São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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BENJAMIN STEINBRUCH

Não ao medo e retrocesso!


No 1º de Maio, cabe reivindicar o combate aos redutos de ortodoxia que ainda emperram o crescimento do emprego

COSTUMO aproveitar a proximidade do Dia do Trabalho para reflexões sobre a importância do emprego. Não convém mudar esse hábito, pois a experiência mostra que o desemprego é talvez o principal fator desagregador da família, que leva pais e mães à terrível sensação de perda da dignidade humana.
Sete anos atrás, em maio de 2002, observei aqui que as comemorações do 1º de Maio no Brasil não faziam muito sentido. Apesar da abundância de direitos trabalhistas, havia absoluto desinteresse pela criação de novos postos de trabalho. Naquela época, em um único mês (março) São Paulo perdeu 103 mil empregos, por conta de política econômica equivocada, voltada unicamente para a estabilidade monetária.
Um ano depois, já sob o governo Lula, a inflação caía e a credibilidade externa brasileira se recuperava, mas o país não estava feliz: os empregos não surgiam. Na Grande São Paulo, o 1º de Maio foi comemorado com quase 20% da população economicamente ativa desempregada. Enquanto isso, o Banco Central mantinha uma taxa básica de juros de 26,5% e o governo Lula caminhava na mesma direção do antecessor, cuidando preferencialmente do sucesso dos índices macroeconômicos, sem mostrar coragem política para apostar no crescimento com investimento público, oferta de crédito e redução de juros.
O Dia do Trabalho de 2004 não foi diferente. Boas notícias vinham do interior do país, onde o emprego começava a crescer na esteira do agronegócio. Apesar disso, nas capitais a situação permanecia inalterada, com queda do emprego formal e desemprego próximo de 13%. Para complicar, o salário mínimo teve um reajuste simbólico -incapaz de promover aumento da renda e do consumo- sob o argumento de que uma política salarial mais generosa teria impacto forte na Previdência, cujo déficit atingia R$ 31 bilhões.
A situação começou a mudar em 2005, não por acaso. De 19,5% em abril daquele ano, a taxa básica de juros foi seguidamente reduzida até chegar a 11,25%. A economia reagiu e os empregos surgiram. A geração líquida de postos de trabalhos formais atingiu 1,2 milhão em 2006 e 1,6 milhão em 2007. Em janeiro passado, pela primeira vez desde que o IBGE iniciou a atual série de pesquisas, o número de desempregados caiu abaixo de 2 milhões nas seis principais regiões metropolitanas do país. Em artigo de um ano atrás, contei a história de um amigo empresário, Claudionor, que decidira fechar a linha de produção para exportação de sua empresa, com corte de uma centena de empregos. Embora a demanda local estivesse aquecida, ele sofria a concorrência de importados por causa do dólar barato. De lá para cá, o dólar caiu ainda mais e outros Claudionores surgiram na indústria brasileira.
No primeiro trimestre deste ano, foram criados 554 mil empregos com carteira assinada. O ritmo é bom e há mais motivos para otimismo neste Dia do Trabalho do que nos anteriores. Mas sem rojões. Ao olhar para o futuro imediato, observa-se que o Banco Central retomou a política de elevação dos juros, o câmbio está incrivelmente desfavorável aos Claudionores e a economia mundial vive momento de incerteza generalizada.
Nos palanques do 1º de Maio, cabem três importantes reivindicações trabalhistas: investimentos públicos e privados, expansão de crédito e redução de custos financeiros. Em resumo, trata-se do combate aos redutos de ortodoxia que ainda emperram o crescimento continuado da economia e do emprego. A ameaça de crise global não justifica a volta da política do medo e do retrocesso.


BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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