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Grécia pode precisar de socorro
de € 120 bi
Europa e FMI já discutem mais que dobrar o pacote inicial de ajuda a Atenas, mas Alemanha ainda resiste a liberar recursos
Dirigentes do Fundo e do Banco Central Europeu se reuniram ontem com a chanceler Angela Merkel
para discutir socorro à Grécia
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Aumentou o consenso no
mercado de que os € 45 bilhões
oferecidos à Grécia pela União
Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional na última
semana são insuficientes para
evitar que o país tenha de reestruturar sua dívida ante o enorme rombo fiscal em suas contas e os juros crescentes sobre
seus títulos soberanos.
Entre rumores e avaliações, a
cifra que ressoou foi € 120 bilhões, citada por parlamentares alemães à mídia europeia
como "o mínimo necessário"
após reunião com o presidente
do Banco Central Europeu,
Jean-Cleaude Trichet, e o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, em Berlim.
É metade da dívida total grega (boa parte da qual os alemães já são credores) e quase o
triplo do plano inicial, que não
foi sequer aprovado e que seria
capaz de sanar apenas as obrigações que vencem neste ano
-e isso contanto que os juros
parem de disparar.
Ironicamente, em um círculo vicioso a inflar o problema, é
o Parlamento alemão o maior
entrave ao pacote, e a demora
tem enervado os mercados,
que ontem na Europa continuaram a cair. O maior recuo
foi no pregão de Madri (3%).
No Brasil, a Bovespa fechou em
alta de 0,22%.
É preciso o aval do Legislativo para que Berlim pingue sua
contribuição -quase metade
do aporte já prometido pelos
países membros da zona do euro, € 30 bilhões. Com o eleitorado alemão majoritária e veementemente contra, os parlamentares resistem a votar.
A chanceler Angela Merkel
participou do encontro de ontem e voltou a enfatizar a necessidade de ação rápida. Ecoa
Paris, Roma e agora até Londres, que não adota o euro e,
portanto, não está envolvida no
pacote (em última análise, uma
boia para impedir que a moeda
comum, que já paira no patamar de US$ 1,30, afunde mais).
A demora também traz à baila o fantasma do contágio regional, que ganhou força quando a agência de classificação de
risco Standard and Poor's, um
dia após fazê-lo com Atenas,
baixou a nota da Espanha, cuja
economia é maior e quase tão
endividada quanto a grega.
O chefe da OCDE (que reúne
31 países ricos), Angél Gurría,
equiparou o contágio ao vírus
ebola, aquele que liquefaz órgãos e mata o doente em poucos dias. "Quando você percebe
que tem, corta a perna para sobreviver", disse à Bloomberg.
Mas com um longo caminho
burocrático a percorrer, envolvendo parlamentos, a Comissão Europeia e o conselho diretor do FMI, é improvável que o
pacote saia antes do dia 10. Até
15 de maio, vencem cerca de €
20 bilhões em títulos gregos, e
a velocidade com que o ágio sobre os papéis tem subido (o de
dois anos já bateu em 15%) pode aumentar o valor.
Sem declarações
Nem Trichet nem Strauss-Kahn confirmaram a possibilidade de se aumentar o empréstimo. Não houve, aliás, comunicado oficial sobre o tema -o
que surpreende, dada a constância de declarações recentes
para acalmar os investidores.
Anteontem, no entanto, o
jornal "Financial Times" citou
fontes suas em Washington para dizer que o FMI estuda aumentar sua linha em 10 bilhões, o que elevaria a oferta do
Fundo a 25 bilhões.
A contrapartida exigida a
Atenas serão novas medidas de
arrocho. Tentando estancar a
especulação após a Bolsa em
Atenas desabar 6% na véspera,
a comissão dos mercados de capitais grega proibiu as vendas a
descoberto de papéis pelos
próximos dois meses, evitando
apostas na desvalorização.
FOLHA ONLINE
Leia a coluna de Fernando
Canzian
www.folha.com.br/1011811
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