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Pressão dos ruralistas derruba Rodrigues
Ministro, que teve atritos com a equipe econômica, não se sentia confortável em reunião com representantes do setor
Ele avalia que sua missão foi "cumprida", mas que "gostaria que os juros fossem baixos, e o dólar,
um pouquinho maior"
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela quinta vez desde que assumiu o governo, o ministro da
Agricultura, Roberto Rodrigues, entregou o cargo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dessa vez, o presidente aceitou.
Apesar de deixar o cargo a apenas seis meses do fim do governo, Rodrigues disse que sua decisão não foi motivada por razões políticas, negou que esteja
saindo por causa de problemas
pessoais e disse apenas que sua
"missão está cumprida".
A Folha apurou que o principal motivo do pedido de demissão foi a pressão da bancada ruralista, que criticava as dificuldades do ministro em ver seus
pleitos atendidos totalmente
dentro do governo. Ou seja, o
ministro sentiu que perdeu o
apoio de sua principal base.
Rodrigues, que teve atritos
com a equipe econômica tanto
na gestão de Antonio Palocci
quanto na de Guido Mantega,
comentou com assessores que
já não se sentia confortável nas
reuniões com ruralistas em
suas visitas pelo país diante das
reclamações de que não estaria
obtendo o necessário ao setor.
A data de saída de Rodrigues
ainda não está decidida. Na
sexta-feira, ele volta a falar com
Lula para defini-la. O ministro
já havia dito que não continuaria num segundo mandato de
Lula. "Não existe nenhum
componente político, muito
menos ligação com o processo
eleitoral. Estou deixando o governo porque minha colaboração se encontra terminada."
O pedido de demissão foi formalizado em jantar com Lula
anteontem. "O presidente teve
uma posição de amizade. Não
pediu para eu ficar. Entendeu
meus argumentos."
Bem-humorado, ele fez
questão de demonstrar desprendimento quando questionado se seu cargo havia sido
pedido para ser entregue ao
PMDB. "Para mim, ninguém
pediu nada. Acho que, se tivessem pedido, o presidente teria
falado, mas não sou político,
não tenho amor ao cargo."
Rodrigues lamentou o fato
de a notícia ter vazado pela imprensa e acabou antecipando o
anúncio oficial de sua decisão.
Segundo ele, é possível que o
vazamento abrevie ainda mais
sua permanência no cargo.
Disputa
Rodrigues afirmou que ainda
não sabe o que vai fazer. Ele faz
parte da minoria de nove ministros que continuam no cargo desde o começo do governo,
travando a clássica disputa entre as áreas produtiva e macroeconômica, principalmente
por ter o orçamento cortado
durante os anos em que o agronegócio viveu sua pior crise.
"Vivemos uma duríssima crise, a pior dos últimos 40 anos,
com aumento dos custos de
produção e queda de preços",
disse. Ele evitou fazer críticas à
área econômica e afirmou que o
pacote agrícola de R$ 75 bilhões, anunciado em maio, foi
resultado de negociação ampla
com a área econômica. Mas admitiu que ele é insuficiente.
"O pacote não resolve todos
os problemas, mas foi o possível depois de dois anos duríssimos de muito desgaste, muita
crise." E caracterizou sua atuação como "um ministério de
gestão de crise". "Temos problemas que têm a ver com o
câmbio, juros e logística, que
fogem do alcance da Agricultura. Gostaria que os juros fossem
mais baixos e o dólar, um pouquinho maior", afirmou. "O que
falta são questões estruturantes, como a garantia de renda
do produtor, mas transcendem
a agricultura, são questões macroeconômicas.
Entre os deputados da bancada ruralista, houve críticas e
elogios a Rodrigues. "Sai tarde.
Ele não conseguiu reverter o
corte no orçamento, resolver a
dívida do setor. Só perdemos",
disse o deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO). Já o deputado Nelson Marquezeli
(PTB-SP) disse que Rodrigues
foi um dos melhores ministros
e que representou bem o setor.
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