São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2010

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ANÁLISE

Por que o BC subiu a taxa de juros?

CAIO MEGALE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ontem o Banco Central subiu a taxa básica de juros, iniciando um processo de aperto monetário que tende a continuar nos próximos meses. As decisões do BC, especialmente de alta de juros, normalmente vêm acompanhadas de uma onda de críticas de diversos setores da sociedade, principalmente organizações empresariais e centrais sindicais. Mas, de fato, qual a racionalidade desse movimento? As críticas são justificáveis?
A teoria econômica, amplamente respaldada pela pesquisa empírica, diz que a função primordial da política monetária é -por meio de movimentos da taxa de juros- estimular ou desestimular a demanda agregada da economia, para que esta cresça em compasso com a sua capacidade de ofertar bens e serviços sem pressões de custo. Se a demanda estiver muito aquecida, ou seja, as empresas, indivíduos e governo desejarem "comprar" mais produtos do que a economia consegue produzir em situação "normal", isso resultará em aumento sistemático de preços, que acabará por reduzir "na marra" a própria demanda.
Dessa forma, o superaquecimento da economia até gera algum crescimento maior no curto prazo, mas, com o passar do tempo, sobra apenas inflação mais alta. Muito se critica o BC, dizendo que, na obsessão de manter a inflação baixa, abrimos mão de crescimento econômico valioso.
Mas, como dissemos, essa escolha só se apresenta no curto prazo: ao longo do tempo, a demanda será freada "por bem", por meio da pilotagem gradual e cuidadosa da política monetária; ou "por mal", pela alta generalizada dos preços.
Quando a crise internacional foi deflagrada, no final de 2008, os brasileiros (assim como o resto do mundo) cortaram suas despesas com medo dos efeitos que a possível quebra do sistema financeiro mundial poderia ter em suas vidas. Com a demanda agregada deprimida, o Banco Central viu a necessidade de reestimulá-la cortando agressivamente os juros, que na oportunidade foram cortados de 13,75% para 8,75% ao ano.
Com a percepção de que o pior da crise havia passado, e como resposta ao próprio estímulo dos juros (e de outras medidas como corte de IPI para alguns setores), a demanda agregada brasileira voltou a se animar. Hoje, estimamos que já recuperou o espaço perdido na crise e vem crescendo aceleradamente na margem, a taxas próximas a 8% ao ano. E os sinais na inflação começam a aparecer, dado que o IPCA se acelerou de 4,2% para 5,2% nos últimos meses.
É hora de reverter os estímulos dados para que o crescimento se acomode em patamar mais sustentável, evitando que a festa de consumo, investimento e gastos do governo de hoje não se transforme em ressaca inflacionária mais à frente.


CAIO MEGALE , mestre em economia pela PUC-Rio, é sócio responsável pela área de Pesquisa Macroeconômica da Mauá Sekular Investimentos. E-mail: cmegale@mauainvest.com.br


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