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GESNER OLIVEIRA
Brasil melhor do que parece
O Brasil é mais competitivo
do que parece quando
comparado às estrelas do
momento, China e Índia
O BRASIL anda na zona de rebaixamento quando se classificam os países pelo critério de facilidade de realização de
negócios. É o que indica a pesquisa
do Banco Mundial na qual o país
aparece na 119ª posição em uma
amostra de 155 países.
Tais números revelam o descaso
com políticas estruturais no país. É
bem verdade que uma projeção do
investimento de longo prazo exclusivamente por tais critérios seria
excessivamente pessimista. As próprias estatísticas do Banco Mundial
mereceriam revisão que levasse em
consideração todas as regiões, conforme sugerido por estudo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Mas é possível ir mais longe. O
Brasil é mais competitivo do que
parece quando comparado às estrelas do momento, China e Índia. Há
sete fatores decisivos para o desenvolvimento nas próximas décadas
que nem sempre são levados em
conta, mas que importam para
quem deseja investir no país no longo prazo.
Em primeiro lugar, a consolidação de um regime democrático nas
últimas duas décadas é um ativo
importante. A democracia pode
tornar o processo decisório mais
complexo em certos momentos,
mas sua existência constitui mecanismo de estabilidade no longo prazo. O sistema brasileiro gera menos
problemas do que a tensão e a incerteza quanto ao futuro de uma ditadura da burocracia partidária
na China.
Em segundo lugar, e em parte devido ao próprio regime democrático, a sociedade civil brasileira é ativa. A rápida adaptação ao apagão de
2001, a resistência heróica à escalada da criminalidade urbana e rural,
a oposição ao aumento abusivo da
carga tributária pelo Estado e a disseminação do voluntariado são alguns dos exemplos nesse sentido.
Em terceiro lugar, o empreendedorismo é particularmente forte
em todas as camadas sociais. Segundo estudo da London Business
School e do Babson College, o Brasil
está em quinto lugar na lista de países com maior percentual de empreendedores estabelecidos na população. E em sétimo lugar quando
são considerados os chamados empreendedores iniciais, isto é, aqueles que têm até 42 meses de existência. Chama a atenção o fato de a cultura empreendedora estar disseminada em todas as regiões e camadas
sociais. Não há "ilhas de capitalismo", como na China e na Índia.
Em quarto lugar, o país oferece
notável homogeneidade cultural.
Abstraídos certos regionalismos, o
português é falado no país inteiro e
não há dialetos. Na China, além do
mandarim como língua oficial, há
nada menos do que 53 idiomas nacionais e mais de cem dialetos! Na
Índia, há 16 línguas oficiais e 844
dialetos!
Em quinto lugar, o Brasil possui
posição privilegiada em dotação de
insumos energéticos e recursos naturais, além de tecnologias relativamente amigáveis do ponto de vista
ambiental, como no caso do álcool.
Não é pouco em um planeta cuja
matriz energética é motivo de tanta
tensão. Acrescente-se a isso a proximidade geográfica e a conveniência
de fuso horário para acesso aos
maiores mercados do mundo.
Em sexto lugar, e apesar das inúmeras lacunas, comparativamente
à Índia e à China, o Brasil vem desenvolvendo conjunto de regras
mais adequadas ao investimento.
Embora longe do ideal, comparativamente àqueles países, o Brasil
tem legislações de concorrência e
regulação dos mercados, propriedade intelectual, falências e investimento direto mais adequadas a uma
moderna economia de mercado. Isso é verdadeiro mesmo com o retrocesso ocorrido nos últimos quatro
anos em razão da situação de penúria e de marginalização a que têm sido submetidas as agências
reguladoras.
Em sétimo lugar, o difícil processo
de migrações internas em massa
que acompanha a industrialização já
ocorreu no Brasil, com todas as tensões sociais daí decorrentes. O Brasil
é hoje uma sociedade urbana, com
apenas 16% da população no campo.
Esse percentual é de 71% e 60% na
Índia e na China, respectivamente.
Os fatores mencionados acima
não são fruto de políticas governamentais. Alguns deles ocorrem apesar do governo. São atributos e ativos nacionais que podem, se bem
aproveitados, servir de base para o
desenvolvimento do país nas próximas décadas.
GESNER OLIVEIRA , 50, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-EAESP,
presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia e
ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
@ - gesner@fgvsp.br
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