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CONTAS PÚBLICAS
Gastos são limitados para a obtenção do superávit primário
União só investiu 2% do previsto
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os investimentos públicos foram os principais sacrificados no
bloqueio de gastos do governo
para obter os superávits fiscais do
primeiro quadrimestre.
Segundo dados atualizados até
o último dia 7, a União investiu
apenas 1,99% do total previsto no
Orçamento de 2004. Em números, foram raquíticos R$ 246,2 milhões dos R$ 12,4 bilhões autorizados até dezembro.
Nessa categoria estão obras,
aquisição de equipamentos e demais ações destinadas a ampliar a
capacidade produtiva do país.
Apesar de sua importância, esses
gastos são muito mais sujeitos a
cortes do que as despesas com
pessoal e manutenção da máquina administrativa.
No ano passado, quando o setor
público fez uma economia recorde para o pagamento de dívidas, o
investimento do governo federal
foi de apenas R$ 2,3 bilhões,
16,5% do previsto no Orçamento.
Para este ano, foi prometida uma
recuperação -que, até agora, está longe de ter ocorrido.
Dos R$ 238 milhões autorizados
para a habitação, por exemplo,
nenhum centavo foi gasto até
agora. O mesmo tratamento foi
dado aos R$ 166 milhões previstos
para o saneamento.
No transporte, setor em que o
investimento público é chave, o
desempenho também é pífio: R$ 3
milhões, ou 0,12% dos R$ 2,4 bilhões orçados.
Nas outras duas áreas que lideram o investimento federal, saúde
e defesa, a execução está acima da
média, mas bem abaixo do que
seria normal. Na primeira, R$ 85
milhões, ou 3,3% do total; na segunda, R$ 70 milhões, ou 6,1%
-nesse caso, a despesa é puxada
pelo pagamento, parcelado, do
novo avião a ser usado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Orçamento engessado
O sacrifício dos investimentos é
conseqüência do engessamento
do gasto público no Brasil. Despesas não-prioritárias, mas obrigatórias, como pessoal e benefícios
previdenciários, crescem continuamente; a legislação também
impõe pisos para gastos em áreas
como saúde e educação.
Ao todo, a União só tem autonomia para aplicar livremente
pouco mais de 10% de seu Orçamento -que, neste ano, prevê
despesas de R$ 326 bilhões, excluindo os encargos financeiros.
Os números comprovam: os
gastos com pessoal, até o dia 7,
chegaram a 30,8% do previsto para o ano. Nas demais despesas
correntes, cujo principal componente é o pagamento de aposentadorias, a execução é de 28,6%,
compatível com o período.
É normal que a execução dos investimentos seja mais lenta, e é razoável esperar um percentual
maior no segundo semestre
-quando e se isso ocorrer, o superávit federal tende a cair. O desempenho do primeiro quadrimestre, porém, não encoraja
apostas no pleno cumprimento
do Orçamento.
Por serem muito dependentes
dos investimentos, as áreas mais
prejudicadas pelo aperto fiscal, no
período, foram habitação e saneamento -mesmo acrescentando
nos cálculos os gastos correntes e
com pessoal, os dois setores registram execução de 0,01% e 0,11%,
respectivamente.
Saúde (31%) e Justiça (30,5%)
foram as áreas menos atingidas.
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