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ANÁLISE
Por que o BC subiu a taxa de juros?
CAIO MEGALE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ontem o Banco Central subiu a taxa básica de juros, iniciando um processo de aperto
monetário que tende a continuar nos próximos meses. As
decisões do BC, especialmente
de alta de juros, normalmente
vêm acompanhadas de uma onda de críticas de diversos setores da sociedade, principalmente organizações empresariais e centrais sindicais. Mas,
de fato, qual a racionalidade
desse movimento? As críticas
são justificáveis?
A teoria econômica, amplamente respaldada pela pesquisa empírica, diz que a função
primordial da política monetária é -por meio de movimentos
da taxa de juros- estimular ou
desestimular a demanda agregada da economia, para que esta cresça em compasso com a
sua capacidade de ofertar bens
e serviços sem pressões de custo. Se a demanda estiver muito
aquecida, ou seja, as empresas,
indivíduos e governo desejarem "comprar" mais produtos
do que a economia consegue
produzir em situação "normal", isso resultará em aumento sistemático de preços, que
acabará por reduzir "na marra"
a própria demanda.
Dessa forma, o superaquecimento da economia até gera algum crescimento maior no curto prazo, mas, com o passar do
tempo, sobra apenas inflação
mais alta. Muito se critica o BC,
dizendo que, na obsessão de
manter a inflação baixa, abrimos mão de crescimento econômico valioso.
Mas, como dissemos, essa escolha só se apresenta no curto
prazo: ao longo do tempo, a demanda será freada "por bem",
por meio da pilotagem gradual
e cuidadosa da política monetária; ou "por mal", pela alta generalizada dos preços.
Quando a crise internacional
foi deflagrada, no final de 2008,
os brasileiros (assim como o
resto do mundo) cortaram suas
despesas com medo dos efeitos
que a possível quebra do sistema financeiro mundial poderia
ter em suas vidas. Com a demanda agregada deprimida, o
Banco Central viu a necessidade de reestimulá-la cortando
agressivamente os juros, que na
oportunidade foram cortados
de 13,75% para 8,75% ao ano.
Com a percepção de que o
pior da crise havia passado, e
como resposta ao próprio estímulo dos juros (e de outras medidas como corte de IPI para alguns setores), a demanda agregada brasileira voltou a se animar. Hoje, estimamos que já
recuperou o espaço perdido na
crise e vem crescendo aceleradamente na margem, a taxas
próximas a 8% ao ano. E os sinais na inflação começam a
aparecer, dado que o IPCA se
acelerou de 4,2% para 5,2% nos
últimos meses.
É hora de reverter os estímulos dados para que o crescimento se acomode em patamar
mais sustentável, evitando que
a festa de consumo, investimento e gastos do governo de
hoje não se transforme em ressaca inflacionária mais à frente.
CAIO MEGALE , mestre em economia pela PUC-Rio, é sócio responsável pela área de Pesquisa
Macroeconômica da Mauá Sekular Investimentos. E-mail: cmegale@mauainvest.com.br
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