São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2010

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Cresce temor de contágio de países ibéricos

Portugal decide antecipar plano de arrocho fiscal de 2011 para este ano, e agência de classificação de risco rebaixa nota da Espanha

Analistas avaliam que, como a Espanha é uma economia maior, seu rebaixamento poderá criar ainda mais problemas do que a Grécia

DA REDAÇÃO

A crise grega balançou ontem os países ibéricos mais uma vez: a Espanha viu seus títulos de dívida soberana serem rebaixados pela agência de classificação de risco S&P (Standard & Poor's) -o que significa que o país passa a representar um risco maior para investidores- e Portugal antecipou, de 2011 para este ano, seu agressivo plano de arrocho fiscal, numa tentativa de reaver a confiança do mercado global.
O primeiro-ministro português, o socialista José Sócrates, disse que o governo irá acelerar seus planos de elevar o imposto sobre os ganhos de capital e grandes contribuintes, introduzir novos pedágios em rodovias e reduzir gastos com benefício-desemprego. "Estamos absolutamente determinados a fazer o que for necessário para atingir as metas que estabelecemos para reduzir o deficit público", disse, após se reunir com a oposição.
Anteontem, a S&P rebaixou a classificação dos títulos portugueses de longo prazo de A+ para A-. O deficit e a dívida pública do país atingiram em 2009, respectivamente, 9,4% e 76,8% do PIB; seu índice de poupança é dos menores entre os 27 países da OCDE e a média anual de crescimento do país foi menor que 1% nos últimos anos.
As medidas de austeridade fiscal que o governo planeja pôr em curso são parte de um programa de estabilidade e crescimento de quatro anos, que pretende cortar o deficit orçamentário para 2,8% do PIB até 2013.
As agências de classificação de risco, no entanto, estimam que o deficit cairá a 4,1% do PIB.

Vizinhos de risco
Depois de, na segunda, rebaixar Grécia e Portugal, a S&P rebaixou ontem o "rating" (nota de risco de crédito) da dívida soberana da Espanha de AA+ para AA, ainda dentro da classificação grau de investimento, reservada para países considerados "bons pagadores". A S&P, para quem a decisão se justifica pela expectativa de que o país deverá sofrer "por longo período de débil crescimento econômico", reduziu a expectativa de crescimento anual médio entre 2010-2016 de 1% para 0,7%.
O rebaixamento fez o euro cair para o patamar mais baixo ante o dólar em um ano. Analistas avaliam que, como a Espanha é uma economia muito maior do que Grécia e Portugal juntos (seu PIB é quase três vezes a soma do produto dos outros dois), uma piora da avaliação de crédito do país poderá criar ainda maiores dores de cabeça para a zona do euro.
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, minimizou a importância dos rebaixamentos e disse que as agências "nem sempre acertam". "As pessoas acreditam e, por isso, têm influência a curto prazo, mas, a longo prazo, o que predomina são outros fatores."


Com "Financial Times"

FOLHA ONLINE
Leia a coluna de Clóvis Rossi
www.folha.com.br/1011812



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