São Paulo, quarta-feira, 29 de julho de 2009

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Operação ultrarrápida de ações é investigada

Comissão dos EUA analisa se operações de alta frequência, em que ordens duram milissegundos, são válidas

MICHAEL MACKENZIE
DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA YORK

O mundo das transações de ações de alta frequência está sob investigação da Securities and Exchange Commission (SEC, órgão que fiscaliza e regulamenta o mercado de valores mobiliários dos Estados Unidos), devido a preocupações quanto à possibilidade de que essas velozes operações controladas por computadores estejam colocando em desvantagem os investidores desprovidos desse tipo de tecnologia.
Os volumes de transações gerados por computadores que realizam ordens ultrarrápidas, com velocidades de execução da ordem dos milissegundos, para gerar negócios dispararam nos últimos meses.
A consultoria Tabb Group recentemente estimou que as operações de alta frequência respondam por até 73% do volume diário de transações com ações nos Estados Unidos, ante 30% em 2005.
O Tabb estima que esses investidores, entre os quais alguns dos maiores são fundos de hedge, representem cerca de 2%, ou 20 mil, das empresas que negociam nos mercados dos Estados Unidos.
O avanço do método é consequência de três tendências nas transações de ações: a introdução de plataformas eletrônicas operadas pelas Bolsas Nasdaq OMX e NYSE Euronext; o crescimento nas "redes de comunicação eletrônicas", lideradas pela Direct Edge e BATS; e a crescente popularidade dos foros anônimos de negociação, conhecidos como "dark pools", que operam fora do mercado convencional.
As transações eletrônicas reduziram os custos de negociar ações para os investidores de varejo e institucionais.
Mas com o fim dos velhos corretores de pregão e das empresas que tradicionalmente formavam os mercados, os novos agentes de investimento de alta frequência, que incluem mesas de operações de bancos de investimentos equipados com tecnologia exclusiva, se tornaram os principais fornecedores de liquidez para o mercado de ações dos EUA.
Até mesmo na Europa as transações eletrônicas ultrarrápidas ganharam impulso depois das reformas na regulamentação de derivativos financeiros aprovadas pela Comissão Europeia dois anos atrás.
Elas facilitaram a chegada de plataformas como a Chi-X Europe, Turquoise e de uma divisão europeia da BATS.
As estratégias de transação de alta frequência têm por objetivo extrair frações de lucro negociando pequenos números de ações de diferentes empresas, entre diferentes plataformas de transação, e a velocidades muito elevadas. Esse ritmo de operação é conhecido como "latência" e requer constante atualização dos computadores.
"Os operadores de alta frequência são na prática os formadores do mercado agora", disse Stephen Ehrlich, presidente-executivo da Lightspeed Financial, que fornece tecnologia e serviços de corretagem a operadores de alta frequência.

Preços artificiais
Mas o crescente domínio das transações de alta frequência tem seus críticos. Neste mês, Sal Arnuk e Joseph Daluzzi, da Themis Trading, despertaram alarme com um estudo sobre "por que os investidores institucionais deveriam se preocupar com os operadores de alta frequência".
Eles e outros críticos apontam para o fato de que as transações de alta frequência, que vêm sendo ativamente cortejadas nas grandes Bolsas norte-americanas, levam os investidores de varejo e institucionais a correr atrás de preços artificiais e elevam a volatilidade.
As Bolsas pagam pequenas comissões aos operadores ativos, em geral 0,25 centavo de dólar por ação, as chamadas "comissões de liquidez". Isso, diz a Themis, inspirou transações cujo único objetivo é capturar as comissões de uma Bolsa, não importa o lucro que a transação em si propicie. A prática força a movimentação de preços e pode levar outros investidores a pagar mais por uma ação, à medida que a liquidez é sugada do mercado.
"A cultura do mercado de ações vem sendo a de que aqueles que fornecem liquidez recebem pagamento, enquanto aqueles que a utilizam pagam por isso", disse Joe Mecane, vice-presidente de administração de ações norte-americanas na NYSE Euronext. "Isso oferece um incentivo àqueles que fornecem liquidez."
Mas as dúvidas quanto ao valor das empresas de alta frequência compeliram a Bolsa de Valores de Londres a abandonar o pagamento de comissões, neste mês, devido a preocupações com a possibilidade de que, com isso, a instituição estivesse alienando seus principais clientes, os bancos que canalizam ordens de administradores de ativos e fundos.
Além das comissões, outra questão crucial é a prática conhecida como "flashing prices", que permite que formadores de mercado ou investidores descubram a que preço outros agentes de mercado estão dispostos a comprar ou vender ações. A prática é amplamente utilizada pelos operadores de alta frequência, e é permitida nos sistemas BATS, Direct Edge e Nasdaq OMX.
O senador Charles Schumer, um dos líderes democratas no Comitê Bancário do Senado, diz que a prática cria um mercado em dois escalões que coloca os investidores de varejo e institucionais em desvantagem, e ele deseja que a SEC a proíba prontamente.
Em resposta, a SEC afirmou que estava "examinando especificamente a questão das ordens "flash", de maneira a garantir a melhor execução e acesso justo a informações para todos os investidores".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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