São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Temor de recessão mundial desacelera mercado de luxo

Previsão de consultoria é que setor crescerá 8% neste ano, ante 13% em 2007

Brasil é uma das apostas do setor e entidade estima que a indústria de luxo no país se expandirá em torno de 10% neste ano

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Os impactos da crise do setor imobiliário nos EUA e a alta da cotação do petróleo que evocam temores de uma recessão mundial também resvalam no crescimento do setor do luxo.
Depois de crescer 13% em 2007, o segmento deve ter uma expansão mundial de no máximo 8% neste ano, segundo a Eurostaf, consultoria do grupo que edita o jornal econômico francês "Les Echos". "Já vemos um sinal de desaceleração, especialmente no Japão, mas a palavra "recessão" está longe das nossas perspectivas. O nosso prognóstico de crescimento continua ainda bastante robusto", diz Nicolas Boulanger, responsável do departamento de luxo da consultoria.
"O crescimento do número de milionários no mundo tem uma influência nítida, mas o setor de luxo também é alimentado por pessoas comuns que gostam de se oferecer pequenos mimos de forma pontual", afirma Boulanger.
Segundo um estudo sobre o comportamento dos ricos franceses realizado pelo instituto Ipsos, 55% dos entrevistados afirmam comprar artigos de marcas caras para obter uma satisfação pessoal. Na avaliação do instituto Risc, pelo menos 1 em cada 2 europeus comprou um artigo de luxo no ano passado. Esse padrão de consumo é reproduzido nas elites dos países em desenvolvimento.
O Brasil, com crescimento de 35% nas vendas do segmento de luxo entre 2000 e 2006, é uma das apostas do setor. Para este ano, o mercado brasileiro deve flertar com 10% de expansão. A favor do país conta o fato de que os grandes nomes do mercado, como a joalheria Tiffany e as marcas Chanel, Dior e Burberry, já estão instalados em lojas próprias ou em estabelecimentos multimarcas.
O apetite do brasileiro por novidades é outro pontos forte. "Mas o potencial é limitado. Cerca de 75% do mercado de luxo no Brasil está concentrado em São Paulo, e o restante, no Rio de Janeiro. Na China, por exemplo, há pelo menos 60 cidades para investir", diz Boulanger. Além do entrave do volume de consumidores, o Brasil enfrenta outras desvantagens em relação aos seus pares emergentes: a alta do preço dos imóveis e a violência. De acordo com o ranking da consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, São Paulo é a 23ª cidade mais cara do mundo.
Na América Latina, a Argentina também aparece como um mercado promissor ao lado dos países do Leste Europeu. Mas, entre os emergentes, são a China, a Índia e a Rússia que devem contribuir para o desempenho favorável da indústria do luxo. Em 2010, o instituto Ipsos projeta que 250 milhões de chineses poderão ser consumidores potenciais.
A voracidade dos ricos e das classes médias nos países emergentes faz com que os representantes de cosméticos, bolsas e roupas de grife não conheçam a ameaça de crise. "Na Ásia, estamos ainda bem longe da saturação. No mercado americano, também há boas oportunidades de negócio", afirma o consultor da Eurostaf.

Champagne
O otimismo da consultoria é partilhado por um dos gigantes do mundo do luxo, o grupo LVHM, que reúne marcas como Louis Vuitton e Moët Chandon. Bernand Arnault, presidente do grupo, calcula que as vendas da LVMH chegarão a 300 bilhões até 2012. A cifra é o dobro do valor atual.
Essa expansão será possível graças, principalmente, a uma alta do consumo de vinhos e champagnes finos, que deve crescer 6% neste ano. Mas, sem nenhuma dúvida, esse é um mercado em que a participação das consumidoras é fundamental. As marcas de prêt-à-porter de luxo feminino crescem a uma taxa anual média de 7%, impulsionadas principalmente pelas vendas de bolsas.
Apesar da resistência do setor de luxo aos abalos externos, os especialistas evitam o termo blindagem. Entre 2001 e 2003, na esteira dos atentados do 11 de Setembro e pós-estouro da bolha da nova tecnologia nos Estados Unidos, a indústria do luxo teve um forte recuo e cresceu apenas 3% no período.


Texto Anterior: Alta do combustível eleva tarifa de companhias aéreas de baixo custo
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.