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Acidentes ameaçam preços de seguro
Grandes desastres ocorreram quando as seguradoras esperavam queda nos valores com fim do monopólio do resseguro
Valor cobrado pelas
seguradoras não cobre os
sinistros de grandes riscos
desde 2006, o que pode
elevar o valor das apólices
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Grandes acidentes como o da
linha amarela do Metrô de São
Paulo e os dos aviões da Gol e da
TAM, além da explosão da caldeira da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), ameaçam
elevar os preços dos seguros de
grandes riscos no Brasil.
Esses megassinistros acontecem no momento em que a indústria brasileira de seguros
mais apostava em uma queda
nos preços das apólices, por
conta do fim do monopólio, em
janeiro, do resseguro brasileiro. Apesar disso, só o IRB pode
operar no país, mas a abertura
completa deve sair neste ano.
O resseguro funciona como
uma espécie de seguro das seguradoras. Permite a pulverização de risco desses sinistros em
um pool de empresas, geralmente estrangeiras, de modo
que várias tomem uma parte do
prejuízo e nenhuma quebre,
por exemplo, ao cobrir um acidente aéreo -a apólice da TAM
cobre danos de US$ 80 milhões
à aeronave e de mais de US$
200 milhões a terceiros.
Sem as resseguradoras, não
haveria coberturas para casos
como o acidente no Metrô em
São Paulo, o seguro mais alto já
feito no país, com cobertura de
US$ 1,3 bilhão para a obra como
um todo. Não pagaria o prejuízo estimado de US$ 500 milhões com a explosão de caldeira da CSN. No caso industrial,
além dos danos ao equipamento, o seguro cobre o que a empresa deixou de ganhar com a
interrupção da produção.
Para pagar as indenizações,
as seguradoras cobram prêmios, que variam de acordo
com o risco. Desde o acidente
com o Boeing da Gol, no ano
passado, os prêmios obtidos
pelas seguradoras não cobrem
os sinistros no segmento aeronáutico -no ano passado, os
prêmios somaram R$ 202,92
milhões, enquanto os sinistros
ficaram em R$ 367,56 milhões.
O mesmo aconteceu no segmento de grandes riscos, que
cobre a CSN e o Metrô. Os prêmios arrecadados de R$ 904
milhões não cobriram os sinistros de R$ 1,25 bilhão em 2006.
A história se repetirá neste ano,
quando forem computados os
acidentes da TAM e do Metrô.
Com 30% do mercado de
grandes riscos, o Unibanco AIG
fez a cobertura do acidente com
o Fokker-100 da TAM, em
1996, e do de agora com o Airbus da empresa -ficou com 5%
do prejuízo. Cobre ainda a obra
do Metrô paulistano e a explosão da caldeira da CSN. Após o
acidente, as resseguradoras estão cobrando mais para aceitar
o risco da CSN. "Infelizmente,
o sinistro também faz parte do
negócio. Onde tiver um grande
acidente, há uma grande probabilidade de o seguro ser nosso",
diz Marcelo Trindade, diretor
do Unibanco AIG.
A conta só fecha porque as
resseguradoras internacionais,
que assumem 95% dos prejuízos, bancam as perdas com os
prêmios pagos em outros países. Mas, se os prêmios como
um todo não pagarem os sinistros, os preços devem aumentar, como em 2002, ano seguinte aos atentados do 11 de Setembro, maior desastre aeronáutico de todos os tempos.
À época, os seguros para aviação subiram mais de 50%, e o
Brasil teve de pagar os mesmos
preços de empresas que sobrevoavam zonas de conflito no
Oriente Médio. As resseguradoras admitiam o risco baixo
do Brasil, mas afirmavam que o
mercado era pequeno para justificar uma categoria à parte de
seguro. Desde 2003, a forte
concorrência reduz os seguros,
em média, em 10% ao ano.
Desta vez, as resseguradoras
não assistirão caladas ao aumento dos sinistros brasileiros
sem antes trazer ao país os melhores especialistas do mundo
para uma apuração minuciosa
do "risco Brasil" na aviação.
"Pode ser que o acidente da
TAM não tenha efeito imediato
nos prêmios. Pessoalmente,
acredito que as resseguradoras
não vão aceitar tão facilmente
dois acidentes em menos de um
ano. A tendência é que comecem a atentar para o risco de
voar no Brasil. Esses acidentes
exigem uma grande capacidade
de resseguro", diz João Barbará, diretor da corretora de resseguros Heath Lambert.
Rebaixamento
Numa situação extrema, os
dois acidentes aéreos podem
motivar um rebaixamento da
classificação do Brasil, país tido
pela Oaci (Organização de
Aviação Civil Internacional)
como um dos mais seguros para voar. "Se a segurança do Brasil for rebaixada, o seguro subirá 10% e também haverá mais
exigências para operação de
vôos. Vendo a confusão que está aí, não está longe de isso
acontecer", diz Gustavo Mello,
da corretora Correcta, especializada em seguro aeronáutico.
"Ainda é cedo para saber se
os preços dos seguros vão subir.
Vai depender do prejuízo das
resseguradoras com acidentes
aéreos em todo o mundo, e não
só no Brasil. Neste ano, tivemos
entre quatro e cinco acidentes
graves. As apólices só vão subir
se o total de prêmios não cobrir
os prejuízos", diz Abigail Milhorait, coordenadora de seguro aeronáutico da Mapfre.
Mesmo assim o mercado prevê uma melhora significativa
com a abertura do resseguro. A
expectativa é que o setor de seguros dobre até 2011. "Com a
abertura, as empresas de resseguros exigirão muito mais informações das seguradoras,
significando maior transparência. Virão novos produtos e
uma nova mentalidade para fazer negócios. Infelizmente, o
grande marketing do seguro está no próprio sinistro", diz Walter Polido, diretor da resseguradora alemã Munich Re.
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