São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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Acidentes ameaçam preços de seguro

Grandes desastres ocorreram quando as seguradoras esperavam queda nos valores com fim do monopólio do resseguro

Valor cobrado pelas seguradoras não cobre os sinistros de grandes riscos desde 2006, o que pode elevar o valor das apólices

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Grandes acidentes como o da linha amarela do Metrô de São Paulo e os dos aviões da Gol e da TAM, além da explosão da caldeira da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), ameaçam elevar os preços dos seguros de grandes riscos no Brasil.
Esses megassinistros acontecem no momento em que a indústria brasileira de seguros mais apostava em uma queda nos preços das apólices, por conta do fim do monopólio, em janeiro, do resseguro brasileiro. Apesar disso, só o IRB pode operar no país, mas a abertura completa deve sair neste ano.
O resseguro funciona como uma espécie de seguro das seguradoras. Permite a pulverização de risco desses sinistros em um pool de empresas, geralmente estrangeiras, de modo que várias tomem uma parte do prejuízo e nenhuma quebre, por exemplo, ao cobrir um acidente aéreo -a apólice da TAM cobre danos de US$ 80 milhões à aeronave e de mais de US$ 200 milhões a terceiros.
Sem as resseguradoras, não haveria coberturas para casos como o acidente no Metrô em São Paulo, o seguro mais alto já feito no país, com cobertura de US$ 1,3 bilhão para a obra como um todo. Não pagaria o prejuízo estimado de US$ 500 milhões com a explosão de caldeira da CSN. No caso industrial, além dos danos ao equipamento, o seguro cobre o que a empresa deixou de ganhar com a interrupção da produção.
Para pagar as indenizações, as seguradoras cobram prêmios, que variam de acordo com o risco. Desde o acidente com o Boeing da Gol, no ano passado, os prêmios obtidos pelas seguradoras não cobrem os sinistros no segmento aeronáutico -no ano passado, os prêmios somaram R$ 202,92 milhões, enquanto os sinistros ficaram em R$ 367,56 milhões.
O mesmo aconteceu no segmento de grandes riscos, que cobre a CSN e o Metrô. Os prêmios arrecadados de R$ 904 milhões não cobriram os sinistros de R$ 1,25 bilhão em 2006. A história se repetirá neste ano, quando forem computados os acidentes da TAM e do Metrô.
Com 30% do mercado de grandes riscos, o Unibanco AIG fez a cobertura do acidente com o Fokker-100 da TAM, em 1996, e do de agora com o Airbus da empresa -ficou com 5% do prejuízo. Cobre ainda a obra do Metrô paulistano e a explosão da caldeira da CSN. Após o acidente, as resseguradoras estão cobrando mais para aceitar o risco da CSN. "Infelizmente, o sinistro também faz parte do negócio. Onde tiver um grande acidente, há uma grande probabilidade de o seguro ser nosso", diz Marcelo Trindade, diretor do Unibanco AIG.
A conta só fecha porque as resseguradoras internacionais, que assumem 95% dos prejuízos, bancam as perdas com os prêmios pagos em outros países. Mas, se os prêmios como um todo não pagarem os sinistros, os preços devem aumentar, como em 2002, ano seguinte aos atentados do 11 de Setembro, maior desastre aeronáutico de todos os tempos.
À época, os seguros para aviação subiram mais de 50%, e o Brasil teve de pagar os mesmos preços de empresas que sobrevoavam zonas de conflito no Oriente Médio. As resseguradoras admitiam o risco baixo do Brasil, mas afirmavam que o mercado era pequeno para justificar uma categoria à parte de seguro. Desde 2003, a forte concorrência reduz os seguros, em média, em 10% ao ano.
Desta vez, as resseguradoras não assistirão caladas ao aumento dos sinistros brasileiros sem antes trazer ao país os melhores especialistas do mundo para uma apuração minuciosa do "risco Brasil" na aviação.
"Pode ser que o acidente da TAM não tenha efeito imediato nos prêmios. Pessoalmente, acredito que as resseguradoras não vão aceitar tão facilmente dois acidentes em menos de um ano. A tendência é que comecem a atentar para o risco de voar no Brasil. Esses acidentes exigem uma grande capacidade de resseguro", diz João Barbará, diretor da corretora de resseguros Heath Lambert.

Rebaixamento
Numa situação extrema, os dois acidentes aéreos podem motivar um rebaixamento da classificação do Brasil, país tido pela Oaci (Organização de Aviação Civil Internacional) como um dos mais seguros para voar. "Se a segurança do Brasil for rebaixada, o seguro subirá 10% e também haverá mais exigências para operação de vôos. Vendo a confusão que está aí, não está longe de isso acontecer", diz Gustavo Mello, da corretora Correcta, especializada em seguro aeronáutico.
"Ainda é cedo para saber se os preços dos seguros vão subir. Vai depender do prejuízo das resseguradoras com acidentes aéreos em todo o mundo, e não só no Brasil. Neste ano, tivemos entre quatro e cinco acidentes graves. As apólices só vão subir se o total de prêmios não cobrir os prejuízos", diz Abigail Milhorait, coordenadora de seguro aeronáutico da Mapfre.
Mesmo assim o mercado prevê uma melhora significativa com a abertura do resseguro. A expectativa é que o setor de seguros dobre até 2011. "Com a abertura, as empresas de resseguros exigirão muito mais informações das seguradoras, significando maior transparência. Virão novos produtos e uma nova mentalidade para fazer negócios. Infelizmente, o grande marketing do seguro está no próprio sinistro", diz Walter Polido, diretor da resseguradora alemã Munich Re.


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