São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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LUÍS NASSIF

A Cteep e a luta da Cesp

A Cesp entrou na crise de energia com um pé quebrado. A luta, agora, é para mantê-la de pé

A FINAL , São Paulo fez um bom negócio vendendo a Cteep (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista)? Participaram do leilão dois grupos estrangeiros, o colombiano Interconexion Eléctrica e o italiano Tema. Os brasileiros desistiram.
Quem levou foi o grupo colombiano, por R$ 1,193 bilhão, ágio de 58% em relação ao preço mínimo estipulado, o equivalente a R$ 38,09 por lote de mil ações.
Foram vendidos 30% das ações da Cteep, de propriedade do governo paulista. O restante está pulverizado no mercado. Segundo o secretário de Energia, Mauro Arce, no ano passado a empresa teve R$ 400 milhões de lucro. Desse total, 30% (a parte do Estado) correspondem a R$ 120 milhões. Com o preço pago, o P/L (relação preço/lucro) da empresa é de 10 -baixo para uma empresa de transmissão, em uma área regulada, de baixíssimo risco. Aliás, o preço mínimo fixado correspondia a um P/L de apenas 6,6.
Provavelmente contribuiu para esse quadro a deterioração das expectativas do mercado internacional em relação aos países emergentes.
O Estado de São Paulo trocou uma rentabilidade de 10% sobre o capital aplicado na Cteep (levando em conta o valor de venda), ou 15% (levando em conta o preço mínimo), analisando estaticamente a companhia pelo resultado do ano passado, por dívidas da Cesp. No ano passado, a Cesp teve R$ 1,4 bilhão de geração líquida de caixa, para uma dívida total de R$ 11 bilhões.
Arce sustenta que o custo médio da dívida da Cesp é baixo. Mas admite que a empresa vem recorrendo seguidamente a operações de curtíssimo prazo. Chegou a lançar mais de R$ 1,2 bilhão de recebíveis. Se o custo da dívida for CDI, esse R$ 1,2 bilhão obtido na venda da Cteep representará uma redução de R$ 178 milhões anuais no serviço da dívida da Cesp -mais do que os R$ 120 milhões de lucro do ano passado. Mas vende-se uma empresa consolidada, em fase de expansão, cuja valorização estava comprometida apenas pelas limitações à tomada de financiamento no BNDES -devido ao fato de que investimentos de empresas públicas, ainda que auto-sustentáveis, entram na composição do déficit público. E troca-se por uma dívida cujo custo tende a diminuir com o tempo, à medida que a taxa Selic prossiga a trajetória de queda.
Espera-se uma redução de 30% no endividamento, dando suporte ao fluxo de caixa, para ir amortizando aos poucos o restante da dívida. A reestruturação da Cesp envolverá ainda emissão primária de ações, em valor duas vezes maior do que foi o do leilão da transmissão, emissão de debêntures e refinanciamento de parte da dívida.
Não foi pensada a possibilidade de o Estado montar uma holding, na qual aportasse as ações que têm na Cesp e na Cteep e fizesse uma espécie de caixa de compensação. Na privatização -coordenada pelo então vice-governador Geraldo Alckmin-, houve a cisão da Cesp de várias empresas, e o endividamento ficou com a companhia-mãe, deixando a empresa em situação delicada. A Cesp entrou na crise de energia com um pé quebrado. A luta, agora, é para mantê-la de pé.


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