São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Maioria não sabe quanto da renda vai para impostos, diz pesquisa

DA REPORTAGEM LOCAL

Consulta realizada pela Ipsos em maio deste ano com mil consumidores no país mostra que 83% deles não têm idéia de quanto da renda vai para pagar impostos, 86% avaliam que a qualidade dos serviços do governo, como saúde e educação, é inferior ao que se espera e 95% consideram que há desperdício de dinheiro público.
A percepção do consumidor em relação à política tributária do país colhida por meio de uma pesquisa da Ipsos, a pedido da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), revela ainda que 39% dos consumidores apontam a corrupção como o principal motivo de desperdício de recursos do governo. Outras razões citadas por eles para a destinação errada de verbas foram o pagamento de altos salários (30%), gastos desnecessários com prédios públicos (16%) e elevado número de funcionários (12%).
Para Paulo Francini, diretor do Depecon (Departamento de Pesquisas Econômicas) da Fiesp, a consulta realizada pela Ipsos confirma a falta de transparência na política de cobrança de impostos do país e a necessidade de uma ampla reforma tributária.
"A percepção dominante do consumidor é a de que ele paga muito tributo e recebe pouco retorno do Estado. A política tributária do país é confusa, não é transparente. É preciso mudar isso", afirma Francini.
Para Clóvis Panzarini, consultor tributário, o que vale discutir não é se a carga tributária é elevada ou baixa, mas se é justa ou injusta.
"Nos países nórdicos, a carga tributária chega a representar quase 50% do PIB [Produto Interno Bruto; no Brasil equivale a 38%] e ninguém reclama, porque há retorno para a sociedade por meio de serviços de saúde, educação. Aqui isso não acontece. Além de pagarem elevados impostos, os consumidores têm de pagar convênio médico e escola particular. O problema no Brasil é que o retorno para a sociedade do que ela paga de impostos não é proporcional", diz Panzarini.

Feirão do imposto
Para mostrar ao consumidor a carga tributária incidente nos preços dos produtos, a ACSP (Associação Comercial de São Paulo), em parceria com outras entidades, criou o Feirão do Imposto. No site www.dcomercio.com.br, o consumidor pode ver a participação dos impostos nos preços dos produtos e a arrecadação dos governos municipal, estadual e federal.
No preço de um carro popular novo, por exemplo, o imposto equivale a 27,1% do total; da lata de cerveja, tributos representam 56%, e da de refrigerante, 47%, de acordo com o feirão. O telefone celular paga 41% de tributos, e o sabão em pó, 42,27%. Do valor do tijolo, 36,6% são impostos, e, no caso do saco de cimento, são 39,5%.
"O Brasil tem uma carga tributária de Primeiro Mundo com serviços de Terceiro Mundo. O consumidor paga muito imposto para ter um sistema precário de saúde, educação e segurança", afirma Emílio Alfieri, economista da associação comercial.
Na pesquisa feita pela Ipsos, os consumidores citam ações que poderiam melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo governo, como demissão de maus funcionários, vínculo do salário à qualidade do serviço prestado e compartilhamento da gestão de recursos públicos com organizações não-governamentais.
(FÁTIMA FERNANDES)


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