São Paulo, quarta-feira, 29 de julho de 2009

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Microcrédito chega a favelas do Rio

Banco do Nordeste, que opera o principal programa do gênero, quer captar 50 mil novos clientes nas comunidades

Grandes bancos, porém, ainda evitam esse mercado por avaliarem que o risco de inadimplência é alto e a remuneração é reduzida

Fernando Donasci/Folha Imagem
O carioca Manoel de Lima Francisco, 42, que usou o microcrédito para montar uma banca na entrada da favela Nova Holanda; 5 favelas no Rio têm acesso ao programa

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Responsável pelo principal programa de microcrédito produtivo do país, o BNB (Banco do Nordeste) expandiu sua área de atuação e, por meio de uma parceria com a organização VivaCred, chegou a cinco favelas cariocas -as primeiras em uma capital do Sudeste.
A expectativa é que, em dois anos, os postos instalados nas comunidades de Rio das Pedras, Rocinha, Inhoaíba, Maré e Dona Marta respondam, com a unidade no bairro da Glória, pela captação de 50 mil novos clientes -na maioria microempreendedores informais que costumam ficar de fora do mercado de crédito.
Além de outras comunidades cariocas, a estratégia de expansão do BNB engloba cidades da Baixada Fluminense, do Centro-Oeste e do Espírito Santo, segundo o superintendente de Microfinança Urbana e Micro e Pequena Empresa do banco, Stélio Gama.
"O mercado brasileiro é muito promissor. Estima-se que existam hoje mais de 10 milhões de pessoas na informalidade", diz.
O filão, porém, ainda não atraiu os grandes bancos comerciais, que, desde 2003, são obrigados por lei a destinar 2% dos depósitos à vista para operações de microcrédito de consumo ou produtivo. Muitos preferem deixar o dinheiro parado no Banco Central, sem nenhuma remuneração, a emprestar para a baixa renda. Em junho, o volume de recursos nessa situação chegava a R$ 1,263 bilhão, enquanto a carteira era de R$ 1,394 bilhão.
O assessor sênior da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) Ademiro Vian atribui essa situação ao alto risco de inadimplência, ao teto de 4% de juros ao mês e ao pequeno valor dos empréstimos.
"As regras são tão engessadas que os bancos acabam por deixar o dinheiro no Banco Central. O bom senso os leva a preservar o capital", diz.
Para o economista Marcelo Neri, do núcleo de políticas sociais da FGV (Fundação Getulio Vargas), o sistema financeiro ainda não "acordou" para o potencial do microcrédito. Segundo ele, que fez uma pesquisa sobre o CrediAmigo, como é chamado o programa de microcrédito do BNB, ao final de 2008 o lucro dos clientes tinha subido, em média, 42% desde a tomada do empréstimo.
"As empresas perceberam o potencial de consumo das classes C e D, mas ainda falta uma mudança de mentalidade que permita ver essas pessoas também como produtores", diz. "Nem mesmo os bancos federais têm essa cultura do microcrédito produtivo."
Banco do Brasil e Caixa, apesar de terem iniciativas voltadas para a área, ainda realizam principalmente operações de financiamento do consumo.
"Nossa exigibilidade em junho era de R$ 740 milhões, dos quais R$ 630 milhões estavam aplicados. Temos mantido esse percentual na faixa dos 90%. O grande desafio é transformar isso em microcrédito produtivo", diz Benilton da Cunha, gerente-executivo da Diretoria de Menor Renda do BB.
O superintendente do Real Microcrédito, Jerônimo Ramos, afirma que, no caso do microcrédito voltado para a produção, o contato próximo com o cliente é fundamental. A empresa, criada em 2002 como um braço do banco Real, conta hoje com 100 mil clientes ativos e uma carteira de R$ 105 milhões -menor apenas que a do BNB, que chega a 463 mil clientes e R$ 400 milhões.
Ele atribui parte do sucesso à atuação dos agentes de crédito. "Eles vão até o local de trabalho do empreendedor, avaliam seu negócio e ajudam a definir a necessidade de crédito", diz.


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