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ANÁLISE
Por que a moratória grega é inevitável
MARTIN FELDSTEIN
ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE
A Grécia decretará moratória
sobre sua dívida pública. Essa
moratória será devida, em larga
medida, à sua participação na
União Monetária Europeia. Caso não fizesse parte do sistema
do euro, a Grécia não estaria na
enrascada atual e, mesmo que
estivesse, poderia ter evitado a
necessidade de uma moratória.
A moratória não necessariamente tomará a forma de uma
recusa explícita de pagar o
principal e os juros da dívida
em suas datas de vencimento.
O mais provável é que consista
de reestruturação das dívidas
existentes, coordenada pelo
FMI e envolvendo a conversão
dos títulos atuais em novos papéis com principal e juros mais
baixos. Ou poderia ocorrer na
forma de uma "moratória branda", sob a qual a Grécia unilateralmente emitiria novos papéis
de dívida como pagamento pela
dívida atual, em lugar de saldá-la em dinheiro. Mas, qualquer
que seja a forma que venha a tomar o processo, os atuais detentores de títulos da dívida
grega receberão menos do que
o valor de face desses papéis.
A única maneira de a Grécia
evitar uma moratória seria reduzir seus futuros deficit orçamentários a um nível que investidores internos e internacionais estivessem dispostos a
financiar de forma voluntária.
Isso significaria, no mínimo,
reduzir o deficit a um patamar
que impeça que a relação dívida/PIB continue a subir.
Reduzir o deficit de 14% para
10% do PIB significaria corte
enorme nos gastos do governo
ou imensa elevação na arrecadação -mais provavelmente,
ambos. Além das dificuldades
políticas que isso acarretaria, as
medidas exerceriam efeito adverso sobre a demanda interna
e, portanto, sobre o nível de
produção e emprego.
Provocar depressão ainda
maior da atividade econômica
por meio de impostos mais altos e cortes nos gastos do governo resultaria em reduções
proporcionais na arrecadação e
elevações proporcionais nos
pagamentos aos desempregados. Assim, cada euro da redução de deficit planejada resultaria em menos de um euro em
redução de deficit concreta. Isso significa que os aumentos de
impostos e os cortes de gastos
básicos do governo teriam de
ser ainda maiores.
Simplesmente não há maneira de contornar a aritmética
que a escala de redução de deficit requerida e o declínio econômico resultante implicam: é
inevitável que a Grécia decrete
a moratória da dívida pública.
Moeda própria
O país poderia ter conseguido evitar esse desfecho se não
fizesse parte da zona do euro.
Caso ainda tivesse moeda própria, as autoridades poderiam
desvalorizá-la ao mesmo tempo em que apertam a política
fiscal. Uma moeda desvalorizada elevaria as exportações e levaria empresas e domicílios
gregos a substituir produtos
importados por nacionais. A
demanda ampliada pelos bens
e serviços gregos elevaria o PIB,
engordando a arrecadação tributária e reduzindo o seguro-desemprego. Em resumo, a
consolidação fiscal seria tanto
mais fácil quanto menos dolorosa caso a Grécia tivesse uma
política monetária própria.
A participação da Grécia na
zona do euro também foi a
principal causa de seu grande
deficit orçamentário. Como o
país não tem moeda própria,
não houve sinais de mercado
para alertar o governo grego de
que sua dívida estava se tornando perigosamente alta.
A combinação de créditos
por outros países da zona do
euro e empréstimos do FMI
pode propiciar liquidez suficiente para postergar a moratória por algum tempo. Em troca
desse apoio à liquidez, a Grécia
se verá forçada a aceitar um doloroso aperto fiscal e uma queda em seu PIB.
No final, a Grécia, os demais
membros da zona do euro e os
credores da Grécia terão de
aceitar que o país está insolvente e não tem condições de manter em dia o serviço da dívida.
No dia em que isso acontecer, a
moratória chegará.
MARTIN FELDSTEIN , professor de economia na
Universidade Harvard, foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca
no governo Reagan e presidente do Serviço Nacional de Pesquisa Econômica.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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