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Varig demite 5.500 e pode sofrer greve
No curto prazo, demitidos só devem receber FGTS e seguro-desemprego; funcionários apelam ao ministro Marinho
3.985 seguem na empresa;
número é inflado por
empregados que não
podem ser demitidos e
por indefinição legal
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A Varig anunciou ontem a
demissão de 5.500 empregados. A companhia informou
que serão mantidos 3.985 funcionários de um total de 9.485
alocados no país. As demissões
fazem parte do processo de
reestruturação da Varig, que teve operações compradas pela
VarigLog no dia 19.
O número de empregados
que ficam na empresa está inflado para suas operações. Inclui pessoas que não podem ser
demitidas no momento, como
funcionários em férias, em licença e grávidas. Outros motivos para o alto número de funcionários mantidos são que a
nova empresa ainda não tem
contrato de concessão aprovado pela Anac (Agência Nacional
de Aviação Civil) e a indefinição
sobre quem deverá pagar pelas
rescisões, incluindo indenizações e salários atrasados.
Os sindicatos não farão a homologação das demissões sem
a garantia de pagamento das
rescisões, segundo Leonardo
Souza, diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas. O Ministério Público do Trabalho
convocou reunião na terça para
debater o assunto.
Segundo a VarigLog, a nova
empresa começará com 1.700
empregados. Estimativas iniciais indicam que a "velha Varig", a fatia que segue em recuperação e que deverá atuar com
o nome Nordeste, teria 50 empregados e uma única rota (São
Paulo/Porto Seguro).
Estima-se que os demitidos
só receberão no curto prazo
FGTS e seguro-desemprego.
Em comunicado enviado aos
funcionários, o presidente da
Varig, Marcelo Bottini, afirma
que as rescisões serão pagas na
forma estabelecida no plano de
recuperação judicial: "Os desligamentos começam a ser comunicados pessoalmente a vocês por suas chefias, e, nos casos de funcionários que não
têm local físico de trabalho, por
correspondência enviada à residência de cada um", disse.
Para a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários,
Selma Balbino, muitos funcionários só se deram conta da situação ontem.
"Só agora a ficha caiu. Há
muita gente desesperada procurando o sindicato."
Os credores da empresa, inclusive funcionários, aprovaram alterações no plano em assembléia no último dia 17. De
acordo com a proposta, os funcionários terão garantidos até
R$ 90 milhões de créditos que a
Varig tem a receber de Estados
por cobrança indevida de
ICMS, mas os processos ainda
estão na Justiça.
Segundo proposta de acordo
coletivo enviada pela Varig aos
sindicatos, os custos de rescisão são estimados em R$ 253,1
milhões. Além disso, a empresa
deve mais R$ 106,2 milhões em
salários atrasados. Uma parte
dos funcionários diz que não
recebe há quatro meses.
A VarigLog não assume as dívidas trabalhistas. O TGV (Trabalhadores do Grupo Varig)
disse que pretende entrar na
Justiça para caracterizar sucessão de dívida e garantir o pagamento dos empregados. A VarigLog se comprometeu, como
obrigação acessória, a emitir
debêntures (títulos de dívida)
no valor de R$ 50 milhões, conversíveis em até 5% de participação na nova Varig. Se os funcionários optarem por receber
à vista, há deságio e o preço cai
para cerca de R$ 41 milhões.
Além disso, eles participam do
rateio da venda de imóveis.
Com base no plano, os trabalhadores levariam mais de cem
anos para receber tudo.
Nos últimos dias, a administração da Varig tentou convencer a VarigLog a reconhecer
uma dívida de R$ 46 milhões
pelo uso da barriga dos aviões e
dos porões. O dinheiro seria repassado diretamente aos empregados, que receberiam cerca
de R$ 3.000, mas a VarigLog
não concordou.
Os novos donos da Varig se
comprometeram a dar prioridade nas novas contratações a
ex-funcionários da companhia.
"A adequação do quadro de
funcionários baseados no Brasil que iniciamos hoje [ontem]
não deve ser encarada, pura e
simplesmente, como o fechamento de postos de trabalho.
Precisa ser vista como medida
necessária e transitória para a
manutenção e recuperação da
Varig", disse Bottini.
Segundo Uébio José da Silva,
presidente do Sindicato dos
Aeroviários no Estado de São
Paulo, as informações divulgadas ao longo do dia pela empresa são uma forma de "empurrar
com a barriga" a negociação
com os funcionários, pois sem
uma posição clara da empresa
os sindicatos não teriam argumentos para organizar uma
greve. Segundo ele, "para não
prejudicar juridicamente os
funcionários", as paralisações
são apenas localizadas. No entanto, foi decidido na tarde de
ontem, em Congonhas, o início
da mobilização para uma greve
geral na próxima terça-feira.
Ontem à noite, em Guarulhos, o vôo da empresa para
Frankfurt teve embarque
acompanhado por policiais militares, após os funcionários ensaiarem início de paralisação.
Os sindicatos enviaram um
pedido de ajuda ao ministro do
Trabalho, Luiz Marinho. O texto enviado por e-mail tem o título "O Rosto da Tragédia" e
destaca que há quatro anos a
Varig não deposita FGTS. Além
disso, o texto ressalta o efeito
dominó que as demissões causariam em outras empresas ligadas à Varig, como a Sata, que
presta serviços em terra.
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