas da inflação.
A decisão foi anunciada ontem
à noite em reunião entre o secretário de Relações do Trabalho,
Osvaldo Bargas, o presidente do
sindicato, Luiz Carlos Prates, o
Mancha, e o vice-presidente da
GM, José Carlos Pinheiro Neto.
Na tentativa de resolver a greve
na unidade de São José, parada há
uma semana, os metalúrgicos fizeram uma contraproposta à empresa: pagamento de abono de R$
900 em uma única parcela, discussão do reajuste salarial de
10,39% na data-base da categoria
(novembro), estabilidade no emprego e pagamento dos dias parados. "Se mantivéssemos o pedido
de gatilho, não teríamos a chance
de chegar a um acordo. Esse assunto voltará na próxima campanha", afirmou Prates.
Pinheiro Neto informou que a
empresa mantém a proposta fechada anteriormente com a CUT
e a Força Sindical, que prevê abono de R$ 900 pago em em maio e
julho. Nova reunião está marcada
para hoje, às 10h, entre representantes do Sinfavea (sindicato das
montadoras) e dos trabalhadores.
A GM informou que os prejuízos
acumulados com a greve em São
José, que afetou a produção em
Gravataí (RS) e em São Caetano
do Sul (SP), já somam US$ 30 milhões. Segundo o sindicato, 15%
dos 10.500 operários de São José
retornaram ontem ao trabalho
após pressão da empresa.
Horas antes de os metalúrgicos
retirarem o gatilho salarial de sua
pauta de exigências, o ministro do
Trabalho, Jaques Wagner, afirmou que iria intervir nas negociações salariais caso empresas e metalúrgicos optassem por esse mecanismo de reposição da inflação.
"Uma das demandas dos metalúrgicos da GM é a tentativa de fixar uma espécie de gatilho salarial. Isso seria incompatível com a
lei. Se isso for acertado entre eles,
o governo vai intervir", disse o
ministro durante evento na Fundacentro.
O papel das DRTs (Delegacias
Regionais do Trabalho), diz, é
mediar os conflitos que existem
entre patrões e empregados, desde que as partes queiram a mediação. "Intervenção existiu no período do regime militar. Estamos
bem longe dele", afirmou. "É evidente que temos interesse num
setor tão importante para a economia e por isso nos colocamos à
disposição. Se for chamado para
ir à porta da fábrica, irei."
O ministro disse que vê com naturalidade e ao mesmo tempo
com preocupação as greves que
acontecem em São Paulo. "Existia
uma demanda reprimida havia
algum tempo, já que, no ano passado, a inflação ultrapassou os padrões em que vinha se mantendo.
Agora, nos interessa a pacificação
das relações capital/trabalho por
meio de negociações para que se
tenha um ambiente que seja favorável à geração de emprego."
Surpresa desagradável
José Maria de Almeida, membro da direção nacional da CUT e
presidente do PSTU, que defende
o gatilho salarial cada vez que a inflação bater em 3%, disse que a
afirmação do ministro do Trabalho é "mais uma surpresa desagradável" do governo Lula. "O governo não interveio quando as
empresas aumentaram os preços
dos remédios, da gasolina, da
energia elétrica e do gás, mas vai
intervir quando o trabalhador
conseguir aumento de salário?"
Para ele, as afirmações do ministro mostram que "o governo
está na defesa do lucro das empresas e contra o aumento do poder
de compra dos trabalhadores".
Segundo o secretário de Relações do Trabalho, não houve "interferência" do governo. "Estamos cumprindo nosso papel. O
ministério participou das negociações com a Vasp e há um pedido para mediar uma audiência
entre esse mesmo sindicato de
São José e a Embraer."
Colaborou a Folha Vale
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