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Operação ultrarrápida de ações é investigada
Comissão dos EUA analisa se operações de alta frequência, em que ordens duram milissegundos, são válidas
MICHAEL MACKENZIE
DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA YORK
O mundo das transações de
ações de alta frequência está
sob investigação da Securities
and Exchange Commission
(SEC, órgão que fiscaliza e regulamenta o mercado de valores mobiliários dos Estados
Unidos), devido a preocupações quanto à possibilidade de
que essas velozes operações
controladas por computadores
estejam colocando em desvantagem os investidores desprovidos desse tipo de tecnologia.
Os volumes de transações gerados por computadores que
realizam ordens ultrarrápidas,
com velocidades de execução
da ordem dos milissegundos,
para gerar negócios dispararam
nos últimos meses.
A consultoria Tabb Group recentemente estimou que as
operações de alta frequência
respondam por até 73% do volume diário de transações com
ações nos Estados Unidos, ante
30% em 2005.
O Tabb estima que esses investidores, entre os quais alguns dos maiores são fundos de
hedge, representem cerca de
2%, ou 20 mil, das empresas
que negociam nos mercados
dos Estados Unidos.
O avanço do método é consequência de três tendências nas
transações de ações: a introdução de plataformas eletrônicas
operadas pelas Bolsas Nasdaq
OMX e NYSE Euronext; o crescimento nas "redes de comunicação eletrônicas", lideradas
pela Direct Edge e BATS; e a
crescente popularidade dos foros anônimos de negociação,
conhecidos como "dark pools",
que operam fora do mercado
convencional.
As transações eletrônicas reduziram os custos de negociar
ações para os investidores de
varejo e institucionais.
Mas com o fim dos velhos
corretores de pregão e das empresas que tradicionalmente
formavam os mercados, os novos agentes de investimento de
alta frequência, que incluem
mesas de operações de bancos
de investimentos equipados
com tecnologia exclusiva, se
tornaram os principais fornecedores de liquidez para o mercado de ações dos EUA.
Até mesmo na Europa as
transações eletrônicas ultrarrápidas ganharam impulso depois das reformas na regulamentação de derivativos financeiros aprovadas pela Comissão Europeia dois anos atrás.
Elas facilitaram a chegada de
plataformas como a Chi-X Europe, Turquoise e de uma divisão europeia da BATS.
As estratégias de transação
de alta frequência têm por objetivo extrair frações de lucro
negociando pequenos números
de ações de diferentes empresas, entre diferentes plataformas de transação, e a velocidades muito elevadas. Esse ritmo
de operação é conhecido como
"latência" e requer constante
atualização dos computadores.
"Os operadores de alta frequência são na prática os formadores do mercado agora",
disse Stephen Ehrlich, presidente-executivo da Lightspeed
Financial, que fornece tecnologia e serviços de corretagem a
operadores de alta frequência.
Preços artificiais
Mas o crescente domínio das
transações de alta frequência
tem seus críticos. Neste mês,
Sal Arnuk e Joseph Daluzzi, da
Themis Trading, despertaram
alarme com um estudo sobre
"por que os investidores institucionais deveriam se preocupar com os operadores de alta
frequência".
Eles e outros críticos apontam para o fato de que as transações de alta frequência, que
vêm sendo ativamente cortejadas nas grandes Bolsas norte-americanas, levam os investidores de varejo e institucionais
a correr atrás de preços artificiais e elevam a volatilidade.
As Bolsas pagam pequenas
comissões aos operadores ativos, em geral 0,25 centavo de
dólar por ação, as chamadas
"comissões de liquidez". Isso,
diz a Themis, inspirou transações cujo único objetivo é capturar as comissões de uma Bolsa, não importa o lucro que a
transação em si propicie. A prática força a movimentação de
preços e pode levar outros investidores a pagar mais por
uma ação, à medida que a liquidez é sugada do mercado.
"A cultura do mercado de
ações vem sendo a de que aqueles que fornecem liquidez recebem pagamento, enquanto
aqueles que a utilizam pagam
por isso", disse Joe Mecane, vice-presidente de administração de ações norte-americanas
na NYSE Euronext. "Isso oferece um incentivo àqueles que
fornecem liquidez."
Mas as dúvidas quanto ao valor das empresas de alta frequência compeliram a Bolsa de
Valores de Londres a abandonar o pagamento de comissões,
neste mês, devido a preocupações com a possibilidade de
que, com isso, a instituição estivesse alienando seus principais
clientes, os bancos que canalizam ordens de administradores de ativos e fundos.
Além das comissões, outra
questão crucial é a prática conhecida como "flashing prices",
que permite que formadores de
mercado ou investidores descubram a que preço outros
agentes de mercado estão dispostos a comprar ou vender
ações. A prática é amplamente
utilizada pelos operadores de
alta frequência, e é permitida
nos sistemas BATS, Direct Edge e Nasdaq OMX.
O senador Charles Schumer,
um dos líderes democratas no
Comitê Bancário do Senado,
diz que a prática cria um mercado em dois escalões que coloca os investidores de varejo e
institucionais em desvantagem, e ele deseja que a SEC a
proíba prontamente.
Em resposta, a SEC afirmou
que estava "examinando especificamente a questão das ordens "flash", de maneira a garantir a melhor execução e
acesso justo a informações para
todos os investidores".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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