São Paulo, quarta-feira, 29 de julho de 2009

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ANÁLISE

Inadimplência mostra sinais de desaceleração

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A inadimplência alcançou recorde histórico em junho, mas já dá sinais consistentes de queda para os próximos meses, segundo analistas.
O principal indicador de virada vem dos atrasos nos pagamentos de 15 a 90 dias, que refletem as dificuldades financeiras mais recentes do consumidor brasileiro e mostram tendência clara de queda. Já a taxa de inadimplência acima de 90 dias, a mais aceita pelo setor financeiro, ainda mantém uma trajetória ascendente.
Se a tendência se confirmar, poderá abrir caminho para uma redução mais acelerada nos "spreads", a diferença entre taxas de juros captados e repassados ao consumidor, como afirmou o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, em entrevista à Folha no domingo.
No caso dos consumidores pessoas físicas, os atrasos de menos de 90 dias recuam com força no cheque especial -de 5,5% do total da carteira em abril para 5,1% em maio e 4,9% em junho. O financiamento de bens de consumo, como eletrodomésticos e móveis, teve queda nos atrasos da ordem de 10% (abril) para 8,2% (junho).
Na visão do mercado de crédito, essa tendência de calote menor no curto prazo deverá chegar nos próximos meses ao longo prazo, reduzindo as perdas e a necessidade dos bancos de fazerem provisões altas para devedores duvidosos.
Segundo Otto Nogami, professor de finanças do Insper (ex-Ibmec-SP), a inadimplência hoje acima de 90 dias mostra a situação do consumidor que "quebrou" até fevereiro, quando as empresas reduziram o quadro de funcionários e frearam os investimentos.
"O indivíduo tinha uma linha de crédito aberta, presumivelmente perdeu o emprego e começou a recorrer ao cheque especial e ao cartão de crédito. A recompensa que ele teve ao ser desligado da empresa acabou e forçosamente deixou de pagar as contas. Mas a economia se recuperou, muitos voltaram a ter emprego. Dada a retomada da normalidade, essa inadimplência de 15 a 90 dias começou a cair", disse Nogami.

Veículos
Com exceção dos financiamentos de veículos, cujos pagamentos em atraso acima de 90 dias ainda crescem (passaram de 5,3% para 5,5% de maio para junho), todas as demais linhas de crédito para pessoa física -cheque especial, crédito pessoal, financiamento de eletrodomésticos etc.- já apresentam taxas declinantes de inadimplência acima de 90 dias.
Mesmo no caso de veículos, os pagamentos em atraso entre 15 dias e 90 dias tiveram recuo, de 9,2% (abril) para 8,9% (maio) e 8,8% (junho).
"Pode ser que haja uma massa importante de financiamentos de veículos em atraso. Certamente são antigos, feitos ao longo de 2007 e que hoje estariam dando problema. Mas é positivo o fato de os atrasos de 15 a 90 dias para veículos já estarem se reduzindo. É um sinal de que não é nada explosivo", disse Bruno Rocha, analista de crédito da Tendências Consultoria.
Para Rocha, os dados divulgados ontem pelo BC mostram que a inadimplência chegou próximo do pico pelo menos no crédito para pessoa física. A preocupação agora é com os atrasos nos pagamentos feitos pelas empresas, setor em que o crédito ainda não voltou aos patamares anteriores à crise.
Como um todo, a inadimplência acima de 90 dias para pessoa física saltou de 3,2% para 3,4% de maio para junho. Já os atrasos de 15 a 90 dias tiveram queda de 2,7% para 2,3%, sinalizando recuperação.
"Talvez cresça um pouco mais a inadimplência para pessoa física, mas a gente está chegando próximo do pico. Para pessoa jurídica [o recuo], ainda deve demorar mais um pouco."


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