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Caos e mentiras, mentiras e caos
ALOYSIO BIONDI
O governo FHC diz que o
"rombo" na balança comercial
e em outras contas do país com
o exterior não preocupa, porque
ele vai ser coberto com investimentos estrangeiros, isto é, com
a entrada de dólares trazidos
por empresas multinacionais.
Na última sexta-feira, no entanto, o presidente da República assinou um decreto ordenando aos bancos oficiais, e mesmo
a outros organismos do governo, emprestarem (financiarem)
a empresas multinacionais. Isto
é, elas não vão trazer dólares
para o país coisíssima nenhuma. Vão ter até crédito do governo brasileiro, via bancos oficiais.
Além de escancarar o mercado às importações, destruindo
as empresas nacionais e milhões de empregos, agora o governo FHC vai financiar as
multinacionais -fornecendo o
crédito que é negado aos empresários locais. É uma política
de "terra arrasada", ou, como
diria o sábio Gustavo Franco,
de "delenda Brazil, seus empresários e trabalhadores".
Sem política
Na época de Juscelino, o governo criou o BNDE -Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico-, destinado a financiar a modernização da infra-estrutura do país: construção de hidrelétricas, rodovias,
ferrovias exigidas pelos planos
de industrialização. Principal
fonte de recursos para essa arrancada: dinheiro do Imposto
de Renda, da população, portanto. Um "Projeto Nacional"
hoje inexistente.
No final da década de 70, em
pleno regime militar, o BNDE
ganhou um BNDES (com um
"s" de social), e passou a financiar maciçamente também as
empresas nacionais. Mas, desde
a sua fundação, o BNDES esteve proibido de emprestar a empresas estrangeiras. Por quê? A
exemplo de bancos oficiais existentes nos EUA, Japão, França,
Itália etc., o BNDES era um instrumento de política industrial
e econômica do país. Parte de
um "Projeto Nacional".
Cartas marcadas
Na sexta-feira passada, como
dito, o presidente FHC, por um
simples decreto, mandou o
BNDES e outros bancos oficiais
passarem a emprestar às multinacionais. Três dias depois, na
última segunda-feira, o presidente do BNDES, Luiz Carlos
Mendonça de Barros, anunciou
-em Paris- que o banco oficial vai financiar parte do investimento da francesa Peugeot
no Brasil.
Mais exatamente: de um investimento anunciado de US$ 1
bilhão, o BNDES vai financiar
60%, ou US$ 600 milhões. Detalhe: a Peugeot, como outras
multinacionais, quer trazer
também fabricantes de autopeças franceses para abastecer
sua fábrica. Isto é, o governo
brasileiro vai financiar direta
ou indiretamente a destruição
de empresas nacionais.
Na política de "delenda Brazil" do governo FHC, o objetivo
é claro: destruição total de tudo
quanto tenha sido construído
pelo empresário e o trabalhador brasileiros. Não há intenção de apoiar o empresário nacional. Não custa lembrar que
a Metal Leve, do empresário José Mindlin, foi vendida a uma
multinacional porque, segundo
seu proprietário, não dispunha
de R$ 150 milhões para planos
de expansão "exigidos" pela
política de "modernização".
Para a Peugeot, tudo. Para os
Mindlin, a "quebra".
Na Geni
Mais provas da política de
"terra arrasada", de "delenda
Brazil"? Na semana, o Trio
(antigo Conselho) Monetário
Nacional proibiu os bancos estatais, federais e estaduais de
tomarem empréstimos lá fora...
Quer dizer: o governo admite
que precisa de dólares para cobrir "rombos", mas proíbe seus
bancos de captarem no exterior
-para não fortalecê-los...
Também na semana, a equipe
FHC anunciou cortes nos investimentos da Petrobrás. A empresa já era vítima de aumentos modestíssimos no seu orçamento, em 1996 e 1997, enquanto a Telebrás, que vai ser privatizada, ganhava verbas até
100% maiores.
Pois o novo corte foi em cima
da Petrobrás -o que é ótimo
para, mais tarde, os de-formadores de opinião dizerem que a
"estatal não consegue atender
a todas as necessidades do mercado brasileiro". E privatizá-la.
"Delenda Brazil".
O caos
Importações, desemprego,
destruição das empresas nacionais estão levando a economia
para o brejo. Em abril, as vendas dos supermercados caíram
10%. No Dia das Mães, as vendas em São Paulo caíram 6%.
Ah, dizem os sábios da equipe
FHC: "Isto é só em São Paulo.
No resto do país, tudo está ótimo". É mesmo? Os atacadistas
abastecem o comércio do Brasil
inteiro. No entanto, segundo a
sua entidade, desde fevereiro as
vendas caem sem parar. Com
dinheiro das colheitas agrícolas
e tudo.
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha e diretor de
Redação da revista "Visão". Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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