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CONTAS PÚBLICAS
Superávit primário de R$ 11,9 bi em abril é o maior registrado pelo BC; meta do semestre está quase cumprida
Aperto para pagar juros bate novo recorde
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo segundo mês seguido, o
aperto fiscal feito pelo governo
atingiu valores recordes. O dinheiro destinado por União, Estados, municípios e estatais ao pagamento de juros totalizou R$
11,901 bilhões em abril.
Foi o maior superávit primário
registrado no país desde que o
Banco Central passou a calcular
os dados com a atual metodologia, em 1991. Esse resultado permitiu ao setor público registrar,
também pelo segundo mês seguido, superávit nominal nas suas
contas -ou seja, o dinheiro economizado foi suficiente para pagar todos os juros do período e
ainda sobraram recursos.
Em abril, os juros que incidiram
sobre a dívida pública chegaram a
R$ 9,904 bilhões. Com o superávit
primário, foi possível pagar todos
esses encargos com uma sobra de
R$ 1,997 bilhão.
Entre janeiro e abril, o superávit
primário acumulado pelo setor
público foi de R$ 32,429 bilhões
-6,35% do PIB (Produto Interno
Bruto)-, valor próximo dos R$
32,683 bilhões registrados no
mesmo período de 2003 (6,99%
do PIB). A meta do governo, neste
ano, é obter uma economia equivalente a 4,25% do PIB.
Com o superávit acumulado entre janeiro e abril, o governo praticamente garantiu o cumprimento
da meta acertada com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
para o primeiro semestre deste
ano. Pelo acordo, o setor público
deveria economizar R$ 32,6 bilhões entre janeiro e junho para
pagar juros da dívida.
Assim como acontece em relação aos juros, o ajuste fiscal feito
pelo governo é criticado por economistas -de dentro e fora do
governo- por, supostamente,
dificultar a recuperação da atividade econômica.
Segundo essas críticas, a economia poderia estar crescendo mais
se os gastos do governo fossem
maiores -do mesmo jeito que os
investimentos do setor privado
poderiam ser maiores, se os juros
fossem reduzidos.
Neste ano, até o último dia 7, a
União investiu apenas 2% dos recursos previstos no Orçamento.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, rebate as críticas. Para ele, os resultados fiscais do governo sinalizam
ao setor privado que as contas do
governo estão equilibradas, o que
daria aos empresários mais tranqüilidade para investir no país. "O
impacto [do superávit primário]
nas expectativas talvez supere o
efeito sobre a demanda."
Lopes diz que o próprio resultado recorde registrado em abril já
reflete a recuperação da economia. "O aumento das receitas [do
governo] vem em linha com a retomada do nível de atividade",
afirma. Segundo ele, essa retomada explica o aumento da arrecadação de impostos, um dos responsáveis pelo maior superávit.
Dados divulgados anteontem
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) mostram
que o país cresceu 1,6% no primeiro trimestre, na comparação
com o último trimestre de 2003.
As contas do governo também
foram favorecidas com uma pequena queda nos gastos com juros. Entre janeiro e abril, essas
despesas foram de R$ 41,259 bilhões. O valor é menor do que os
R$ 51,242 bilhões registrados em
igual período de 2003, embora
ainda represente uma elevada fatia do PIB: 8,08%.
De acordo com Lopes, os menores gastos com juros são conseqüência da queda da taxa Selic,
que remunera boa parte da dívida
do governo. Em abril do ano passado, por exemplo, a taxa estava
em 26,5% ao ano. Atualmente, está em 16% ao ano.
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