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Risco para 2011 faz BC impor alta mais forte, diz analista
Copom afirma que elevou Selic para recolocar inflação na trajetória da meta
Decisão de forma unânime
do colegiado encerra
sequência de nove meses
de estabilidade da taxa
básica de juros em 8,75%
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para conter um possível superaquecimento da economia
após a crise e suas consequências inflacionárias, o Copom
(Comitê de Política Monetária)
decidiu aumentar em 0,75 ponto percentual a taxa básica de
juros, para 9,5% ao ano.
A menos de cinco meses das
eleições, a decisão unânime do
colegiado alterou uma sequência de nove meses de estabilidade da Selic em 8,75%. Conforme nota divulgada após a reunião, a alta na taxa ocorreu "para assegurar a convergência da
inflação à trajetória de metas".
Apesar da aposta do mercado
em uma elevação já na reunião
de março, o comitê optou por
manter a Selic inalterada na
ocasião. Naquele momento, o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, ainda postulava uma eventual candidatura nas eleições deste ano.
No entanto, a decisão indicou uma mudança na tendência do colegiado, uma vez que
cinco membros votaram pela
manutenção e os outros três
defenderam um aumento de
0,5 ponto percentual. A demora
em aumentar os juros, porém,
pode ter forçado o Copom a tomar uma medida mais dura na
reunião de ontem. Desde março, as projeções de mercado para os índices de inflação tanto
de 2010 como de 2011 foram revisadas para cima. Segundo a
Folha publicou nesta semana,
Meirelles disse ao presidente
Lula que agora seria necessária
uma "paulada" para subir os juros.
Nos últimos 12 meses, a inflação já bate na casa dos 5,1%, acima do centro da meta oficial de
4,5%. No seu último relatório
trimestral, o próprio BC recalculou sua projeção para o índice de preços neste ano, subindo
de 4,6% para 5,2%.
"O Copom vê o cenário de
2011 com mais preocupação do
que havia nos meses anteriores. Por isso há a opção de um
começo mais rigoroso no ciclo
de alta", diz Bernardo Wjuniski, economista da Tendências.
A Selic retornou ao patamar
mais alto desde junho do ano
passado, quando o Copom reduziu os juros de 10,25% para
9,25% ao ano. De acordo com a
pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC com mais
de uma centena de analistas financeiros, a taxa deve chegar a
11,75% até o fim de 2010, o que
seria suficiente para segurar a
inflação perto da meta dentro
do horizonte relevante -prazo
a partir de 12 meses à frente das
decisões do comitê.
Alta de 0,75 em 2008
O conselho havia elevado a
Selic pela última vez em setembro de 2008 (também em 0,75
ponto), quando a velocidade de
crescimento da economia atingia o seu auge, em torno de 6%,
o mesmo previsto para 2010.
Naquele mesmo mês, a explosão da crise financeira internacional começou a atingir inclusive a economia brasileira,
ajudando a frear o ímpeto de
expansão da demanda.
Com as pressões inflacionárias afastadas, mas com risco de
estagnação, o governo então
precisou estimular o consumo
com reduções de tributos, liberação de compulsórios e queda
nos juros. Tanto que, entre janeiro e julho do ano passado, o
Copom cortou em cinco pontos
a Selic, que despencou de
13,75% para 8,75%, o menor patamar da história, e desde então
manteve-se inalterada.
Agora, no entanto, a recuperação da economia em um ritmo mais veloz do que o esperado acendeu a luz amarela na autoridade monetária, uma vez
que o consumo acelerado das
famílias começou, segundo
avaliação do BC, a entrar em
descompasso com a capacidade
do país de produzir bens e serviços para atender a demanda.
Mas o aumento dos juros
agora como remédio para esse
cenário não é consenso na
equipe econômica. O ministro
Guido Mantega (Fazenda) por
diversas vezes rechaçou a hipótese de superaquecimento.
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