São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2010

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Venezuela atrasa pagamento a brasileiras

Segundo o ministro Miguel Jorge, governo de Hugo Chávez está devendo US$ 15 mi a empresas nacionais devido a "questões burocráticas"

Venezuelano assinou com Lula, no DF, 21 acordos e memorandos, número visto como exagerado pelos negociadores brasileiros

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

SIMONE IGLESIAS
FÁBIO AMATO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, disse ontem, depois da assinatura de atos entre os dois países, que a Venezuela está devendo US$ 15 milhões a empresas brasileiras, mas isso pode ser considerado "normal" diante de um comércio bilateral de cerca de US$ 5 bilhões -US$ 4,5 bilhões de exportações brasileiras e o restante no sentido inverso.
Segundo Jorge, esse atraso se deve "a questões burocráticas, a papelada" e não está vinculado diretamente ao Cadiv, sistema de câmbio usado pelos venezuelanos para pagamentos no exterior, como já ocorrera anteriormente.
No ano passado, Jorge soube pelos jornais dos atrasos do Cadiv, consultou as empresas brasileiras e levou a queixa diretamente ao presidente Hugo Chávez e ao então ministro da área, depois substituído. "Desde então, não temos tido mais problemas", relatou ontem o brasileiro.
Brasil e Venezuela assinaram ontem 21 acordos e memorandos de entendimento nas áreas mais diversas, desde a compra de azeite refinado e de embutidos, como presunto e salame, passando por criação de centros binacionais de assistência para mulheres nas fronteiras dos dois países, até compra de nafta e construção de casas por empresas brasileiras no país comandado por Hugo Chávez.
Conforme a Folha apurou, até a equipe brasileira de negociadores achou um exagero, muito mais para mostrar que as relações entre os dois países estão avançando do que para valer. O acordo do azeite, por exemplo, foi classificado de "piada", pois não precisaria de instrumento tão formal.
A Braskem e a PDVSA (estatal venezuelana do setor de petróleo) assinaram ata de compromisso sobre fornecimento de nafta pela Petroquímica da Venezuela. Houve a assinatura também de um memorando de entendimento em matéria de energia elétrica, mas nem Itamaraty nem Ministério de Minas e Energia deram detalhes do que trata o documento.
A Venezuela, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, vem enfrentando justamente uma crise energética, e a população sofre os efeitos do racionamento desde o ano passado.
No começo deste mês, Hugo Chávez decretou extensão por mais 60 dias da emergência nacional devido ao problema. Até junho, o país estará sob regime de racionamento com imposição de multa a empresas e cidadãos que não cumprirem a meta de redução de consumo.
Um dos atos assinados ontem entre ministros e presidentes de empresas brasileiras e seus correlatos venezuelanos foi em relação à refinaria binacional Abreu e Lima, em Pernambuco. A obra, porém, depende ainda de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que avalia as garantias oferecidas.
Apesar da solenidade e das reuniões, os atos não ficaram prontos para distribuição à imprensa até o fechamento desta edição. Serão anunciados hoje.


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