São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2010 |
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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. Na zona do agrião
DESDE QUE me mudei para Washington, tenho usado esta coluna para me manter em contato com o Brasil e o leitor brasileiro. É um diálogo muito particular, e a rigor estritamente reservado. No entanto, volta e meia aterrissa um estrangeiro por aqui (tenho leitores muito atentos na Europa, por motivos que já expliquei em colunas anteriores). Tudo bem, todo leitor é bem-vindo, mas com uma condição -que não venha dar palpite e interferir no meu diálogo com o brasileiro. Veja bem, leitor, falei especificamente do brasileiro. Além do estrangeiro, há outro elemento considerável que aparece, de vez em quando, misturado entre as forças nacionais. Refiro-me à célebre quinta-coluna. Continua volumoso o batalhão dos discípulos de Calabar. É o brasileiro sem sotaque físico, mas com tremendo sotaque espiritual. Um dia alguém terá de escrever todo um tratado, em vários volumes, sobre as atividades dos quinta-colunistas no Brasil. A referida coluna, diga-se de passagem, também tem seus representantes -e muito ativos- no exterior, inclusive aqui em Washington. Mas deixo a quinta-coluna de lado. Na última quinta-feira, não pude escrever. Tivemos um período de excepcional sobrecarga aqui em Washington. Só na semana passada, o Brasil presidiu três encontros em Washington: o do G24, o dos Brics e a reunião dos nove países do nosso grupo no FMI. Além disso, o Brasil participou da reunião de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, que (fato incomum) ocorreu à margem das reuniões de Primavera do FMI e envolveu negociação demorada de um comunicado. O Brasil participou, também, da reunião do Comitê Monetário e Financeiro Internacional do FMI (mais conhecido pela sigla em inglês, IMFC), que envolveu outra negociação demorada de comunicado. Isso sem falar nas reuniões bilaterais com diversos países -China, África do Sul, Haiti e Grécia, por exemplo. Os comunicados do G20 e do IMFC determinam, entre outros aspectos, a agenda do FMI para os próximos meses. Para quem está fora do processo, é difícil entender a importância desses documentos -de aparência burocrática e linguagem não raro obscura. Mas os envolvidos lutam de maneira aguerrida -alguns de maneira muito desleal- para que os comunicados reflitam as suas posições. Saiu-se bem a delegação brasileira? Para dizer a verdade, não tão bem como em outras ocasiões. Temos quadros qualificados na Fazenda, no Banco Central e nos nossos escritórios no FMI e no Banco Mundial. Mas somos poucos, muito poucos. A luta é desigual. Os países desenvolvidos têm quadros mais numerosos. Além da quinta-coluna tupiniquim, temos de enfrentar o adesismo de alguns países em desenvolvimento. Os nossos principais aliados também sofrem da falta de quadros. Desde o final do ano passado, intensificou-se bastante a resistência à mudança no G20 e no FMI. Se quisermos realmente mudar a arquitetura financeira internacional, teremos de lutar muito mais. E saber que os que continuarem lutando serão (na verdade, já estão sendo) caçados a pauladas, feito ratazanas prenhes. PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 55, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago), mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. Texto Anterior: Banda larga: Governo quer plano com 50% de tecnologia brasileira Próximo Texto: Risco para 2011 faz BC impor alta mais forte, diz analista Índice |
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