São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2010

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Grécia pode precisar de socorro
de € 120 bi

Europa e FMI já discutem mais que dobrar o pacote inicial de ajuda a Atenas, mas Alemanha ainda resiste a liberar recursos

Dirigentes do Fundo e do Banco Central Europeu se reuniram ontem com a chanceler Angela Merkel para discutir socorro à Grécia

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Aumentou o consenso no mercado de que os € 45 bilhões oferecidos à Grécia pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional na última semana são insuficientes para evitar que o país tenha de reestruturar sua dívida ante o enorme rombo fiscal em suas contas e os juros crescentes sobre seus títulos soberanos.
Entre rumores e avaliações, a cifra que ressoou foi € 120 bilhões, citada por parlamentares alemães à mídia europeia como "o mínimo necessário" após reunião com o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Cleaude Trichet, e o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, em Berlim.
É metade da dívida total grega (boa parte da qual os alemães já são credores) e quase o triplo do plano inicial, que não foi sequer aprovado e que seria capaz de sanar apenas as obrigações que vencem neste ano -e isso contanto que os juros parem de disparar.
Ironicamente, em um círculo vicioso a inflar o problema, é o Parlamento alemão o maior entrave ao pacote, e a demora tem enervado os mercados, que ontem na Europa continuaram a cair. O maior recuo foi no pregão de Madri (3%). No Brasil, a Bovespa fechou em alta de 0,22%.
É preciso o aval do Legislativo para que Berlim pingue sua contribuição -quase metade do aporte já prometido pelos países membros da zona do euro, € 30 bilhões. Com o eleitorado alemão majoritária e veementemente contra, os parlamentares resistem a votar.
A chanceler Angela Merkel participou do encontro de ontem e voltou a enfatizar a necessidade de ação rápida. Ecoa Paris, Roma e agora até Londres, que não adota o euro e, portanto, não está envolvida no pacote (em última análise, uma boia para impedir que a moeda comum, que já paira no patamar de US$ 1,30, afunde mais).
A demora também traz à baila o fantasma do contágio regional, que ganhou força quando a agência de classificação de risco Standard and Poor's, um dia após fazê-lo com Atenas, baixou a nota da Espanha, cuja economia é maior e quase tão endividada quanto a grega.
O chefe da OCDE (que reúne 31 países ricos), Angél Gurría, equiparou o contágio ao vírus ebola, aquele que liquefaz órgãos e mata o doente em poucos dias. "Quando você percebe que tem, corta a perna para sobreviver", disse à Bloomberg.
Mas com um longo caminho burocrático a percorrer, envolvendo parlamentos, a Comissão Europeia e o conselho diretor do FMI, é improvável que o pacote saia antes do dia 10. Até 15 de maio, vencem cerca de € 20 bilhões em títulos gregos, e a velocidade com que o ágio sobre os papéis tem subido (o de dois anos já bateu em 15%) pode aumentar o valor.

Sem declarações
Nem Trichet nem Strauss-Kahn confirmaram a possibilidade de se aumentar o empréstimo. Não houve, aliás, comunicado oficial sobre o tema -o que surpreende, dada a constância de declarações recentes para acalmar os investidores.
Anteontem, no entanto, o jornal "Financial Times" citou fontes suas em Washington para dizer que o FMI estuda aumentar sua linha em 10 bilhões, o que elevaria a oferta do Fundo a 25 bilhões.
A contrapartida exigida a Atenas serão novas medidas de arrocho. Tentando estancar a especulação após a Bolsa em Atenas desabar 6% na véspera, a comissão dos mercados de capitais grega proibiu as vendas a descoberto de papéis pelos próximos dois meses, evitando apostas na desvalorização.

FOLHA ONLINE
Leia a coluna de Fernando Canzian
www.folha.com.br/1011811



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