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Telefónica e bancos terão controle da Telecom Italia por US$ 5,6 bi
Grupo espanhol, dono da Telefônica e da Vivo no Brasil, será um dos controladores da "tele" italiana, que detém a TIM e parte da Brasil Telecom
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado brasileiro de telefonia começa maio sob o signo
da incerteza, depois de anúncio
ontem à noite na Europa: um
consórcio liderado pela Telefónica, maior operadora espanhola, arrematou a Olimpia,
holding controladora da Telecom Italia, maior tele italiana.
Para fechar a operação, o
consórcio desembolsou 4,1
bilhões (equivalentes a cerca
de US$ 5,58 bilhões ou R$ 11,2
bilhões) em dinheiro vivo.
Segundo o comunicado, a
Telefónica adquire 42,3% da
nova Olímpia. O restante ficará
com investidores italianos:
28,1% serão do grupo Generali,
além de ações que ficarão com
os bancos Mediobanca e Intesa
Sanpaolo (cada um com 10,7%)
e a família Benetton (8,2%).
Na prática, com a aquisição,
o consórcio terá 23,6% da Telecom Italia, com amplos poderes, incluindo a indicação dos
conselheiros da operadora.
A Olimpia era comandada
pela Pirelli, maior companhia
italiana, e a Benetton. O acordo
diz que a Pirelli deixou a holding, enquanto a Benetton reduziu a sua participação.
Brasil
No Brasil, a operação promete deflagrar disputas jurídicas.
A Telefónica espanhola é dona da Telefônica, concessionária de telefonia fixa no Estado
de São Paulo. Também controla a oferta de internet, banda
larga e TV a cabo e possui 50%
da Vivo, maior operadora móvel do país, com 28,4% de participação do mercado.
A Telecom Italia, por sua vez,
controla a TIM, segunda maior
tele móvel do Brasil (25,8% do
mercado). Tem ainda 38% da
Solpart, holding controladora
da Brasil Telecom, operadora
de telefonia fixa das regiões
Norte, Sul e Centro-Oeste.
Trocando em miúdos: a Telefônica passa a comandar, mesmo que indiretamente, duas
das três maiores teles fixas do
país (a outra é a Telemar) e as
duas operadoras líderes em celular, além da tele móvel da
Brasil Telecom, a BrT GSM.
No entanto, pelas regras vigentes da telefonia nacional,
um mesmo grupo não pode estar no comando de duas teles
concorrentes. Resultado: a
operação terá de ser submetida
à Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações).
A Folha conversou com dois
conselheiros da Anatel. A opinião de ambos é que será muito
difícil aprovar a operação do
jeito que está. Para eles, é muito provável que sejam impostas
restrições à Telefônica -isso,
claro, se a lei não mudar.
Há algum tempo, os grandes
investidores na área de telefonia têm feito pesado lobby para
a alteração da lei que rege o setor. Os mais aguerridos têm sido um grupo de fundos de pensão liderados pela Previ (ligada
ao Banco do Brasil e maior entidade de previdência complementar da América Latina).
A batalha pela mudança na
lei, entretanto, tinha endereço
certo: a permissão de unir a
Brasil Telecom com a Telemar,
maior operadora brasileira,
que também pertence aos fundos de pensão. O discurso é
permitir ao Brasil criar uma
frente de resistência nacional
aos avanços da Telefónica e da
América Móvil, grupo mexicano do empresário Carlos Slim
que controla a Embratel (longa
distância) e a Claro (móvel).
O grupo mexicano, aliás, era
um dos interessados na Telecom Italia e chegou a tentar adquirir parte da empresa.
Seja como for, o discurso de
mudança nas regras das teles
pode ficar inócuo para os fundos de pensão, pois, se as novas
normas saírem, os espanhóis é
que serão beneficiados.
Além da Anatel, é muito provável que a venda seja alvo do
Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
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