|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Inadimplência mostra sinais de desaceleração
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A inadimplência alcançou recorde histórico em junho, mas
já dá sinais consistentes de
queda para os próximos meses,
segundo analistas.
O principal indicador de virada vem dos atrasos nos pagamentos de 15 a 90 dias, que refletem as dificuldades financeiras mais recentes do consumidor brasileiro e mostram tendência clara de queda. Já a taxa de inadimplência acima de 90
dias, a mais aceita pelo setor financeiro, ainda mantém uma
trajetória ascendente.
Se a tendência se confirmar,
poderá abrir caminho para
uma redução mais acelerada
nos "spreads", a diferença entre taxas de juros captados e repassados ao consumidor, como
afirmou o presidente do Itaú
Unibanco, Roberto Setubal, em
entrevista à Folha no domingo.
No caso dos consumidores
pessoas físicas, os atrasos de
menos de 90 dias recuam com
força no cheque especial -de
5,5% do total da carteira em
abril para 5,1% em maio e 4,9%
em junho. O financiamento de
bens de consumo, como eletrodomésticos e móveis, teve queda nos atrasos da ordem de
10% (abril) para 8,2% (junho).
Na visão do mercado de crédito, essa tendência de calote
menor no curto prazo deverá
chegar nos próximos meses ao
longo prazo, reduzindo as perdas e a necessidade dos bancos
de fazerem provisões altas para
devedores duvidosos.
Segundo Otto Nogami, professor de finanças do Insper
(ex-Ibmec-SP), a inadimplência hoje acima de 90 dias mostra a situação do consumidor
que "quebrou" até fevereiro,
quando as empresas reduziram
o quadro de funcionários e
frearam os investimentos.
"O indivíduo tinha uma linha
de crédito aberta, presumivelmente perdeu o emprego e começou a recorrer ao cheque especial e ao cartão de crédito. A
recompensa que ele teve ao ser
desligado da empresa acabou e
forçosamente deixou de pagar
as contas. Mas a economia se
recuperou, muitos voltaram a
ter emprego. Dada a retomada
da normalidade, essa inadimplência de 15 a 90 dias começou
a cair", disse Nogami.
Veículos
Com exceção dos financiamentos de veículos, cujos pagamentos em atraso acima de 90
dias ainda crescem (passaram
de 5,3% para 5,5% de maio para
junho), todas as demais linhas
de crédito para pessoa física
-cheque especial, crédito pessoal, financiamento de eletrodomésticos etc.- já apresentam taxas declinantes de inadimplência acima de 90 dias.
Mesmo no caso de veículos,
os pagamentos em atraso entre
15 dias e 90 dias tiveram recuo,
de 9,2% (abril) para 8,9%
(maio) e 8,8% (junho).
"Pode ser que haja uma massa importante de financiamentos de veículos em atraso. Certamente são antigos, feitos ao
longo de 2007 e que hoje estariam dando problema. Mas é
positivo o fato de os atrasos de
15 a 90 dias para veículos já estarem se reduzindo. É um sinal
de que não é nada explosivo",
disse Bruno Rocha, analista de
crédito da Tendências Consultoria.
Para Rocha, os dados divulgados ontem pelo BC mostram
que a inadimplência chegou
próximo do pico pelo menos no
crédito para pessoa física. A
preocupação agora é com os
atrasos nos pagamentos feitos
pelas empresas, setor em que o
crédito ainda não voltou aos
patamares anteriores à crise.
Como um todo, a inadimplência acima de 90 dias para
pessoa física saltou de 3,2% para 3,4% de maio para junho. Já
os atrasos de 15 a 90 dias tiveram queda de 2,7% para 2,3%,
sinalizando recuperação.
"Talvez cresça um pouco
mais a inadimplência para pessoa física, mas a gente está chegando próximo do pico. Para
pessoa jurídica [o recuo], ainda
deve demorar mais um pouco."
Texto Anterior: Banco público força elevação do crédito Próximo Texto: Microcrédito chega a favelas do Rio Índice
|