São Paulo, domingo, 29 de abril de 2007

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Telefónica e bancos terão controle da Telecom Italia por US$ 5,6 bi

Grupo espanhol, dono da Telefônica e da Vivo no Brasil, será um dos controladores da "tele" italiana, que detém a TIM e parte da Brasil Telecom

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado brasileiro de telefonia começa maio sob o signo da incerteza, depois de anúncio ontem à noite na Europa: um consórcio liderado pela Telefónica, maior operadora espanhola, arrematou a Olimpia, holding controladora da Telecom Italia, maior tele italiana.
Para fechar a operação, o consórcio desembolsou 4,1 bilhões (equivalentes a cerca de US$ 5,58 bilhões ou R$ 11,2 bilhões) em dinheiro vivo.
Segundo o comunicado, a Telefónica adquire 42,3% da nova Olímpia. O restante ficará com investidores italianos: 28,1% serão do grupo Generali, além de ações que ficarão com os bancos Mediobanca e Intesa Sanpaolo (cada um com 10,7%) e a família Benetton (8,2%).
Na prática, com a aquisição, o consórcio terá 23,6% da Telecom Italia, com amplos poderes, incluindo a indicação dos conselheiros da operadora.
A Olimpia era comandada pela Pirelli, maior companhia italiana, e a Benetton. O acordo diz que a Pirelli deixou a holding, enquanto a Benetton reduziu a sua participação.

Brasil
No Brasil, a operação promete deflagrar disputas jurídicas.
A Telefónica espanhola é dona da Telefônica, concessionária de telefonia fixa no Estado de São Paulo. Também controla a oferta de internet, banda larga e TV a cabo e possui 50% da Vivo, maior operadora móvel do país, com 28,4% de participação do mercado.
A Telecom Italia, por sua vez, controla a TIM, segunda maior tele móvel do Brasil (25,8% do mercado). Tem ainda 38% da Solpart, holding controladora da Brasil Telecom, operadora de telefonia fixa das regiões Norte, Sul e Centro-Oeste.
Trocando em miúdos: a Telefônica passa a comandar, mesmo que indiretamente, duas das três maiores teles fixas do país (a outra é a Telemar) e as duas operadoras líderes em celular, além da tele móvel da Brasil Telecom, a BrT GSM.
No entanto, pelas regras vigentes da telefonia nacional, um mesmo grupo não pode estar no comando de duas teles concorrentes. Resultado: a operação terá de ser submetida à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
A Folha conversou com dois conselheiros da Anatel. A opinião de ambos é que será muito difícil aprovar a operação do jeito que está. Para eles, é muito provável que sejam impostas restrições à Telefônica -isso, claro, se a lei não mudar.
Há algum tempo, os grandes investidores na área de telefonia têm feito pesado lobby para a alteração da lei que rege o setor. Os mais aguerridos têm sido um grupo de fundos de pensão liderados pela Previ (ligada ao Banco do Brasil e maior entidade de previdência complementar da América Latina).
A batalha pela mudança na lei, entretanto, tinha endereço certo: a permissão de unir a Brasil Telecom com a Telemar, maior operadora brasileira, que também pertence aos fundos de pensão. O discurso é permitir ao Brasil criar uma frente de resistência nacional aos avanços da Telefónica e da América Móvil, grupo mexicano do empresário Carlos Slim que controla a Embratel (longa distância) e a Claro (móvel).
O grupo mexicano, aliás, era um dos interessados na Telecom Italia e chegou a tentar adquirir parte da empresa.
Seja como for, o discurso de mudança nas regras das teles pode ficar inócuo para os fundos de pensão, pois, se as novas normas saírem, os espanhóis é que serão beneficiados.
Além da Anatel, é muito provável que a venda seja alvo do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).


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