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INTEGRAÇÃO
Idealizador do projeto que ligaria Venezuela, Brasil e Argentina, porém, diz que preço do gás compensaria investimentos
Especialistas vêem entrave em supergasoduto
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar dos desafios técnicos e
políticos, o projeto do gasoduto
Venezuela-Brasil-Argentina é viável, já que o gás chegará a Buenos
Aires a no máximo US$ 30 o barril
equivalente ao do petróleo, cifra
competitiva até mesmo com os
cenários mais otimistas traçados
para o preço futuro do petróleo,
avalia Ildo Sauer, diretor de Gás e
Energia da Petrobras.
Idealizador do projeto, Sauer
disse, em entrevista à Folha, que o
maior desafio será o "político", e
não o técnico, embora existam dificuldades como cruzar o maciço
das Guianas e o rio Amazonas.
Já especialistas ouvidos pela Folha apontam ao menos três entraves: a viabilidade econômica do
projeto, os problemas ambientais
e a dificuldade atual em precisar
as reservas de gás da Venezuela.
Além disso, dizem, o gasoduto
criará uma forte dependência do
Brasil (ainda maior do que com a
Bolívia) e da Argentina em relação à Venezuela.
Sauer nega, no entanto, que o
governo boliviano rejeite o projeto, que tem como principal avalista político o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aliado do
presidente Evo Morales. Anteontem, o vice-ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Julio Gómez,
disse que o projeto do gasoduto
gigante "é uma maluquice" que
não "tem nem pé nem cabeça".
Sauer disse que apresentou a
idéia ao vice-presidente da Bolívia, Alvaro García Linera, que se
mostrou favorável ao projeto, que
também conta com a aprovação
do presidente Evo Morales.
Com mais de 7.000 km de extensão, o gasoduto terá capacidade para transportar 1 milhão de
barris equivalentes/dia de gás,
consumindo US$ 23 bilhões em
investimentos.
A idéia é abastecer com gás venezuelano os mercados de Brasil,
Argentina, Uruguai e, numa segunda fase, Chile (que já está conectado à rede argentina de dutos) e Paraguai, além de interligar
Peru e Bolívia à rede sul-americana de gasodutos.
Para Sauer, a grande vantagem
do gasoduto é a "interiorização"
do gás, o que promoverá o desenvolvimento de novos eixos econômicos no Brasil. Citou como
exemplos pólos de mineração e
siderurgia no Pará e no Amapá, o
desenvolvimento da agroindústria no Centro-Oeste e o avanço
da geração de energia termelétrica no Nordeste, cuja capacidade
de abastecimento chega ao limite.
Se a opção fosse comprimir o
gás e transportá-lo por navios na
modalidade de GNL (Gás Natural
Liquefeito), o insumo chegaria ao
litoral, onde já existe o acesso ao
gás natural, avalia. Sauer afirma
que o tamanho do projeto do gasoduto traz um "ganho de escala"
que permite preços competitivos.
Além disso, o gasoduto, diz, trará
"independência" entre fornecedores e compradores, já que um
produtor não dependerá de só
um único mercado e vice-versa.
O secretário de Estado de Energia, Petróleo e Indústria Naval do
Rio, Wagner Victer, discorda. Diz
que haverá uma "forte relação de
dependência". "O projeto, além
de ser inviável, um sonho, criará
uma fragilidade maior do que
com a Bolívia", disse.
Para ele, a integração energética
deve ocorrer por meio de plantas
de GNL, o que reduz o "risco político", já que o gás pode ser importado de outras fontes em caso de
instabilidade na Venezuela.
Victer disse ainda que o preço
do gás, "mesmo que saísse a US$ 1
da Venezuela", não chegaria a
Buenos Aires com preço competitivo, "a menos que o Brasil subsidiasse o gás fornecido à Argentina". Outro erro do projeto, afirma, foi alijar a Bolívia.
Para o especialista Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de
Infra-Estrutura), a maior dúvida é
quanto ao tamanho das reservas
da Venezuela. "Ninguém sabe
quanto gás existe lá. Não é possível fazer um gasoduto com investimentos de US$ 23 bilhões sem
essa informação. Nenhuma estatística da Venezuela é confiável."
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