São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Safra de cana deve ter maior percentual de álcool em dez anos, prevê entidade

MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O avanço na comercialização de álcool no país e o interesse despertado no exterior devem fazer com que a safra de cana-de-açúcar deste ano seja a mais alcooleira pelo menos dos últimos dez anos, de acordo com a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
A projeção é que até 54% da produção de cana seja destinada à fabricação de álcool no Centro-Sul do país, e 46%, para o açúcar. A previsão é moer cerca de 420 milhões de toneladas de cana nesta safra, contra as 380 milhões de toneladas da safra anterior.
Normalmente, a produção é equilibrada (50% para cada uma), com oscilação de, no máximo, um ponto percentual. Na safra passada, 51% da cana foi destinada à produção de álcool e, o restante, ao açúcar.
"A safra será mais alcooleira, porque a tendência no início do ano era a remuneração do álcool ser melhor. É questão de mercado", afirmou Sérgio Prado, diretor regional da Unica em Ribeirão Preto.
Novas usinas, como a Lins, que iniciou a operação neste ano, e a Boa Vista, em Quirinópolis (GO), que começará a operar em 2008, estão trabalhando inicialmente só com a produção de álcool.
"O álcool está vivendo um excelente momento e, por isso, as novas usinas têm iniciado a operação só com álcool", disse o usineiro Maurilio Biagi Filho, presidente da Usina Moema, de Orindiúva (SP).
A tendência, segundo Prado, é o fenômeno se repetir também no próximo ano, quando 30 usinas devem começar a operar no país -neste ano, são 19 novas. "A maioria não vai comportar, pelo menos inicialmente, a fábrica de açúcar, até porque não haveria mercado para tanto açúcar", disse.
A elevada produção de álcool pode derrubar ainda mais o preço da tonelada de cana, que chegou a custar R$ 56 em 2006, mas hoje está na casa de R$ 40.
Esse é um dos motivos que levaram os usineiros a pedir novamente ao governo que eleve a mistura de álcool à gasolina para 25% -desde novembro, cada litro de gasolina tem 23% de álcool; antes, eram 20%.
A decisão depende do Cima (Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool), que engloba, além do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento, Fazenda e Minas e Energia.
O setor sucroalcooleiro também quer desenvolver campanha para "melhorar a imagem" do setor, que tem como um dos vértices antecipar o fim das queimadas de cana. Um protocolo discutido pelo governo do Estado e o setor define que as queimadas poderão estar banidas dos canaviais de São Paulo até 2012 ou 2014 -uma lei estadual em vigor prevê o fim total da queima até 2031.
O assunto foi discutido num congresso na Costa do Sauípe (BA), com a presença de 50 empresários e diretores de empresas ligadas ao setor sucroalcooleiro, na semana passada.
Pelas discussões, a queima da cana, apontada como responsável pelo agravamento de crises respiratórias, poderia estar eliminada completamente em 2012, o que significaria uma antecipação de 19 anos em relação à lei em vigor.
Ainda de acordo com as negociações, em 2010 a eliminação já atingiria 70% da área. A lei estadual nº 11.241, de 19 de setembro de 2002, estabelece um percentual crescente de eliminação da queima -desde 2006, as áreas mecanizáveis têm que eliminar 30% da queima, índice que sobe para 50% em 2011.
"Queimada não pode existir desde sempre, porque não há possibilidade jurídica de queimar por causa da Constituição [veta a existência de agente provocador de poluição]. Mas parece que agora houve uma certa evolução do setor sucroalcooleiro, porque sempre fizeram lobby para prorrogar a queima", disse o promotor do Meio Ambiente de Ribeirão Marcelo Goulart.


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